Bolão do Oscar 2021: quem pode, quem deve e quem vai ganhar
93ª edição do maior prêmio da indústria cinematográfica não deve ter surpresas
Já virou tradição em Pitaya Cultural: todo ano, desde 2018, palpitamos sobre quem pode, quem deve e quem vai ganhar nas cinco principais categorias doOscar, o maior prêmio da indústria cinematográfica dos Estados Unidos. Entre os indicados, alocados entre os competidores do chamado Big Five (melhor filme, melhor direção, melhor roteiro original, melhor ator e melhor atriz) mais roteiro adaptado, não devemos ter muitas surpresas. No primeiro ano em que a pandemia da covid-19 atingiu em cheio os principais eventos que celebram a própria Hollywood e sua máquina de fazer dinheiro, é de se supor que a cerimônia do dia 25 de abril, a 93ª da história, seja online ou semi-presencial e mais curta que as anteriores. A ver.
Em relação aos indicados, há poucos destaques em relação às premiações das guildas e sindicatos que compõem a época (exceto pelo Globo de Ouro, que segue em descrédito ano após ano). Com poucos lançamentos de peso nos cinemas, entre filmes de arte e entretenimento, a Netflix dominou as indicações da premiação, mas deve continuar pontuando aqui e acolá. A principal plataforma de streaming do planeta pode levar uma estatueta e outra, mas é improvável que saia consagrada nas grandes categorias e já falamos o porquê nos anos anteriores (antes de conferir nossas apostas, veja nosso bolão de 2018, 2019 e 2020), mesmo com a concorrência da Amazon fazendo peso.
Um aspecto que chama a atenção é a quantidade de produções independentes no páreo, reflexo do adiamento dos grandes lançamentos, além das esnobações de sempre. Os destaques ficam para a categoria Direção, com duas mulheres indicadas e uma provável vencedora entre elas, e atuação, com mais atores atrizes não brancos em mais de nove décadas de prêmio.
Confira o nosso bolão do Oscar 2021: –
– Roteiro Adaptado (concorrem Sacha Baron Cohen,Anthony Hines, Dan Swimer, Peter Baynham,Erica Rivinoja, Dan Mazer, Jena Friedman e Lee Kern por Borat: Fita de Cinema Seguinte, Florian Zeller e Christopher Hampton por Meu Pai, Kemp Powers por Uma Noite em Miami, Chloé Zhao por Nomadland e Ramin Bahrani por O Tigre Branco)
Quem deveria ganhar: A presença de Borat: Fita de Cinema Seguinte, continuação com poucos momentos engraçados e subversivos de Sacha Baron Cohen é intrigante, talvez apenas para compor lista. O Tigre Branco, que resenhamos aqui, é um bom filme em que Ramin Bahrani não resolve os conflitos centrais da trama e peca no beabá do cinema. Os reais concorrentes são Chloé Zhao, Florian Zeller e Cristopher Hampton, que transpõem com graça e habilidade livro (Nomadland) e peça (Meu Pai) e se sobressaem às obras originais.
Quem pode ganhar: A surpresa pode vir pelo texto redondo da peça de Kemp Powers, Uma Noite em Miami (falamos dele aqui) e na ótima direção da grande Regina King. O texto de Hampton e Zeller, também autor da peça de Meu Pai é surpreendente pelas cenas ricas, complexas e doloridas de Meu Pai.
Quem vai ganhar: Achamos que Chloé Zhao vai levar mais essa por Nomadland.
– Roteiro Original (concorrem Emmerald Fennel por Bela Vingança, Will Berson e Shaka King por Judas e o Messias Negro, Lee Isaac Chung por Minari, Aaron Sorkin por Os Sete de Chicago e Darius Marder e Abraham Marder por O Som do Silêncio)
Quem deveria ganhar: Os concorrentes reais são Darius e Abraham Marder pelo espetacular O Som do Silêncio contra a bela história de uma família sul-coreana nos EUA de Minari de Lee Isaac Chung. São os filmes mais fortes entre seus concorrentes, que devem amplificar a carreira de seus diretores.
Quem pode ganhar: Aqui, tudo é possível. A Academia pode premiar os personagens bem escritos de Aaron Sorkin, mesmo que a trama deixe a desejar. Emmerald Fennel pode ser uma estreante vitoriosa mesmo com seu roteiro sobe e desce e Will Berson e Shaka King certamente incluíram boas doses de mensagens antissistema em Judas e o Messias Negro, e a atuação de Daniel Kaluuya, vencedor certo como ator coadjuvante, pode dar peso à indicação.
Quem vai ganhar: Apostamos que Lee Issac Chung vai levar o Oscar para casa.
– Melhor Atriz (concorrem Andra Day por Estados Unidos vs Billie Holiday, Carey Mulligan por Bela Vingança, Frances McDormand por Nomadland, Vanessa Kirby por Pieces of Woman e Viola Davis por A Voz Suprema do Blues)
Quem deveria ganhar: Há, certamente, três atrizes em destaque nesta categoria. A tensão entre os personagens de Viola Davis e Chadwick Boseman e a A Voz Suprema do Blues permeia todo o filme e é entre esses diálogos que a produção brilha mais. Ainda que “sozinhos” em cena, ambos carregam o roteiro nas costas. Essa dinâmica deve favorecer ambos com justiça. Carey Mulligan, espetacular com o roteiro derrapante de Bela Vingança, faz todo o serviço ao dominar quase todas as cenas em uma história cambaleante de…vingança. Já a consagrada Frances McDormand, melhor em Três Anúncios para um Crime (que lhe rendeu a estatueta), mostra mais uma vez grande versatilidade e imprime camadas fortes para sua personagem.
Quem pode ganhar: Andra Day, ainda que esforçada em Estados Unidos vs Billie Holiday não tem a mínima chance diante das outras atrizes. Vanessa Kirby, que tem uma excelente cena na parte final de Pieces of Woman, ganhou apenas a indicação e chama atenção, novamente, por seu bom trabalho. A peleja, duríssima, é entre Viola Davis, Frances McDormand e Carey Mulligan.
Quem vai ganhar: Viola Davis leva a estatueta pra casa.
– Melhor Ator (concorrem Anthony Hopkins por Meu Pai, Chadwick Boseman por A Voz Suprema do Blues, Gary Oldman por Mank, Riz Ahmed por O Som do Silêncio e Steven Yeun por Minari)
Quem deveria ganhar: A disputa aqui, exceto por um deslocado Yeun protocolar em Minari, é entre dois excelentes atores, com um colossal Anthony Hopkins correndo por fora: Riz Ahmed e o falecido Chadwick Boseman, que entrega uma performance definitiva em A Voz Suprema do Blues, seu último filme.
Quem pode ganhar: Hopkins pode surpreender com sua visceralidade e emoção mostradas em Meu Pai, trabalho de quem sabe e faz de olho fechado, um dos melhores papeis de sua carreira. Gary Oldman faz o público acreditar na história de Herman Mankiewickz, certamente muito mais coerente que seu Winston Churchill, mas ficará de mãos abanando.
Quem vai ganhar:Chadwick Boseman leva essa.
– Melhor Direção (concorrem: Chloé Zhao por Nomadland, David Fincher por Mank, Emerald Fennell por Bela Vingança, Lee Isaac Chung por Minari e Thomas Vinterberg por Druk – Mais Uma Rodada)
Quem deveria ganhar: Entre os indicados com filmes melhores realizados, estão Chloé Zhao e Lee Isaac Chung, ambos indicados a Roteiro Adaptado e Roteiro Original, respectivamente. A vitória de um ou outro pode indicar que finalmente a Academia está tentando implementar diversidade e não ficar apenas em um conceito vago e pouco explorado em anos anteriores.
Quem pode ganhar: A inclusão do diretor dinamarquês Thomas Vinterbeg não é à toa: Druk – Mais Uma Rodada é um grande filme capitaneado por Mads Mikkelsen e que reflete sobre questões da meia-idade de forma crua e leve ao mesmo tempo. David Fincher, um dos grandes nomes do cinema americano, já esteve melhor, mas prova que ainda sabe instigar os espectadores em Mank. A vida semi-biográfica de Lee Isaac Chung em Minari rendeu elogios dentro e fora dos EUA ao diretor, que segue uma trajetória ascendente e pode surpreender. A estreante Emerald Fennell ficará como “nome a se prestar atenção”, mas não vai levar o prêmio para casa.
Quem vai ganhar: Sem surpresas, Chloé Zhao vai levar essa.
– Melhor Filme (concorrem: Bela Vingança, Judas e o Messias Negro, Mank, Meu Pai,Minari,Nomadland, Os Sete de ChicagoeO Som do Silêncio)
Quem deveria ganhar: A lista é coesa por não ter nenhum filme exatamente ruim entre os competidores, mas alguns se destacam: Nomadland, O Som do Silêncio e Minari se sobressaem e são, certamente, os três melhores entre os indicados. O Som do Silêncio, especialmente, é delicado e muito, muito bonito, mas a produção e realização da Amazon Studios o coloca fora do baralho, já que Hollywood se fecha em si mesma sempre que possível.
Quem pode ganhar: Com o já clássico Parasita faturando o maior prêmio da noite em 2020, especialistas cogitam o “azarão” Minari, que conta uma história de uma família de imigrantes sul-coreanos nos EUA, pode surpreender. Também correndo por fora, Mank desafia convenções e provoca demais Hollywood a olhar no espelho seu lado feio para ser considerado. Uma possível vitória é talvez uma autocrítica? Difícil. Judas e o Messias Negro é ousado e muito bem escrito, mas derrapa em seu terço final. Meu Pai tem uma construção criativa e bastante contundente sobre a vida com quem tem Alzheimer e segue como incógnita. Os Sete de Chicago tem momentos de brilho, mas não emociona e a conclusão questionável de Bela Vingança joga contra.
Quem vai ganhar: Nomadland tem tudo para arrebatar a noite, especialmente em tempos de esperança pós-Donald Trump. A história de uma mulher na beira de seus 60 anos, subempregada em uma gigante do varejo e que encontra alento na vida entre migrantes pode ressoar forte neste ano.