A luta diária pelo reconhecimento dos artistas independentes

 em música

Por Jefferson Plácido*

Historicamente o “popular” sempre foi caracterizado como excluído. No entanto, é justo dizer que o popular é algo construído com o tempo. Vale lembrar que o trabalho dos artistas possibilita que as pessoas consigam entender as dores e desfrutar das criações da classe, que vão muito além de uma composição qualquer. Aquele que entretém nem sempre é reconhecido pela sociedade, que por sua vez, não consegue imaginar uma realidade sem eles.

Com o passar do tempo, grandes talentos surgiram nos subúrbios e se tornaram protagonistas em suas áreas de atuação. A arte funciona como engrenagem de transformação social, com um papel de descentralizar os valores que a regem a atualidade. A música aprofunda os níveis de relações interpessoais e faz você transcender. Viver sem arte seria um grande erro da nossa parte. Por exemplo, tenho como objetivo que a minha arte seja transformadora e resgate o Jazz na Zona Norte do Rio de Janeiro.

Mas para que a arte do subúrbio possa ser mais valorizada a mudança deve passar diretamente pelos próprios artistas. Não podemos exigir reconhecimento se não é feito por onde. A falta de expressão em alguns acaba se convertendo em um trabalho feito para manutenção dos seus próprios interesses. A ideia não pode ser essa. É preciso fazer mais para que essa engrenagem de transformação social possa ir além! Tal falta de representatividade está evidente em todo o setor cultural, não somente na música.

Por outro lado, é visível a batalha diária de artistas em meio à pandemia, que se redescobrem e se adequam aos meios alternativos, como o digital. Manter-se relevante em um Brasil tão polarizado não é uma tarefa simples. Exige muita dedicação e entendimento com o público-alvo, que está sendo atingido.

A Covid-19 obrigou o mundo a mudar, e com nós, artistas, não foi diferente. É estranho demais não ter o calor humano, performar sem as pessoas emanando aquela energia positiva. Recentemente, fizemos uma Live para o Festival Livmundi na Arena Carioca Dicró e foi bem estranho inicialmente entender esse novo normal sem público. Fizemos com a mesma energia de um show presencial, seguindo neste caminho da Renovação dos Subúrbios.

Viver em um país que não entende a importância de criadores de conteúdo, independente do setor, é triste, mas não quer dizer que deva ser assim. Portanto, cabe a nós, enquanto cidadãos, consumir, envolver-se e entender que os artistas estudam e em sua maioria, tentam passar uma mensagem através de suas produções. Que a sociedade possa valorizar mais esse trabalho e também, principalmente os artistas independentes, possamos valorizar e apoiar mais uns aos outros.

*Jefferson Plácido é músico e líder do grupo Samba Nonsense

Foto em destaque: Dunno Films/Divulgação

Comece a digitar e pressione Enter para pesquisar