Os altos e baixos do filme “Simonal”

 em cinema e tv

Longa de Leandro Domingues retrata de forma rasa a trajetória do cantor, acusado de delator na ditadura

Um dos principais cantores brasileiros dos anos 1960 e 1970, Wilson Simonal caiu no ostracismo após ser acusado de delatar artistas na ditadura militar. Sua história permaneceu obscura durante décadas, mas, nos últimos anos, uma nova geração de artistas e a própria família procuram revelar detalhes da sua trajetória e mostrar que ele não era delator. Essa também é a premissa do filme Simonal, do diretor Leandro Domingues, lançado no início de agosto.

A narrativa começa em 1975, quando começou a derrocada do cantor, e depois volta ao passado para contar toda a trajetória de Wilson Simonal (Fabrício Boliveira). O longa passa por diferentes fases importantes da carreira do artista, desde o início como assistente no estúdio de Carlos Imperial (Leandro Hassum) e a relação conturbada com a mulher Tereza (Ísis Valverde) até o episódio de tortura do contador Raphael Viviani (Bruce Gomlevsky).

No longa, o diretor acerta na caracterização de Fabrício Boliveira, que esbanja a malemolência e a pilantragem de Simonal. Assim como retratado no filme, o artista tinha voz marcante e um charme cativante, além de talento e carisma fora do comum. Os hits que embalam a trama também são positivos, como as músicas Nem vem que não tem, Mamãe passou açúcar em mim e Meu limão, meu limoeiro.

No entanto, o filme para por aí e o roteiro não aprofunda mais a história de Simonal. É difícil assistir ao longa sem comparar com o (excelente) Simonal – Ninguém sabe o duro que eu dei, lançado em 2009. Ao contrário do documentário, o filme de Domingues não mostra quem foi, de fato, o artista.

A ascensão do cantor na música foi toda construída em cima de uma representatividade para negros – antes dele, nenhum negro havia atingido tal estrelato artístico. Mas o longa resume toda essa grandeza de Simonal e o racismo sofrido por ele (do início da carreira até a queda) em pequenas cenas.

Em uma delas, ele está dando uma entrevista a um repórter, quando o jornalista questiona se não era “estranho” um negro ter três carros de luxo. Já outro momento marcante é quando o artista canta a música Tributo a Martin Luther King. De resto, o roteiro é mal feito, com cenas soltas e produzidas com muita rapidez.

A premissa do filme de retirar o rótulo de Simonal como delator do DOPS é construída de forma rasa – em alguns momentos, o espectador fica até com raiva das atitudes do cantor. A história de Wilson Simonal, renegada por décadas, merecia mais profundidade e consistência.

Avaliação: Regular

Tijucana antes de ser carioca. Jornalista de profissão, não vive sem a dança nas horas vagas. É apaixonada por livros, música, arte de rua e exposições.

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