Rolé Carioca democratiza e preserva a memória da cidade e seus bairros
Passeios guiados por historiadores contam história da cidade através de seus bairros. Neste domingo (30), o Rolé Carioca acontece no Jardim Botânico, que fundação remonta da chegada da família real ao Brasil
Com o objetivo de preservar a memória da cidade e seus bairros junto aos moradores e difundir a história tanto para eles quanto para turistas, o Rolé Carioca percorre ruas do Rio mostrando que cada esquina tem um pouco para contar. Em passeios realizados a pé, os guias-historiadores seguem um roteiro de imersão sobre a região explorada, através de informações sobre a identidade cultural local. E o melhor: tudo de graça! Neste domingo, dia 30, o “rolé” será no Jardim Botânico, na Zona Sul do Rio.
A ideia surgiu através de uma amostra realizada em 2010, a “A Voz do Povo”, do estúdio M’Baraká, quando intervenções urbanas em aparelhos culturais do Rio foram criadas para divulgar e popularizar histórias curiosas e desconhecidas da cidade.
O Rolé Carioca acontece a partir de pesquisas elaboradas pelos historiadores Rodrigo Rainha e Willian Martins, e já acontece há cinco anos, com mais de 150 quilômetros percorridos na cidade, através de aulas-show que prendem a atenção dos guiados. Os passeios trazem o conhecimento da academia com uma linguagem fácil e acessível. E claro, ocupando a rua.
“Sempre brinco que a ideia de público no Brasil é diferente da noção romana da construção tradicional. Se lá o público era o espaço do coletivo, o Brasil bebe nessa nossa tradição escravista, patriarcal, conservadora, onde o público é o espaço de ninguém, maltratado, abusado, o que fragiliza a figura dos próprios cidadãos que ficam vinculados a essa imagem. Romper com isso é levar a universidade para a rua, levar o conhecimento para rua, disponibilizar para qualquer um”, disse ao Pitaya Culturalo professor Rodrigo Rainha, doutor em História Medieval, que gestor nacional de cursos de Educação da Estácio e docente na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj).
Próximo rolé será no Jardim Botânico
Neste domingo, o Rolé será no Jardim Botânico, fundado em 1808, meses após a chegada da família real portuguesa ao Brasil. Hoje é uma das áreas verdes mais preservadas da cidade e seu acervo botânico possui mais de 6.500 espécies, algumas delas ameaçadas de extinção. O passeio começa às 9h e algumas gratuidades serão distribuídas no ponto de encontro, no Jóckey Clube – chegue antes, a gratuidade é limitada, mas não há limite de participante. Quem não conseguir de graça, pode adquirir a entrada no Jardim Botânico (R$ 15, R$ 7,50 a meia). Os organizadores pedem quem deseja participar que confirme presença no evento, para eles terem uma ideia do número de pessoas.
“É visto somente como um lugar de passeio, bonitinho, mas é um dos centros de pesquisa mais importantes da história do Brasil. Quando fundado colocou o Brasil num rol de grandes movimentos no mundo, naquele momento em que se buscava novos produtos, novas possibilidades. O passeio pelo Jardim Botânico é uma busca pela própria história da ciência, da botânica, do Brasil Imperial, da nossa independência, tudo contado dentro daquele espaço”, explica Rainha, que fez 39 anos no dia 7 de setembro, Dia da Independência do Brasil.
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O roteiro percorre outros pontos históricos do bairro de mesmo nome: Jockey Clube do Brasil. Museu do Meio Ambiente, sítio arqueológico Casa dos Pilões, Portal e Ruínas da Antiga Casa de Pólvora, Portal da Real Academia de Belas Artes, Chafariz das Musas, Instituto Antônio Carlos Jobim. Aliás, Tom Jobim era um frequentador assíduo do Jardim Botânico e o espaço serviu de inspiração para a maioria das composições dele.
PONTOS DO ROTEIRO
– Jockey Clube do Brasil
Mais conhecido como local onde se realizam os páreos ou corridas de cavalos, o Hipódromo da Gávea é também uma das mais belas construções do início do século 20 no Rio. Sua construção marcou época na cidade, tanto sob o ponto de vista arquitetônico como de engenharia. A tribuna de honra se destaca, com a arquibancada coberta pela longa marquise cuja extensão em balanço (sem suporte ou pilares) foi a maior da América Latina em sua época. Do outro lado da tribuna, a fachada de sede se volta para a Praça Santos Dumont e lembra o Grand Trianon de Versalhes.
– Museu do Meio Ambiente
Inaugurado em 2008, ano da comemoração do bicentenário do Jardim Botânico, o museu foi o primeiro da América Latina dedicado integralmente à temática socioambiental. O espaço abriga exposições, programas educativos e de debates dedicados à sustentabilidade da vida e das atividades humanas.
– Sitio arqueológico Casa dos Pilões
A edificação foi uma das unidades de produção da Real Fábrica de Pólvora da Lagoa Rodrigo de Freitas, responsável pela produção do explosivo que abastecia todo o mercado brasileiro. Na Oficina do Moinho dos Pilões realizava-se a etapa mais perigosa do processo de produção do explosivo – a compactação da pólvora. Além do próprio prédio, onde uma maquete simula o funcionamento da oficina, uma exposição permanente apresenta objetos e fragmentos encontrados nas escavações arqueológicas.
– Portal e Ruínas da Antiga Casa de Pólvora
Em 1808, diante da preocupação em defender o território da colônia de um possível ataque do império francês, após a fuga da corte portuguesa para o Brasil, D. João VI ordenou a imediata criação de uma Fábrica de Pólvora e Fundição de Artilharia. A área escolhida, no Jardim Botânico, representava água em abundância para o fabrico da pólvora e a necessária distância do centro urbano e de São Cristóvão – local de residência da família real –em virtude do perigo do manuseio dos componentes explosivos.
– Portal da Real Academia de Belas Artes
Do prédio original da antiga Real Academia de Belas Artes, restou apenas a fachada, preservada e transportada para o parque nos anos 40, por insistência do arquiteto Lúcio Costa, então, diretor da Escola Nacional de Belas Artes. Projetado pelo francês Grandjean de Montigny e construído próximo à Praça Tiradentes, o edifício é considerado o primeiro prédio neoclássico no Brasil. Abrigou o ensino das Belas Artes até 1908, quando a academia foi alocada no atual Museu Nacional de Belas Artes.
– Chafariz das Musas
A fonte em ferro fundido é de autoria do inglês Herbert W. Hogg, da cidade de Derby, no final do século XIX. Foi trazido ao Jardim Botânico em 1895 pelo então diretor do parque, o botânico Barbosa Rodrigues. Destaque para as quatro estátuas no alto do chafariz que representam a poesia, a música, a ciência e a arte.
– Instituto Antônio Carlos Jobim
O acervo completo do compositor e maestro Antônio Carlos Jobim (1927-1994) se encontra dentro do Jardim Botânico do Rio de Janeiro. O local foi escolhido para abrigar a memória do músico pelo amor que Tom Jobim sempre demonstrou pelo que chamava de “meu querido Jardim Botânico”. Além do acervo original e digitalizado, o espaço mantém uma exposição permanente com fotos, partituras originais, objetos pessoais e vídeos de apresentações do compositor. O Instituto desenvolve projetos de catalogação, conservação e disponibilização de acervos digitais de outros artistas, como Lucio Costa, Dorival Caymmi, Chico Buarque e Gilberto Gil.
Quarenta passeios por vários bairros
O Rolé Carioca já passou por vários bairros do Rio, totalizando 40 passeios e um público estimado de 20 mil pessoas.Os roteiros já incluíram bairros como Del Castilho, Engenho de Dentro, Paquetá, Cinelândia/Lapa. Em 2016, o projeto ganhou cinco capitais brasileiras (Salvador, São Paulo,Fortaleza, Curitiba e Florianópolis) e virou exposição no Museu do Amanhã.
Foto de abertura de Ana Huara, divulgada pelo Facebook do Museu Nacional