Suricato revisita memórias musicais em quarto álbum solo
Artista expõe intimidade do pagode à MPB munido de sutilezas
Multi-instrumentista, Suricato precisou apenas da guitarra para conceber seu novo disco, com nome bem sugestivo: Suricateando. Trazendo apenas sete faixas, o novo trabalho é uma imersão nas memórias musicais do artista, recheado de sucessos das rádios FM dos anos 1980 e 1990.
Despido de preconceitos que acompanham muitos artistas do rock, o atual vocalista do Barão Vermelho já abre o jogo com “Deslizes”, da dupla Michael Sullivan e Paulo Massadas, em parceria com Miguel Plopschi, imortalizada na voz de Fagner. Os três seguem representados pelo hoje clássico sertanejo “Talismã”, gravado pela dupla Leandro & Leonardo. Sobre a primeira, Sullivan foi só elogios: “de modo suave você sacode o mundo”.
Rodrigo parece estar bem à vontade, na sala de casa e vivendo a nostalgia de seu jeito próprio, deixando de lado qualquer recurso de afinação ou andamento. Em sua memória, tanto Roupa Nova quanto Jimi Hendrix têm lugar cativo na sua formação musical. “Todas essas canções são a trilha sonora das principais famílias que conheço, por isso levo-as muito a sério. É um presente para que meus amigos ouçam em casa”.
Sim, um roqueiro pode gostar de Raça Negra – e do que ele quiser, como ele mostra em “Cigana” (Gabu) e seus versos na ponta da língua de toda uma geração. E é o Roupa Nova que vem em sequência com “Volta pra mim” (Cleberson Horsth / Ricardo Feghali), como quem conta suas origens. O samba desconstroi-se em “Insensato destino” (Acyr Marques / Chiquinho Virgula / Mauricio Lins), um dos maiores sucessos da carreira do saudoso Almir Guineto.
Mais ligada à estética habitual do artista, “Um Pequeno Imprevisto” é uma parceria de Herbert Vianna e Theddy Corrêa gravada por ambas as bandas: Os Paralamas do Sucesso, no ótimo “9 Luas”, e Nenhum de Nós. “Trocaram os nomes das ruas / E as pessoas tinham outras caras” vem bem a calhar em tempos tão imprevisíveis. Fechando com graciosidade, “Faltando um pedaço”, de Djavan, ganha versão instrumental delicada e introspectiva.
Na capa do disco, um Rodrigo com sua primeira guitarra – uma raquete de plástico – ilustra a proposta, ao mesmo tempo despretensiosa e carinhosa com o passado. Suricateando foi produzido pelo próprio e masterizado em fita analógica. Ele garante: “Suricato é minha liberdade. Um projeto com fases. Preciso me divertir nele”.
Avaliação: Bom