Com ‘Azul Moderno’, Luiza Lian fecha trilogia com competência
A cantora paulistana parece finalizar uma fase e indicar novos caminhos em ‘Azul Moderno’, onde mistura elementos usuais, explora novas dinâmicas e aprofunda sua veia lírica
Luiza Lian é um nome a se prestar atenção desde 2015, com sua estreia homônima. Naquela época, Luiza adotara a psicodelia como mote, resultando em uma obra coesa, que poderia sinalizar uma incursão definitiva no gênero. Dois anos depois, com ‘Oya Tempo’, houve um grande salto em relação às referências da cantora e compositora. Pensada como uma obra multimídia, o disco mostrou uma mistura azeitada de eletrônica e ritmos africanos e ganhou elogios merecidos de público e crítica. Meses depois, Luiza pegou ideias trazidas por Tim Bernardes (de O Terno) e Charles Txier e fez seu melhor disco.
‘Azul Moderno’ tem 10 faixas e curta duração e há um constante diálogo entre o novo e o antigo, a sutileza do que é cantado e a crueza das palavras nas letras. Violões e pianos aparecem aqui e ali, a eletrônica se tornou um elemento mais presente e há mais explorações nas dinâmicas entre as músicas. Toda a instrumentação soaria inócua, no entanto, não fosse o canto poderoso de Luiza Lian, que soa à vontade e mostra muita técnica. O álbum em nenhum momento soa como datado ou pastiche, mesmo com um amplo leque de referências nas músicas.
O disco começa com ‘Vem Dizer Tchau’, misturando axé, eletrônica e pop, aproximando Luiza da música chiclete bem feita, que anda em falta por aqui. Não se surpreenda se você se pegar cantarolando o refrão. ‘Mil Mulheres’, com forte discurso feminista e minimalista, dá um recado forte: ‘Que aquela hora, transando com você/Eu senti que transava uma multidão/Que eu era mil mulheres também’. ‘Sou Yaba’ tem o retorno ao tema do álbum anterior, temperado por um samba-reggae e de dinâmica muito bem construída, um dos hits do disco. ‘Mira’, é uma balada pontuada por climas diversos, ao mesmo tempo dedicada e pungente (com um easter egg para fã de Legend of Zelda) e ‘Iarinhas’ não esconde a influência do suingue da música brasileira e de outro refrão irresistível.
‘Pomba Gira ao Luar’ talvez seja das mais representativas, como um grande apanhado das várias fases exploradas por Luiza nos três discos. ‘Geladeira’ remete às bandas de chillwave, como Toro & Moi e Saint Pepsi, bem como à onda que Céu fez em seus discos mais recentes. ‘Notícias do Japão’ analisa com humor e ironia o momento atual das redes sociais: ‘Corre o globo sem perder o ponto claro/Onde ainda está/Curte o resto antes de guardar as horas/Que já estavam lá’. A percussiva ‘Santa Bárbara’ remete ao som da Nação Zumbi e ‘Azul Moderno’ encerra o disco quase como um mantra. ‘Solto a sua mãe/agradeço a caminhada/mas vou em outra direção/me perdoe pelas palavras crueis’, lamenta, ao mesmo tempo em que o clima trip-hop dá lugar a um violão típico de Jorge Ben. Com classe, Luiza encerra uma ótima trilogia que aponta para caminhos que podem surpreender ainda mais.
Avaliação: ótimo