Cineasta Cacá Diegues é o novo imortal da Academia Brasileira de Letras (ABL)
Ele recebeu 22 votos de um total de 35. Cacá Diegues desbancou a escritora Conceição Evaristo, que seria a primeira mulher negra imortal e que tinha uma enorme mobilização na Internet a seu favor. Outro favorito era o historiador de arte Pedro Corrêa do Lago
O cineasta Carlos José Fontes Diegues, o Cacá Diegues, de 78 anos, foi escolhido o mais novo imortal da Academia Brasileira de Letras (ABL), na tarde desta quinta-feira. A cadeira número 7, vaga desde a morte do também cineasta Nelson Pereira dos Santos, em abril deste ano, será ocupada por um dos fundadores doCinema Novo, movimento do qual o antecessor de Cacá Diegues na ABL foi um dos precursores. Ele recebeu 22 votos de um total de 35 — 24 acadêmicos presentes e 11 por cartas. Outros três imortais não votaram por motivo de saúde.
Na disputa com 10 candidatos, Diegues deixou para trás Conceição Evaristo, escritora que seria a primeira negra mulher a se tornar imortal e que tinha uma enorme mobilização na Internet a seu favor. A autora de “Olhos D’Água”era uma das favoritas na eleição, ao lado de Cacá Diegues e do historiador de arte Pedro Corrêa do Lago.
Também integravam entre os candidatos Raul de Taunay, Remilson Soares Candeia, Francisco Regis Frota Araújo, Placidino Guerrieri Brigagão, Raquel Naveira, José Itamar Abreu Costa, José Carlos Gentili e Evangelina de Oliveira.
A cadeira 7 tem como patrono Castro Alves, o poeta que escreveu Navio Negreiro e foi uma das vozes que contra a escravidão. Ela também já pertenceu a nomes como Euclides da Cunha e teve como primeiro ocupante um dos fundadores da ABL, Valentim Magalhães.
Cacá Diegues nasceu em 19 de maio de 1940, em Maceió, mas veio ainda criança para o Rio de Janeiro, cidade que escolheu para viver. Com apenas 18 anos teve seus poemas publicados no Jornal do Brasil pelo ensaísta e crítico Mario Faustino, que o apresentou como uma revelação na poesia brasileira.
Na mesma época, participou ativamente do movimento cineclubista no Rio de Janeiro, quando se integrou à nova geração de cineastas que buscava registrar a verdadeira imagem do Brasil, no movimento que seria conhecido como Cinema Novo, sob a liderança de Nelson Pereira dos Santos.
Após fazer alguns curta-metragens, Cacá Diegues estreou profissionalmente em 1962, dirigindo um dos episódios do filme “Cinco vezes Favela”, produzido pelo Centro Popular de Cultura (CPC) da União Estadual dos Estudantes (UNE). O filme se tornaria uma das obras inaugurais do Cinema Novo.
É um dos maiores realizadores da indústria cinematográfica brasileira conhecido no mundo, com 18 filmes. A maioria deles foi selecionada por grandes festivais internacionais, como Cannes, Veneza, Berlim, Nova York e Toronto, e exibida comercialmente na Europa, nos Estados Unidos e na América Latina.
Entre os filmes do cineasta estão “Ganga Zumba” (1964), “Os herdeiros” (1969), “Joanna Francesa” (1973), “Xica da Silva” (1976), “Chuvas de verão” (1978), “Bye Bye Brasil” (1980), “Quilombo” (1984), “Um trem para as estrelas” (1987), “Tieta do Agreste” (1995), “Orfeu” (1999), “Deus é Brasileiro” (2003), “O maior amor do mundo” (2005) e agora “O grande circo místico” (2018), inspirado na obra do poeta Jorge de Lima.
Cacá também publicou alguns livros, nem sempre sobre cinema, tendo começado com “Ideias e Imagens”, de 1988. Seus livros mais recentes são “Vida de Cinema”, com mais de 600 páginas sobre o Cinema Novo, e “Todo Domingo”, uma coletânea de seus textos publicados semanalmente no jornal O Globo.
Durante a ditadura, Diegues exilou-se na Itália e depois na França, após a promulgação do Ato Institucional nº 5 , o AI-5, em 1969. Foi casado com a cantora Nara Leão, da qual se separou em 1977, 12 anos antes de ela falecer. Com ela teve dois filhos: Isabel e Francisco. Desde 1981, é casado com a produtora de cinema Renata Almeida Magalhães, com quem teve a filha Flora.
Foto em destaque de arquivo da Agência Brasil