Após sucesso em novela, Orlando Caldeira faz temporada no teatro
Ator estará em três peças com temáticas distintas e comemora nova fase
Orlando Caldeira terminou, recentemente, uma bem-sucedida participação na última novela das 19h da Globo, ‘Verão 90‘. O ator, que recebeu boas críticas pelo papel de Catraca, não para. Orlando estreia a peça ‘Oboró – Masculinidades Negras’ nesta quinta-feira, no Centro do Rio, e tem outros dois projetos no palco, em agosto e outubro, respectivamente.
‘Oboró…’ apresenta a hipersexualização do corpo negro, a busca pela perfeição em troca de um lugar ao sol e os riscos de ser negro/a. Em entrevista à Pitaya Cultural, o artista falou sobre suas produções (em uma delas na direção de uma peça em parceria) e fazer televisão.
Como foi fazer ‘Verão 90’?
Foi muito gratificante e leve. Acho que a novela abordou temas sérios do período, com um requinte de profundidade e ao mesmo tempo cool. Essa profundidade não fez com que a novela deixasse de ter diversidade, com um elenco bom. A convivência com todos foi incrível, os colegas foram receptivos, a direção foi muito respeitosa. Só tenho a agradecer.
Agora você está no teatro, mas há algum projeto de fazer mais TV?
Sim, planejo fazer mais televisão. Como agora os projetos estão ligados ao teatro, quero aproveitá-los bastante. Assim como o mosquitinho da TV me picou na época da novela, agora o mosquitinho do teatro me pegou (risos).
Como você vê o papel da masculinidade negra presente em ‘Oboró..’?
Primeiro, acho que é um tema muito pouco falado. A fala que se tinha da unidade e comunidade negra era a partir de estereótipos, como a do homem negro ser uma ameaça e vários outros paradigmas. A peça veio falar sobre a humanidade do homem negro e vários questões que nos atravessaas’m, como por exemplo o racismo.
Qual dos orixás você interpreta? É seu orixá de cabeça? E como você relaciona esse papel no contexto atual?
Eu faço Oxumaré. Para mim é uma honra poder representar um orixá, ainda mais na época em que a gente vive, com tantos casos de intolerância religiosa sendo registrados. As religiões de matriz africana vêm sofrendo essa perseguição e apagamento por causa e falar sobre isso é fundamental. A experiência de interpretar Oxumaré está sendo muito rica e incrível, já que eu não conhecia muito a história desse orixá. Com a peça, pude me aprofundar e ter contato com outros pontos da religião. Eu sou filho de Ogum, então acaba que a gente se envolve mais com o orixá que nos rege, mas foi muito enriquecedor ver essa ligação entre eles.
Fale sobre os outros projetos no teatro.
Eu estreio no dia 31 de agosto um musical infantil chamado ‘Ombela – A Origem das Chuvas’, no Teatro Oi Futuro, no Flamengo. A peça é baseada no livro homônimo do poeta e escritor angolano Ondjaki. É sobre uma deusa menina e africana, que está começando a entender seus sentimentos. Em outubro eu estreio o ‘Solano’ no Sesc Tijuca, sobre as obras do poeta Solano Trindade, onde atuo e também estou na co-direção. Essa é uma parceira do coletivo Preto com a Companhia de Teatro Íntimo, baseada apenas em poemas.
Você citou este musical. Tem formação na área?
Sou formado na Escola Técnica de Teatro Martins Pena e na Escola Nacional de Circo. Na Martins Pena, eu fazia aula de canto regular, então me considero um ator cantor também.
Sobre o ‘Solano’, como aconteceu o início do projeto?
Eu já dirigi outros espetáculos do coletivo Preto e, desta vez, recebi um convite do Renato, que co-dirige o espetáculo, da Companhia de Teatro Íntimo. A ideia de dividir a direção veio dele, que é um homem branco, e achou interessante esse processo, além de que todo o elenco fosse negro. Aí, após aceitar essa convite, mergulhei nas obras do Solano Trindade e pude ver o quão modernos são os poemas dele.
O afrofuturismo, que coloca os negros em lugar de protagonismo, tem ganhado destaque no cenário cultural. Você considera algumas dessas obras afrofuturista?
Sim, acho que o ‘Solano’ tem bem essa pegada. É um projeto com parcerias inéditas e que tem muito dos conceitos do afrofuturismo. A peça fala do maracatu e, na pesquisa, a gente chegou na Nação Zumbi, que trouxe o maracatu para o cenário musical e resgatou o gênero, dando uma roupagem nova e fazendo com que ele fosse falado no Brasil inteiro. O maracatu, antes da Nação, vinha sendo apagado e esquecido. Em cima disso, a gente quer trazer no ‘Solano’ o corpo negro com o que é moderno, com o que é de vanguarda, que também é a estética do afrofuturismo.
Serviço – ‘Oboró – Masculinidades Negras’
Data: de 15 de agosto a 1 de setembro
Horários: quinta a sábado: 19h / Domingo: 18h
Local: Teatro Sesi/Firjan Centro – Avenida Graça Aranha 1, Centro
Ingressos: R$ 40 / R$ 20 (meia-entrada)
A foto que ilustra a entrevista é de Faya