Ana Frango Elétrico entrega um dos discos do ano em ‘Little Electric Chicken Heart’

 em música

Sucessor de ‘Mormaço queima’, meses depois, mostra jovem compositora avançando

QuandoAna Frango Elétrico surgiu com Mormaço queima, seu disco de estreia do ano passado, a jovem cantora e compositora de então 20 anos já chamava a atenção no cenário alternativo carioca. Com versos criativos e sagazes sobre brincadeiras, situações inusitadas e o próprio observar da cidade, a artista logo abriu shows para gente como Rogério Skylab, mostrando uma sonoridade que transitava entre o rock e o experimental, mas com muito apelo pop e daqueles bons. Neste 2019, Little Electric Chicken Heart, seu segundo trabalho, avança na proposta musical e lírica e é, facilmente, um dos melhores do ano.

Com 8 faixas e uma vinheta LECH vem recebendo elogios de críticos nacionais e ganhou ótima nota de Anthony Fantano, personalidade youtuber considerada referência mundo afora. E não há exagero em nenhuma avaliação, pois o álbum cresce a cada audição e seu maior mérito e misturar as letras espertas e diretas de Ana com arranjos que passeiam por influências diversas. No palco e no disco, Ana Frango Elétrico é acompanhada da formação clássica do rock (duas guitarras, baixo e bateria) e um trio de metais inspirado, que fazem cama e contornam a moldura de canções — estas bebem desde a Bossa Nova até o pop de Rita Lee e as quebradeiras de Tom Zé.

O dedilhar de um piano/teclado em queda inicia a viciante Saudade, onde os músicos repetem o título da música e Ana faz um vocalize que logo cai em um trecho mais agitado e volta como um mantra, enquanto repete que não tem tanto medo assim de trovão (talvez). Em seguida, ela mostra versatilidade no canto de Promessas e previsões, uma das grandes canções de 2019. A faixa é marcada por uma letra tão forte quanto caótica, detalhes preciosos ma instrumentação e brinca com estruturas tradicionais enquanto propõe ruptura em pequenas porções.

A bem humorada Se no cinema viaja no pop de câmera dos anos 60 e tem um dos melhores arranjos do trio de sax (Marcelo Cebukin), trompete (Eduardo Santana) e trombone (Antônio Neves) que compõem o time do disco. ‘Se sentisse a temperatura/ do amor/do casal da tela/do sexo dela/o cheiro da cor‘, canta Ana. Tem certeza?, por outro lado, mostra (principalmente ao vivo) o entrosamento entre a artista e sua banda das apresentações ao vivo, composta por Vovô Bebê (baixo), Guilherme Lírio (guitarra) e Marcelo Callado (bateria). A música evoca Rita Lee pelo humor e pela sonoridade dos discos pós-Mutantes, com um ótimo solo de guitarra.

Chocolate, com rico arranjo vocal, é um dos destaques de Little Electric Chicken Heart, de refrão grudento e melodioso, sem esquecer o lado experimental da cantora e sem excessos mesmo sendo a mais longa do trabalho. A vinheta chamada de, bem, Vinheta leva a Torturadores, onde Ana exibe destreza nos versos ‘Pesquisando o nome e o endereço de torturadores/só pra contar pros netos e porteiros/que têm todo o direito de saber’, uma grata surpresa no repertório. Devia ter ficado menos, a melhor, soa como um bom resumo da obra. A prosa vê uma Ana reflexiva e a música vai junto, compassada, tudo preparado aos poucos para uma explosão de guitarras e metais levados por sua voz potente.

O sambinha engraçado e delicado Caspa, sobre o problema capilar e de se apaixonar, encerra tudo com uma nota de beleza. Não estranhe se você se pegar reouvindo LECH com frequência: é um excelente disco, que cumpre seu papel ao expandir o universo musical de sua criadora e mostrar que Ana Frango Elétrico é um dos grande talentos de sua geração.

Avaliação: Excelente

 

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