‘Crip Camp’ é uma aula anticapacitismo
Documentário da Netflix traz visão da pessoa com deficiência e como a inclusão transforma vidas
Produzido pela Higher Ground, do casal Barack e Michelle Obama, Crip Camp: Revolução Pela Inclusão traz memórias de um acampamento para pessoas com deficiência em plenos anos 1970, marcados pelas lutas pelos direitos civis.
O grande diferencial do documentário é a direção de James Lebrecht, que é cadeirante, dividindo seu lugar de fala com os entrevistados, que testemunham abertamente, muitas vezes de forma bem humorada, de experiências mais pessoais, como a vida amorosa e sexual e a batalha por uma vaga de trabalho.
Antes de tudo, o tom despretensioso do filme, abandonando o didatismo piegas e vitimista das produções do gênero, dá uma verdadeira lição contra o capacitismo. Para quem não sabe, trata-se do preconceito contra a pessoa com deficiência e a premissa de que essas não são capazes de terem uma vida “normal”. As filmagens do acampamento Jened, em uma área montanhosa do estado de Nova York, registram provas de como o anticapacitismo é revolucionário. Os vídeos da época, mesclados aos depoimentos atuais contextualizam uma luta que não começou hoje.
O clima de Woodstock, aliados à alegria e à informalidade de Lebretch não deixam de ressaltar o sofrimento dos acampados, em relação a todas as hostilidades que a desigualdade impõe, mas também transforma o doc em uma espécie de manifesto pela alegria, inclusão e qualidade de vida. Do Jened, saíram nomes que militam até hoje pela acessibilidade e inclusão.
Em um momento em que se avançam as discussões contra a LGBTfobia, o racismo, o machismo e outras formas de opressão, incluir a pauta anticapacitista na discussão é urgente para tirar as pessoas com deficiência da invisibilidade que a sociedade impõe. E isso, como mostra o filme, não é feito de forma passiva. Crip Camp é uma oportunidade bem executada e inspiradora de avançar.
Avaliação: Muito bom