Com roteiro cheio de clichês, ‘The Silence’ fracassa como filme de horror

 em cinema e tv

Apesar do elenco esmerado, produção soa como cópia mal feita e pouco sustenta suas ideias

Mesmo após ser divulgado como uma espécie de “primo” do bem realizado Um Lugar Silenciosoou do regular Bird Box, é injusto colocar ‘The Silence‘ (O Silêncio, em tradução livre) no mesmo pacote dos citados. O filme de John R. Leonetti (responsável por Morkal Kombat: Aniquilação e Anabelle) não tem o roteiro bem construído do primeiro e nem a carga dramática necessária para que os espectadores criem alguma empatia pelos personagens — entregue pelos seus atores do segundo. Não é por falta de tentativa. Os veteranos Stanley Tucci e Miranda Otto bem que tentam, mas o roteiro de Carey e Shane Van Dyke, repleto de clichês, é uma barreira muito alta por si só. Tucci e Miranda fazem Hugh e Kelly Andrews, pais de Ally (Kiernan Shipka), uma adolescente que ficou surda após um acidente de carro e narra os acontecimentos emoff.

Baseado no best-seller de 2015 de Tim Lebbon, ‘The Silence‘ mostra como a Terra lidou com o início da devastação provocada por criaturas semelhantes a pterossauros, descobertas por “acidente” em uma caverna subterrânea nos Estados Unidos. Como o filme explica de forma exageradamente didática, a ameaça é cega, mas o mínimo de barulho traz uma horda de animais que rapidamente dilaceram suas vítimas. A família e um amigo (John Corbett, de Sex and The City), que por acaso é um exímio atirador, tomam conhecimento pelo noticiário e, acompanhados da matriarca Lynn (Kate Trotter, atriz de teatro canadense) e o cachorro Otis, dão início à luta pela sobrevivência. Como o título explica, a cahave para o sucesso está em Ally — devido a sua condição, ela sabe como lidar com adversidades.

O enredo, na teoria, conta com uma série de vertentes para explorar e poderia ir fundo em questões como meio ambiente, saúde mental, empatia e o próprio conceito de família, mas tudo é diluído em nome do susto fácil e de um amontoado de planos sem sentido para o andamento da trama. Diferente das produções a qual é comparado, ‘The Silence’ possui apenas cenas mais gráficas de morte, mas não constrói situações de suspense e nem fornece saídas lógicas para seus personagens. Em dado momento, uma espécie de culto religioso obcecado pela figura de Ally entra em cena, trazendo mais artificialidade para o todo. Leonetti não decide se seu filme é um horror (não parece por faltar comentários sociais) ou suspense (não parece por faltar…suspense), e não ajuda o elenco com os clichês excessivos que se permite rodar.

A sugestão inserida no subtexto de que talvez uma boa comunicação também se constrói no silêncio é solenemente ignorada, visto que a surdez de Ally é posta como apêndice, sendo explorada quase como mera curiosidade, o que rendeu críticas ao diretor e à atriz, que é capaz de ouvir. Há um ou outro bom momento bem conduzido aqui e ali, como a horrível sequência do metrô pouco depois do início e o drama no carro da família, mas todas as saídas se conectam em um final constrangedor, no que parece apenas uma grande tentativa da Netflix de refinar seu algoritmo para testar as produções de subgênero junto ao público ou mesmo de se perguntar o porquê do serviço de streaming ser obsessivo com filmes apocalípticos. A qualidade, nesse caso, ficou apenas no campo das ideias.

Avaliação: Ruim

John R. Leonetti

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