‘Messiah’ intriga ao debater volta do ‘filho de Deus’, mas roteiro e protagonista enfraquecem
Série da Netflix causou polêmica antes mesmo da estreia, mas assim como especial do ‘Porta’ deixa a desejar, valendo apenas pelo debate proposto
Cheguei até a série Messiah após ler que ela, assim como o especial de Natal do Porta dos Fundos, estava causando polêmica por tocar no assunto religião. Entretanto, a produção americana da Netflix só fez barulho e deixou muito a desejar no roteiro e na interpretação de seu protagonista. O debate diante do tema, assim como ocorreu aqui no Brasil, é o que salva.
Al-Masih, como o líder religioso é chamado pelos seguidores, ganha notoriedade após “supostamente” anunciar uma tempestade de areia que impede o avanço do Estado Islâmico até Damasco, capital da Síria.
Depois do “milagre”, Al-Masih guia milhares de seguidores até a fronteira com Israel, com o objetivo de levá-los até a Terra Santa. O nome ao qual é chamado, na teologia islâmica, significa “anticristo, um dos pontos da polêmica com muçulmanos.
A trama ganha proporções geopolíticas quando Al-Masih cruza a fronteira em direção a Israel. Os Estados Unidos entram no jogo e vasculham a vida dele através da agente da CIA Eva Geller (Michelle Monaghan). No lado israelense, quem investiga o fenômeno religioso é o oficial da inteligência Avrim (Tomer Sisley).
A série tem outras grandes camadas, como os jovens amigos refugiados, o pastor e sua família de uma cidadezinha do Texas, entre outros. Eles, assim como Geller e Avrim, têm seus dramas abordados e a fé testada por questionamentos do “novo messias”.
A questão geopolítica ganha enfoque, mas pouco se discute sobre a problemática que o surgimento desse suposto novo líder religioso traz para os países envolvidos (principalmente para Israel, aliado dos Estados Unidos). A incessante busca das autoridades e descobertas sobre o misterioso homem perdem sentido sem esse pano de fundo.
Em seus 10 episódios, Messiah tem como objetivo o exercício da dúvida: Al-Masih é de fato Jesus, um charlatão, um fantoche nas mãos de algum país “inimigo” ou uma pessoa com problemas mentais? Entretanto, ter apenas esse mistério como sustentação enfraquece a série.
A interpretação de Mehdi Dehbi como Al-Masih é pouco convincente, muito mais pelo fraco roteiro, que deveria ter mais apelo em se tratando de um “novo Messias”. O personagem chega a ser monossilábico para quem tenta convencer que é o “enviado de Deus”.
As boas imagens e edição salvam a produção, principalmente quando mostradas as catástrofes e “milagres” atribuídos a Al-Masih. A cobertura da mídia e o compartilhamento de informações nas redes sociais conforme novos fatos envolvendo o protagonista surgem também agradam.
O principal ponto a se levar em conta para assistir a série é o debate em torno dela. Antes de sua estreia, uma petição pedia o boicote à série e a Jordânia, onde parte da produção foi gravada, proibiu sua exibição no país.
O diretor Michael Petroni disse em entrevista que a série é de fato provocativa, mas não ofensiva. Assim como o especial do Porta, nada espetacular, mas sim uma grande oportunidade de se debater o tema, em tempos de perseguições a minorias religiosas e projetos de governo que envolvem a exploração da fé.
Outros pontos que valem a discussão: como reagiremos diante da aparição de um novo Messias? Qual o papel da mídia e dos governos diante dessa nova liderança? E como lidar com essas informações, dado o grande volume de fake news? Ficam as questões para possível segunda temporada.
Avaliação: Bom