‘Ad Astra – Rumo às Estrelas’ não sustenta premissa e personagens

 em cinema e tv

Longa de ficção científica de James Gray expõe a ‘superação do pai’ como caminho para a felicidade

Filmes de ficção científica, em larga medida, se sustentam no conceito de fantasia/alegoria para discutir inúmeros temas. No cinema de gênero, ao lado do cinema de horror, ocupam um posto nobre nesse contexto. ‘Ad Astra – Rumo às Estrelas‘, novo longa do diretor James Gray (Os Donos da Noite,A Imigrante) parte de um drama familiar para contar a história de Roy McBride (Brad Pitt), um astronauta devotado à profissão que agora precisa encarar seu maior medo: um possível novo encontro com seu pai (Tommy Lee Jones), desaparecido em uma viagem até Netuno anos atrás. Trocando em miúdos, Ad Astra é uma reflexão sobre relações familiares e sociais, principalmente entre pai e filho, e o impacto  da ‘superação’ do pai’ na vida.

Convocado à missão por seus superiores justamente pela frieza mesmo em situações de perigo, McBride precisa descobrir a fonte de raios cósmicos que podem extinguir a vida na Terra. Logo no começo, somos apresentados à rotina perigosa do astronauta, que se divorciou da esposa (Liv Tyler) por negligenciá-la em nome da busca pela perfeição — o sucesso máximo, ainda que ‘inconsciente’, seria superar a jornada do pai, que seguiu até onde homem nenhum jamais esteve. A premissa é interessante, mas Gray utiliza de conceitos batidos para contar a história. A temida narração em off, ainda que colocada até com certa parcimônia em comparação com outras produções, surge de quando em quando para pontuar detalhes de um roteiro apressado, especialmente no seu terço final.

Um tweet do diretor Rian Johnson (Black Mirror, Star Wars: Os Últimos Jedi) acertou na mosca ao elogiar: ‘Ad Astra – Rumo às Estrelas‘ é uma mistura de 2001: Uma Odisseia no Espaço com Apocalypse Now. As cenas envolvendo o espaço são belamente filmadas e a fotografia de Hoyte van Hoytema traz um escopo vivo para um ambiente extremamente familiar. No aspecto psicológico, das cenas que vão sendo construídas até McBride chegue ao seu destino, há incursões pelo terror (em uma parte quase surpresa) até a ação, esta destacada por uma excelente sequência em solo lunar e outra na vastidão do espaço que coloca os efeitos especiais à prova. Há acenos claros para outros pilares da ficção como o clássico Solaris (1972) até os mais recentes, como Gravidade (2013) eInterestelar (2014).

As atuações são boas, Pitt aproveita os longos closes do diretor e consegue entregar uma performance bastante honesta, fugindo do estereótipo do galã que cativa pela malandragem e inserindo algumas camadas em uma persona (levemente) perturbada. Mais interessantes são as participações dos coadjuvantes: Donald Sutherland rouba o foco nas raras vezes em que aparece e Ruth Negga, excelente, faz desejar que sua personagem tivesse mais tempo de tela. Ad Astra é um sério competidor às categorias que premiam os aspectos técnicos, mas só. A impressão que fica ao término do filme é de incompletude. Também não ajuda que a conclusão seja um tanto apressada, onde a narração em off é quase irmã da fala do astronauta, e que falte substância ao roteiro especialmente nessa parte.

Ad Astra – Rumo às Estrelas‘ exprime grandiosidade, mas há algo que soa pequeno orbitando o filme. O que era para ser uma parábola entre amor/perdão entre pai e filho (e os rumos da humanidade em segundo plano) com grande potencial, termina sendo uma conversa rasa que parece fugir de complexidades em nome do rápido entendimento e, tristemente, de uma satisfação que não existe.

Avaliação: Regular

 

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