Elisa estreia em álbum doce e delicado
Lançamento previsto para março havia sido adiado em razão da pandemia
O nascer artístico não tem data certa, mas há momentos de despertar. Com Elisa Fernandes, cantora e compositora de 37 anos, foi em um concurso de poesia na escola municipal onde estudava, na Praça Seca, Zona Oeste do Rio, que brotou seu lado compositora. Apenas aos 28, começou a se apresentar profissionalmente.
Criada no samba, afilhada musical do compositor Monarco, e intimamente ligada à Portela, era de se esperar que seu disco de estreia fosse de samba. Não deixa de ser, mas na sutileza dos detalhes. Produzido e arranjado pelo mineiro Mario Wamser, que também tocou bandolim e violões, ELISA é a música popular brasileira em sua delicadeza e romantismo, com referências que passam por nomes como Chico Buarque, Angela Ro Ro, Gilberto Gil, Sandra de Sá, Chico César, Paulinho da Viola e Vander Lee, além do próprio Monarco, claro.
Com lançamento previsto para março, a pandemia modificou bruscamente a vida de todos, inclusive a da artista, que manteve o trabalho em quarentena até agora. Elisa mudou de ideia por acreditar em uma injeção de ânimo que faltava para o público que a acompanha e para ela mesma.
“Além de não saber bem o momento ideal para lançar, eu tinha uma preocupação grande se o trabalho seria apenas mais um disco de MPB falando de amor e se seria ouvido num momento como esse que estamos vivendo. Mas tô falando do meu jeito de amar, que é o jeito de amar de muitas mulheres que amam outras mulheres, e decidi bancar o amor, o amor lésbico, principalmente em tempos de tanto ódio, tanta dor e sofrimento. Então taí”, explica ela.
As oito faixas autorais esbanjam delicadeza e doçura, chegando à maturidade depois de experimentadas exaustivamente nos palcos de saraus e teatros Rio adentro. A começar por “Orquestra”, que abre o disco, e é uma das preferidas de seus seguidores, que ganhou o violoncelo do italiano Federico Puppi. “Sinais”, lançada anteriormente como single, é outra que se destaca pela singeleza na voz de Elisa, que ganhou preparação da reverenciada Suely Mesquita.
Autora única das canções, a única exceção é para “Voltei”, parceria com Matheus Prevot, que também a acompanha no violão exclusivamente nesta. Vale mencionar, também, “Roseira”, outra queridinha dos fãs e exemplar de uma linguagem que a artista construiu. Essa brinca com flores e a geografia da Cidade Maravilhosa e o bairro da Vila Valqueire, onde morou. As faixas ainda trazem o esperto Gabriel Barreto na bateria e mixagem de Mari Blue, gravadas nos Estúdio Ouvido em Pé e MiniStereo.