Série sobre assaltante Pedro Dom mostra destruição familiar causada pelo vício da cocaína
Primeira série brasileira do Amazon Prime Video traz a história do criminoso de classe média que mergulhou nas drogas e aterrorizou suas vítimas em assaltos a residências
Quem viveu os anos 2000 lembra dos noticiários do Rio que narravam o terror que Pedro Machado Lomba Neto, o Pedro Dom, provocou em suas vítimas em assaltos a edifícios de alto padrão. O lado perverso, relatado por reféns à polícia, não é mostrado em ‘Dom’, série lançada pelo Amazon Prime Video. O foco da produção, em oito episódios, é a relação entre ele e o pai, um policial civil aposentado, e todo o drama familiar causado pela dependência em cocaína de Dom.
Jovem de classe média da Zona Sul que virou assaltante de residências, Dom foi morto após uma perseguição que acabou nas escadas de um prédio na Lagoa, na Zona Sul do Rio, em 2005. Ele ainda não tinha nem 23 anos. Loiro, olhos azuis, com situação financeira confortável, isso não o livrou do vício das drogas nem do crime.
Gabriel Leone, que interpreta Dom no fim da adolescência e na maioridade, mergulha de cabeça no personagem e entrega uma excelente atuação, principalmente nas cenas em que o jovem vive a loucura das drogas e nos assaltos, onde também brilham Isabella Santoni (Vivi) e Raquel Villar (Jasmin) nas suas parceiras no sexo, na cocaína e no crime. O casal Jasmin e Dom também tem uma boa química e entregam boas cenas.
A conturbada e amorosa relação com o pai, Victor Dantas, interpretado por Flavio Tolezani, também é um ponto alto pela entrega dos dois atores. O policial vai às últimas consequências para tirar o filho do vício. Tudo é em vão. Em caminhos opostos, a cumplicidade de ambos, mesmo nas cenas sem diálogo dos atores, é nítida.
Além da luta contra a droga travada por Dom, internado dezenas de vezes sem se recuperar plenamente da doença, o filme também mostra paralelamente, em flashback, a “guerra às drogas” que Victor enfrentou desde jovem, atuando como “colaborador” da Ditadura Militar para evitar a entrada da cocaína no Brasil. Nessa passagem, o papel é feito por Filipe Bragança. Em tom crítico, fica nítido que a forma de combater o tráfico desde sempre nunca trouxe resultados e traz consequências até hoje.
O filme é inspirado em dois livros: ”Dom”, de Tony Belotto, e o “O Beijo da Bruxa”, escrito pelo próprio pai do assaltante, Luiz Victor Lomba. Ambos misturam ficção e realidade. Ao contrário do violento assaltante narrado na vida real, o roteiro humaniza o assaltante, perdendo a chance de ser fidedigno e ganhar com a bela atuação de Leone.
É um grande acerto mostrar a visão do pai de Dom, com o sofrimento que familiares de dependentes químicos enfrentam para ajudar os seus entes a deixar as drogas. A narrativa faz você se solidarizar com a família e o jovem afundado na cocaína desde os 12 anos. Com isso, fica a mensagem de que a droga é um problema de saúde pública. Se Dom com todas as oportunidades e dezenas de internações não venceu essa batalha, imagina quem não tem acesso a tratamento e ainda é tratado como criminoso?
Outro ponto alto são as cenas dos assaltos e as externas pelo Rio, tanto nos anos 70 quanto nos 2000 (apesar de às vezes os anos 2000 parecerem os anos 90). Uma curiosidade é que a série foi gravada em outros estados e até fora do país.
Dito isso, a grande produção, com direção de Breno Silveira (Dois Filhos de Francisco, Gonzaga: De Pai pra Filho) e Vicente Kubrusly, a primeira brasileira do Amazon Prime Vídeo, vale a maratona.
Avaliação: Ótimo