‘Massacre no Estádio’ foca na execução do cantor Victor Jara, símbolo contra ditadura de Pinochet
Documentário da série ReMastered conta história do cantor-ativista que era a voz dos excluídos e acabou morto no Estádio Nacional do Chile, em setembro de 1973
Um cantor popular, comparado a Bob Dylan, e que trazia em suas canções a realidade de um povo sofrido. Esse era Victor Jara, chileno brutalmente assassinado pela ditadura de Augusto Pinochet, apontada como uma das mais cruéis e que mais matou na América do Sul. Sua vida e obra são lembradas em ReMastered: Massacre no Estádio, disponível na Netflix.
O documentário narra a forte ligação de Jara com a população através de suas músicas de protesto, que condenavam a exploração do trabalhador, a vida dura do campo, a marginalização do povo e a repressão da polícia e dos militares.
Antes mesmo da ditadura, o também poeta, professor e diretor de teatro já incomodava os setores mais conservadores da sociedade, que já ensaiavam uma tomada do poder do presidente Salvador Allende, amigo do cantor e que foi morto no bombardeio ao Palácio de La Moneda, em Santiago, então sede do governo, no dia do golpe.
“Uma canção de Victor Jara era mais perigosa que 100 metralhadoras”, defende um dos vários entrevistados. Nomes como Bono Vox e até a viúva do músico-ativista, Joan Jara, são ouvidos em Massacre no Estádio.
Além de percorrer sua vida e militância, o documentário expõe o mistério sobre os autores da execução de Victor Jara, torturado e morto no Estádio Nacional do Chile com mais de 40 tiros, além de ter tido as mãos esmagadas, poucos dias após a instalação da ditadura de Pinochet, em setembro de 1973. Ele tinha apenas 40 anos.
O filme chega a apontar um militar que estava no estádio, que serviu de prisão e onde muita gente foi torturada e morreu – estimativas apontam ao menos 400 mortes no local. Exilado, em entrevista à série, ele nega a autoria e chega a passar por um “detector de mentiras” (polígrafo).
Ao longo desses mais de 40 anos, família e ativistas tentam encontrar os assassinos de um dos símbolos da luta contra a ditadura chilena. O tom do documentário, assim como outros da série ReMastered, é didático, confrontando versões e apresentando fatos, mesmo quando inconsistentes.
Na atual conjuntura, onde alguns tentam defender o indefensável sem pouco conhecer a história, Massacre no Estádio mostra o perigo de regimes ditatoriais e seu lado mais cruel, de forma didática. É um lembrete de que tempos sombrios, que nós brasileiros também vivemos por longos 20 anos, não podem voltar.
Avaliação: Excelente