Documentário mostra o melhor da comida de rua em países da América Latina
‘Street Food: América Latina’, da Netflix, destaca as particularidades da comida de rua de seis cidades de diferentes países. Brasil está presente com Salvador e sua maravilhosa culinária
Uma das melhores formas de conhecer uma cidade, a cultura de seu país, definitivamente, é através de sua comida. E sim, me refiro a comida de rua. A Netflix lançou a série documental ‘Street Food: América Latina‘, com o melhor da gastronomia de cinco países: Salvador, Bahia, no Brasil; Buenos Aires, na Argentina; Oaxaca, no México; Lima, no Peru; e La Paz, Bolívia.
O documentário se baseia em depoimentos de especialistas em gastronomia nos países para exaltar as culinárias locais. Os personagens que são os criadores das iguarias, em sua maioria pessoas simples que venceram com sua “arte”, são humanizados ao terem suas histórias contadas, desde a dificuldade até o sucesso.
Outro ponto bem abordado é a ligação da gastronomia com a cultura de um país. É mostrada desde a ligação com ancestrais, a presença de imigrantes, a importância para tirar da marginalidade minorias étnicas e até a ligação com paixões nacionais, como o futebol.
Uma característica bem marcante de Street Food, é a presença e importância dos mercados centrais, um caldeirão cultural e gastronômico de suas respectivas cidades. Todas as cidades do documentário possuem um.
Como carioca e um amante da comida de rua e suas peculiaridades regionais, é inevitável não sentir a falta de incentivo e destaque para lugares como esse no Rio, tipo o Cadeg. Aliás, uma segunda temporada poderia trazer as nossas iguarias (batata frita de Marechal, cachorro-quente, churrasquinho de espeto, são tantos!).
A série dedica cada episódio (são seis) para cada país e é possível ver pratos “parecidos” com alguns nossos, mas com a peculiaridade de cada região. Vamos elencar abaixo (após o trailer) alguns pratos que se destacam em cada cidade visitada pela produção.
É a segunda série de Street Food, que já teve uma dedicada a comidas da Ásia. Os criadores são os mesmos de Chef’s Table, também da Netflix.
Salvador, Bahia
Sua comida é apresentada destacando a importância da presença africana, através dos escravos, e do candomblé, para a consolidação da culinária local. Um item que nunca pode faltar na mesa do baiana é o azeite de dendê, outra herança africana.
Uma das personagens do episódio é Dona Suzana e sua moqueca de peixe, feita em seu ‘restaurante’, o Ré Restaurante. Na simplicidade, de frente para o mar, ela une pessoas de diferentes faixas sociais para saborear sua iguaria, conhecida no mundo inteiro e aplaudida por chefs.
Martinha do Abará, que vende de forma irreverente nas praias de Salvador, também é destaque com o seu abará temperado (massa de feijão-fradinho moído) e recheado com camarão defumado, que vem enrolado na folha de bananeira, onde é cozido. Ela também faz sucesso com o chamado “pirão de aipim“, uma pasta recheada com carne de sol ou calabresa.
Como não pode faltar, também são exaltadas as baianas do acarajé. Vestidas com os trajes brancos do candomblé, a venda de iguaria, além de ser uma forma de sobreviver financeiramente, é um ato de resistência e preservação da cultura africana. “A comida é como nos comunicamos com os deuses”, diz uma delas.
Buenos Aires, Argentina
O episódio conta a influencia europeia na cultura e, claro, na gastronomia argentina. Dois grandes pratos conhecidos do público, a tortilla e a fugazzeta, tem influências espanhola e italiana, respectivamente.
A principal personagem do episódio é a Pato Rodrigues, que possui um espaço no mercado central em Buenos Aires. Ela é sucesso com a sua “tortilla de papas“, uma torta de batata recheada com presunto e muito, mas muito queijo. A preparação é um show a parte para os clientes e turistas e só de ver dá água na boca. Pato e sua companheira também servem no Las Chicas de La Três outras comidas típicas, como empanadas.
A comida de rua é exaltado através do “cachoro-quente” deles e sua ligação com o futebol. O dele é chamado de choripán, um pão com linguiça e o chimichurri, molho tradicional deles. “Se vai a um estádio e não come choripán, não esteve lá”, diz Rubén, famoso pelo seu choripán ao lado de um estádio argentino.
Já a Fugazzeta apresentada em Street Food é do La Mezzeta. Com influência italiana, ela nada mais é do que uma pizza recheada e foi inventada em Buenos Aires.
Oaxaca, México
Principal alimento de Oaxaca, o milho está presente em muitas comidas do estado mexicano. O episódio nos apresenta Dona Vale, famosa por sua memelas, um dos pratos mais emblemáticos da região. É uma espécie de tortilha um pouco mais grossa que o normal.
Valetina Hernandes diz que o sucesso da sua é o “molho especial” criado por ela, que leva uma pimenta seca da região. Além dele, é acompanhada de queijo e passada na banha antes de frita.
As “empanadas de amarillo“, vendidas pela Carmen, também nos são apresentadas. Sua base é o milho e o molho de origem indígena feito de uma pimenta que deixa uma coloração amarela, o que deu o nome ao salgado. O recheio é de frango e também é temperado com folha de erva santa.
Já as Tlayudas são tortilhas gigantes grelhadas e recheadas com queijo, pasta de feijão, carne seca ou linguiça, além de levar molho e ser untada com banha. As mais famosas são as da barraca La Chinita. São bem finas e grelhadas na brasa do carvão.
Outras iguarias apresentadas são os piedrazos (um pão embebido em um vinagre caseiro e servido com um monte de coisas) servidos com refrescos locais, como os de o orchata, com um tipo de cacto, abóbora e pêssego.
Lima, Peru
O episódio mostra a influência dos japoneses na gastronomia do país e responsável pela criação de uma iguaria única do Peru que é o ceviche. Nos apresenta Tomas Matsufuji, filho de um famoso chef no país, com restaurante famoso, mas foi buscar sua essência abrindo uma espécie de “boteco”, o Al Toke Pez. O principal prato é o combinado, que inclui ceviche, lulas a doré e arroz com frutos do mar.
Uma espécie de “PF Peruano” também é destaque no episódio, servido no Huerta-Chinen, no Mercado Central da cidade. Chamado de prato combinado, ele é um mix de culturas gastronômicas do país, com arroz, feijão, molho ‘ocopa’, frango, carne, e tudo mais que couber no prato.
Já Dona Pochitavende anticuchos,o churrasco peruano. A antes sobra que era dado para os escravos se tornou um ícone da comida de rua, servido no espeto temperado com pimenta picante, vinagre e cominho.
De sobremesa são apresentados os Picarones Mary. O Picarone é uma massa feita de abóbora ou batata doce, servido com mel. Seu formato lembra um donut, sendo muito crocante por fora e macio por dentro.
Bogotá, Colômbia
Bogotá é apontada como a cidade que une todas as cozinhas do país. Sua riqueza, aponta o episódio, é a gastronomia diversa, desde a costa do Caribe até a Costa do Pacífico.
Pratos que se destacam são o Ajiaco, uma sopa de batata acompanhada de frango, milho e guascas, uma espécie de erva. É tradicional no país. Ele é servido no Restaurante Tolú, de Luz Dary, uma caribenha também conhecida pelo seu prato típico de sua região: o mote de queso, uma sopa de inhame com queijo.
Marí nos apresenta o seu rompe colchón, um caldo feito com peixe e leite de coco, temperado com ervas do pacífico. O nome vem do resultado após um homem consumi-la: fica com um vigor de quebrar a cama.
Outros pratos apresentados são as arepas, uma massa de pão de milho grelhada e recheada de queijo, e o tamal, originário de Tolima, uma espécie de pamonha salgada com porco, frango, torresmo e tudo mais. Eles também tem o seu PF, a bandeja pasa.
La Paz, Bolívia
Alvos de discriminação, as cholitas são mulheres indígenas, de diferenças étnicas, que mantém a cultura gastronômica da Bolívia viva, principalmente a de rua. Através delas, o episódio em La Paz nos apresenta as iguarias locais.
Entre eles está o sanduíche de chola,recheado com muito pernil, escabeche de cebola e molho de pimenta ají. O nome se dá por serem as cholitas serem as primeiras a vender o prato. O mais famoso da cidade é vendido por Cristina Zurita a nada menos que 57 anos. Seu posto fica na Plaza de Las Cholas, dedicado a comida típica.
Outra delícia mostrada é o relleno de papa, um bolo de purê de batata recheado com carne e frito e molho. Os mais famosos são de Emiliana Condori, a cholita Dona Emi, que vende os seus em três barraquinhas espalhadas na cidade. Ela também criou e vende os rellenos com base de arroz e banana.
A cultura gastronômica de rua é tão forte na Bolívia que uma especialista do país diz que “fast food” não se cria por lá. “Eles preferem a comida tradicional”, diz.
Outras iguarias apresentadas do país são o sorvete de canela (helado de canela); os buñelos, uma massa frita coberta de anis, o ranga ranga, um ensopado de estômago de boi picante.
Avaliação: Muito bom