Série sobre gastronomia revoluciona formato e foca na simplicidade

 em artes, gastronomia

‘Sal, Gordura, Acidez, e Calor’ trata com reverência ingredientes e experiências na cozinha e distancia-se de programas consagrados do gênero

Pegue qualquer produção recente sobre gastronomia na televisão, aberta ou fechada. Quando não se trata do ensino de receitas, vemos realities shows, que tiram o foco do que realmente importa: comida. O que fica é o espetáculo, as subtramas, as emoções dos competidores.  Não se pode dizer que tais programas não cumprem sua função, mas certamente se distanciam do que significa cozinhar. Nesse sentido, ‘Sal, Gordura, Acidez, e Calor‘, em cartaz na Netflix, é um verdadeiro bálsamo por se diferenciar e marcar território na gastronomia televisiva.

O seriado, com quatro episódios que tratam dos elementos descritos no título, explora um filão largamente ignorado: o carinho e cultivo dos ingredientes. Comandado pela chef Samin Nosrat (baseado em um livro da própria), o programa explora outras culturas de forma concisa e poética. A estrutura é simples: Samin entrevista pessoas experientes no assunto, assiste ou auxilia em preparações e reflete sobre os caminhos da gastronomia. ‘SGAC’ trata os ingredientes com reverência por meio da história, cultura, tradição — muitas retratadas continuam até hoje.

No primeiro episódio, ‘Gordura’, a chef vai até vilarejos da Itália, na região da Liguria, onde um especialista em óleo explica os ingredientes e sentencia: ‘se deixa gosto, está vivo’. É uma frase que serve para compreender a estrutura e a mensagem da série: uma verdadeira exploração da cultura e tradição da gastronomia, sem didatismo. O foco da câmera, primeiro nas paisagens deslumbrantes, depois nos ingredientes, busca tentar colocar o espectador no meio da rica troca sobre experiências, saberes e vivências diferentes.

Há também a parte de receitas e é tocante ver o entusiamo de Samin a cada nova descoberta ou ‘experimento’. No episódio ‘Ácido’, ela visita uma criação de abelhas no México e um criador resume o espírito reflexivo de ‘Sal, Gordura, Acidez, e Calor‘ ao descrever suas atividades: ‘cuidamos delas. Elas são chefes e nós os trabalhadores. Nós a servimos’. O foco nas experiências pessoais e no senso de comunidade, em detrimento da competição ou de mostrar um restaurante badalado, é o grande acerto do seriado. E deixa um gosto de quero mais, com todos os méritos.

Avaliação: Ótimo

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