‘Fundação’: música instrumental comunica emoções diversas em bela estreia
E a Terra Nunca Me Pareceu Tão Distante reúne influências diversas, experimentação e coesão e entrega álbum surpreendente
A música instrumental brasileira é um rico caldeirão de gêneros e estilos musicais que sempre marcou nosso cenário cultural. Hoje, o espectro é cada vez mais vasto, com nomes já estabelecidos no cenário independente e grupos de diversos estados que se destacam em festivais ou eventos dedicados à cena. A banda paulista de pós-rock E a Terra Nunca Me Parece Tão Distante vem chamando a atenção desde sua estreia em 2013 com o EP ‘Essa Deveria Ter Seu Nome, Mas Hoje Você Não Está Aqui’ e finalmente entrega seu primeiro disco cheio, ‘Fundação’.
O quarteto formado por Lucas Theodoro (guitarra), Luccas Vilella (baixo), Luden Viana (guitarra) e Rafael Jonke (bateria) não decepciona na estreia e faz um dos álbuns mais bonitos do ano (um dos adjetivos mais usados para definir um show do EATNMPTD), reunindo influências diversas e experimentações sem perder a coesão. Em 10 faixas, ‘Fundação’ passeia pelo pós-rock e o expande em momentos de calmaria e catarse e, dentro dessas duas palavras, há um sem número de sensações e sentimentos que ficam a cargo de quem ouve.
O ato de ouvir música é extremamente pessoal e se interpretar uma canção tradicional pode levar a muitos caminhos, o desafio parece mais hermético quando se trata de grupos instrumentais. No caso do ‘E a Terra…’ não é diferente, mesmo com algumas ‘pistas’ ao longo do trabalho. O disco abre com a introdução homônima e cai em ‘Karoshi’, duas músicas que se comunicam entre si pela clássica dualidade que propôe o gênero, construindo climas e desaguando em peso com muitas camadas. Nesse sentido, a produção de Gabriel Arbex contribui positivamente para dar identidade e fortalecimento ao que é comum e novo ao grupo.
‘Quando o vento cresce e parece que chove mais’ é a banda fazendo o que faz de melhor ao expor uma atmosfera quase tangível de melancolia, surpreendendo pela dinâmica entre os instrumentos ou algum elemento novo. Tal dinâmica também é presente em outras faixas mais reconhecíveis como ‘Já não ligo se der tudo errado’ carregada de ambiência nas cordas e ‘Todos os duas sua lembrança me assola, mas não importa’, marcada pela bateria sintetizada. Mas é na exploração de novos sons que o trabalho se destaca.
A força de ‘A caminho de’, que flerta com o progressivo, a jazzística ‘Se fosse assim, onde iríamos parar?’ cuja coesão surpreende por não se perder entre o tradicionalismo e a experimentação, o crescendo de ‘Daiane’, a canção mais ‘pop’ da banda traduzida na impecável ‘Como aquilo que não se repete’ (facilmente deve se tornar uma favorita nas apresentações) e a derradeira ‘Se a resposta gera dúvida, então não é a solução’, onde os integrantes repetem como uma mantra a mensagem central são exemplos de uma banda que, perdoem o clichê, tem muito a dizer.
Avaliação: ótimo