Primeiro festival de pole dance e arte pretende quebrar preconceitos e democratizar modalidade
Dança, sensualidade, acrobacias, esporte e até mesmo yoga. Todos esses estilos estão reunidos no pole dance, modalidade que conquista cada vez mais adeptos no Brasil e no mundo. Apesar da versatilidade, a atividade ainda é marcada pelo estigma dos passos sensuais. Para tentar quebrar o preconceito, praticantes, artistas independentes e pole dancers campeãs de competições nacionais participarão no Rio Pole Fest, entre os dias 30 de março e 1º de abril, no Teatro Cacilda Becker, no Catete, Zona Sul do Rio.
Esse é o primeiro evento de pole dance e arte realizado no estado. Idealizadoras do projeto, Ana Limy e Monica Loppi destacam que o principal objetivo do festival é difundir e democratizar a modalidade. “Queremos mostrar como o pole dance é uma arte democrática e que qualquer pessoa pode praticar. Queremos ainda quebrar os preconceitos e paradigmas que nossa modalidade enfrenta. Vamos mostrar vários estilos do pole em um único palco, desde o sensual, até o contemporâneo e acrobático”, explicam as organizadoras, em entrevista ao Sapoti Cultural, por e-mail. À frente do projeto, Ana é dona do Copa Pole Studio e pratica a dança há cinco anos. Já Monica está no pole há três anos.
Ao todo, o evento reunirá 60 apresentações com dançarinas convidadas e também praticantes que se inscreveram por meio de um formulário online. Entre as participantes do Rio Pole Fest estão a presidente da Federação Brasileira de Pole Dance, Vanessa Costa, e duas das donas do Pin Up Pole Studio, Fernanda Figueira e Carolina Martins. “Ficamos muito felizes. Tivemos inscrições de pessoas de várias cidades do Brasil e acreditamos que faremos um belo espetáculo”, enfatizam as idealizadoras do evento.
Pole dance e o preconceito
A origem do pole dance está ligada principalmente a três lugares: Índia, França e Estados Unidos. No primeiro país, a modalidade é relacionada à prática do Mallakhamb (homem de força), uma espécie de yoga praticada em um poste de madeira com cordas. Ginástica tradicionalmente indiana, a atividade reúne movimentos de força, flexibilidade e equilíbrio. Qualquer pessoa pode praticar o Mallakhamb, até mesmo crianças.
O pole também tem influências do estilo burlesco, que surgiu no século 17. Fundada em 1889, em Paris, na França, a casa de shows Moulin Rouge contribuiu para que a atividade se tornasse mais sensual. Mas apenas entre os anos 1920 e 1930, a dança ganhou mais espaço em feiras e casas noturnas norte-americanas.
Por causa desse histórico de perfomances sensualizadas, o pole ficou estereotipado como um movimento realizado em boates. No entanto, as praticantes enfatizam que a prática vai além da sensualidade. Para Ana e Monica, a dança é uma atividade física que permite o aumento da autoestima da mulher. “É uma ferramenta de empoderamento feminino. Nas aulas, as alunas enfrentam medos, se descobrem e superam a pressão da sociedade quanto ao corpo perfeito”, explicam.
Fernanda Figueira, do Pin Up Pole Studio, reforça que as pole dancers superam os limites do corpo. Ela pratica a dança há sete anos e conta que explora o lado sensual nas aulas que dá no estúdio. A estudante de Educação Física lembra que o preconceito existe de várias formas, inclusive de praticantes que fazem uma modalidade e não concordam com os outros tipos.
“Existe muito preconceito e eu sinto isso na prática ao ouvir relatos de alunos. O preconceito existe especialmente pelo fato do pole ser atrelado ao lado sensual. O que para mim não é problema algum. Eu inclusive gosto mais do sensual. Existe ainda o preconceito em relação a homens que fazem pole. Homem pode fazer? Como ‘tem que ser’ esse pole feito por meninos? Sinceramente, acredito que deve ser como eles quiserem. Pole dance já é uma prática marginalizada, então devemos buscar uma quebra de barreiras. Tem que ser uma prática de liberdade, uma forma de expressão, um espaço onde possamos ser quem quisermos”, enfatiza.
Carolina Martins, sócia de Fernanda e estudante de Psicologia, explica que o pole é uma atividade em construção no Brasil e no mundo. Ela lembra ainda que existe um movimento que procura reconhecer a prática como esporte. Já outros grupos denominam o pole como dança e arte. Segundo Carolina, o preconceito contra o pole também está relacionado ao machismo presente na sociedade.
“Existe uma grande variedade para todos os gostos e formas de expressão. O que devemos evitar é a legitimação da atividade por meio da perpetuação do estigma sobre as mulheres enquanto seres sexuais. Para que a atividade seja legitimada, não é preciso negar a vertente sensual. O preconceito que paira sobre a atividade é reflexo da nossa sociedade machista. O pole já foi e ainda é uma prática dos clubes de strip tease voltados para o público masculino. O problema está em como a sociedade enxerga esses strippers”, explica.
Serviço – Rio Pole Fest
Local: Teatro Cacilda Becker, Rua do Catete, 338, Catete. Telefone: 2265-9933
Sexta, 3o, e sábado, 31 de março: Abertura da casa: 17h / Início do espetáculo: 19h
Domingo, 1º de abril:Abertura da casa: 16h / Início: 19h
Ingressos à venda
Valor: R$ 70 / Meia: R$ 35
Meia solidária: R$ 35 com a doação de 1 kg de alimento não perecível na entrada do festival.
Classificação etária: Livre