‘Good Omens’ mistura humor com suspense sem esquecer roteiro
Minissérie da Amazon Prime diverte e tem consistência
Adaptar uma obra de Neil Gaiman pode ser desastroso. A segunda temporada de American Gods, em cartaz na Amazon Prime, é uma bomba e há uma grande expectativa (ou dúvida) sobre Sandman na Netflix. Good Omens, minissérie da mesma Amazon, é um exemplo de sucesso, porém. Em seis concisos episódios, o resultado final é bastante atraente por divertir e mostrar um roteiro azeitado, com grandes atores em papeis convincentes e uma química perfeita para o humor e um leve suspense.
A história, que adapta o livro de Gaiman com Terry Pratchett, conta a história da amizade entre o anjo Aziraphale (Michael Sheen) e o demônio Crowley (David Tennant) ao longo dos séculos. A dupla, acostumada a viver entre os humanos e ter uma vida confortável, desenvolveu uma relação especial desde que ‘ajudou’ o casal Adão e Eva e agora precisa impedir o Armagedom. A profecia diz que o filho de Satã, ao completar 11 anos, traria caos e destruição para o mundo. Uma confusão envolvendo uma troca de bebês em um convento com freiras adoradoras de Lúcifer é o ponto de partida de situações absurdas e muitas risadas.
Good Omens não seria o que é sem Sheen e Tennant. Este, que viveu o vilão Kilgrave em Jessica Jones, mostra bastante versatilidade como um demônio fanfarrão, que escuta muito Queen em seu bólido e só quer uma vida de prazeres frugais. Seu personagem se difere por apresentar mais camadas e ter um texto que foge do clichê em produções do tipo. Por sua vez, o anjo de Sheen comanda uma livraria com edições antigas e prefere se arriscar na missão com o amigo que perder seu precioso modo de vida.
Tecnicamente, a minissérie avança em relação às colegas de streaming. Há efeitos especiais decentes, que fogem do padrão um tanto precário da plataforma, e são usados com parcimônia até o grandioso episódio final. Neste ponto, a simplicidade está mesmo nos detalhes e ganha o espectador pelo roteiro honesto. No meio da cruzada de Aziraphale e Crowley, há bruxas (Adria Arjona), caçadores de bruxas (Michael McKean e Jack Whitehall), demônios (Ned Dennehy, Anna Maxwell Martin), anjos (Jon Hamm) e a encarnação do mal (Sam Taylor Young) com as aventuras entre seus amigos em uma pacata cidadezinha inglesa, com Deus (Frances McDormand) servindo de narrador.
A mensagem final é de amizade (por mais improvável que ela seja), companheirismo (há uma leve sugestão que Aziraphale e Crowley também se envolveram romanticamente) e liberdade (preste atenção no diálogo final). Good Omens não vai mudar o mundo, mas em tempos difíceis, sua quase-inocência pode comover e divertir. Na espera por uma segunda temporada que só aconteceria por milagre, ficamos com um programa bem construído e que deve servir de guia para futuras adaptações literárias ao streaming.
Avaliação: Muito Bom