Retrospectiva Pitaya Cultural: Os melhores discos internacionais de 2018
Na música, a mais plural das artes, há exemplos de diversificação em todos os cantos do planeta. As listas, usualmente dominadas por bandas inglesas ou americanas, também refletem novos tempos. Eis os melhores discos internacionais de 2018
Menção honrosa – Arctic Monkeys – Tranquility Base + Hotel & Casino
O que fazer quando sua banda é considerada a melhor do rock ‘n’ roll, título conquistado com um par de riffs pegajosos de um bom disco e shows lotados em arenas? Talvez uma viagem à Lua. O grupo de Alex Turner se apoiou em teclados e sintetizadores para compor uma obra meio conceitual sobre um hotel no nosso satélite natural. O resultado surpreende mais que diverte e cumpre a função de colocar as expectativas no alto sobre o que virá.
10 – Kamasi Washington – Heaven and Earth
O homem já tem seu papel garantido como uma espécie de embaixador do jazz para as novas gerações. Suas colaborações com artistas diversos, de Kendrick Lamar a Thalma de Freitas, recheiam a grande gama de sons que partem de seu sax e refletem em sua banda. Com Heaven and Earth, Kamasi Washington faz o jogo entre uma música de alta intensidade, mais influenciada pelo bebop e uma espécie de soul cósmico. O som do futuro.
09 – Gazelle Twin – Pastoral
Curto, Pastoral é uma aula de Elizabeth Bernholz e seu ‘disfarce’ Gazelle Twin sobre os efeitos do Brexit na Inglaterra. Sem papas na língua, ela não tenta dar sermão em ninguém, mas expôe suas histórias sobre o afundamento da sociedade com crueza e acidez, sem que nada soe bobo ou despropositado nesse cruzamento, mesmo que a viagem seja um pouco dura entre dissonâncias e camadas eletrônicas. A jornada é o que importa.
08 – Khruangbin – Com Todo El Mundo
Esta banda instrumental texana é um caso raro de um verdadeiro caldeirão cultural que ocorre em Com Todo El Mundo. O trio Khruangbinpega para si influências do sudeste asiático, funk vindo da Europa, o reggae da Jamaica e o soul do sul dos Estados Unidos e acrescenta pitadas de rock e psicodelia. O resultado não soa bagunçado, mas harmonioso e cheio de surpresas e detalhes que crescem a cada nova audição. Para ouvir alto e usando fones.
07 – Robyn – Honey
A cantora sueca não lançava nada desde 2010 e com Honey, Robyn mostra uma habilidade que parece ser nata: o de formatar tendências dentro do pop. Ela reflete sobre temas tão variados quanto sua música, que se revolve de forma imperfeita, propositalmente. As melodias e camadas das canções se sobrepõem às batidas calculadas e falsetes com brilho, tudo resultado de encarar a música como ofício e arte ao mesmo tempo — com muito talento para isso.
06 – Mitski – Be the Cowboy
Ter a habilidade de transformar algo complexo e embalar como se fosse simples é cada vez mais raro no meio musical. Mitski faz isso com o pé nas costas. Resultado de um afiadíssimo diálogo interior da cantora combinado com uma persona artística que quase chega ao exagero, Be the Cowboy é uma coleção de petardos sobre perdas, raros ganhos e descobrimento em suas variadas facetas. O mito da perfeição é desnudado com brilhantismo.
05 – Noname – Room 25
Em algum momento da vida (ou em vários) há um crescente sentimento que permeia qualquer um. Nos perguntamos onde estamos, para onde e como vamos e o que será de nós mesmos até nos próximos 10 minutos. A rapper Fatimah Warner veste a persona de Noname para cantar inseguranças sob uma cama moderna de soul. Room 25 é uma delicada e divertida declaração sobre o que é crescer, por mais doloroso que seja.
04 – Rosalía – El Mal Querer
A cantora espanhola Rosalía talvez tenha se perguntado o que aconteceria se ela entregasse um segundo álbum misturando, basicamente, flamenco e música eletrônica. O resultado da combinação de um melodrama profundo com batidas feitas com apuro técnico, casadas para as pistas, mostra um disco essencialmente romântico.El Mal Querer não mostra uma nova Shakira, por assim dizer, mas alguém com voz própria e muito forte.
03 – Pusha T – Daytona
O veterano rapper voltou com Daytona, produzido pelo inconstante Kanye West, com um discurso afiado e rápido sobre sua experiência com a venda de drogas. Pusha T não quer glamorizar algo ou fingir o que não é, na verdade ele deixa muito claro que não está nem aí. Em apenas sete faixas, sua metralhadora verbal não poupa ninguém e sobre até para Drake na sua longa lista de desafetos. Ele não quer reclamar o trono, quer só o seu canto. E consegue.
02 – Janelle Monáe – Dirty Computer
Um disco conceitual pode ser uma armadilha para quem não tem muito o que falar. Dirty Computer, de Janelle Monáe, retoma a velha forma da excelente cantora ao combinar uma exposição de gêneros que conversam sem atropelos entre si. A vulnerabilidade e o medo expostos, vão dando lugar a um sentimento de resistência e empoderamento, uma declaração sobre a força do amor contra qualquer tipo de pensamento retrógrado.
01 – Idles – Joy as an Act of Resistance
O disco mais importante de 2018, Joy as an Act of Resistance é um testamento sobre a vida e o viver em tempos sombrios, embalados pelo som potente e raivoso deste quinteto inglês. A mistura de pós-hardcore com toques de pós-punk, você pode imaginar, soa muito pesado e cru. No caso do Idles, todo o discurso a favor da união, imigração, amor universal e alerta dos males do Brexit ou da televisão encontra eco na diversão. Necessário.