Teatro Dulcina reinaugura no mês da consciência negra com peça que retrata Carolina Maria de Jesus
‘Eu Amarelo’ terá curtíssima temporada (3 a 7 de novembro) com preços populares. A peça é protagonizada por Cyda Moreno, que apresenta um retrato contundente da ex-catadora de papel que virou a maior escritora negra do país do século XX
No mês da consciência negra, o Teatro Dulcina, no Centro do Rio, reinaugura com um espetáculo que retrata um ícone da literatura brasileira: Carolina Maria de Jesus. ‘Eu Amarelo‘ terá curtíssima temporada (3 a 7 de novembro) com preços populares. Aos sábados também terá transmissão ao vivo, podendo ser vista por outros espectadores em diferentes cidades e até países.
A peça é protagonizada por Cyda Moreno, que apresenta um retrato contundente da ex-catadora de papel que se transformou na maior escritora negra do país do século XX. Carolina Maria de Jesus devotava a sua vida a um propósito: seu amor à literatura que a fez tirar do lixo as palavras, e das palavras, uma forma de combater as desigualdades do mundo. Não é à toa que Carlos Drummond de Andrade a considerou “a mais necessária e visceral flor do lodo”.
O seu livro “Quarto de Despejo” serviu de base para a adaptação teatral e evidencia as inquietudes sociais e as experiências emocionais de quem vive na falta, também aponta a trajetória ímpar da escritora que deixou mais de 4.500 páginas em seus manuscritos.
O texto do espetáculo, com dramaturgia de Elissandro de Aquino, apresenta fragmentos da autora através de “Quarto de Despejo”, “Diário de Bitita“, “Casa de Alvenaria“, pesquisa biográfica e provérbios. Sua obra, que inspira Conceição Evaristo, Elisa Lucinda, entre outros, apresenta um retrato de quem vive à margem, na luta pelo pão de cada dia sem perder a fé, a coragem e o sonho que transcende e inspira.
“Carolina é um estandarte-corpo-ato-palavra-manifesto-político a apontar a cristalização de uma sociedade dialética e contrastante que precisa repensar seus valores. Também aponta nuances frente ao racismo, a desigualdade social, ao feminicídio, ao genocídio. São tantas camadas descortinadas a partir dela que não nos resta muita coisa a não ser olhar a miséria de um povo e, consequentemente, a nossa. Trazer Carolina é mostrar um Brasil que ainda precisa de ajuda”, reflete Elissandro de Aquino.
A atriz Cyda Moreno, que dá voz à Carolina, cita que “das entranhas de suas múltiplas misérias, e de seus múltiplos talentos; da sua fome de comida, de espaço, de justiça, de igualdade e de democracia, Carolina extrai poesia e lirismo para fazer ressoar as misérias do povo da favela”.
“Sua literatura repleta de erros de grafia, é peculiar, é recheada de palavras rebuscadas e profundas que reflete as inúmeras fomes do nosso povo por espaço, dignidade, reconhecimento, oportunidades e respeito à nossa identidade. Suas obras evidenciam que o racismo é cíclico e híbrido. Já estamos em outro século. Mas milhares de Carolinas ainda se encontram à margem da sociedade, nas periferias, nos subempregos, debaixo dos viadutos, nos presídios, nos hospícios e na luta diária para vencer a fome. Por isto sua voz não se cala. E ela vive. Os “quartos de despejo” triplicaram. O Brasil precisa conhecer a força de Carolina e a sua realeza”, diz a protagonista.
A peça apresenta três momentos cruciais na vida da escritora: sua estadia na favela que resultou nos diários, a ascensão literária que a tornou um fenômeno editorial de vendas e o seu esquecimento total. Quarenta anos após a sua morte, o Brasil retorna a olhar para as palavras de Carolina que profetizara: “Ninguém vai apagar as palavras que eu escrevi.”
SERVIÇO
Eu amarelo: Carolina Maria de Jesus
Datas: 3 a 7 de novembro e de 10 a 14 de novembro (quartas a domingos)
A transmissão por streaming acontecerá apenas aos sábados (6 e 13 de novembro) com ingressos a 30 reais (aovivoja.com)
Horário: 19 horas
Local: Teatro Dulcina
Endereço: R. Alcindo Guanabara, 17 – Centro, Rio de Janeiro
Telefone: (21) 2240-4879
Valor: Inteira R$ 30,00 – Meia R$ 15,00 (apresentação do carteira de vacinação com as duas doses)
Local de venda: Ingressos à venda na bilheteria do teatro
Lotação: 300 lugares
Duração: 70 minutos
Classificação: Livre