L7nnon mostra personalidade em ótima estreia com ‘Podium’
Rapper da Zona Oeste do Rio revela-se como um dos grandes talentos da nova geração em seu primeiro álbum autoral
Os temas que circundam ‘Podium‘, álbum de estreia do cariocaL7nnon são exibidos logo ao fim da primeira faixa, o quase mantra ‘Mato no peito‘. “Por nós é claro que eu peito/Tudo no nosso nome/Nunca foi fácil, nunca vai ser/E se fosse era pra qualquer um/Se valoriza/Valoriza quem tá junto” diz, sob uma cama de beats e teclados sincopados. Lennon Frassetti, natural de Realengo, na Zona Oeste do Rio, expõe seus medos, vitórias, agradece e oferece motivos para continuar tentando superar obstáculos do dia a dia, que se apresentam de diferentes formas. Produzido pelo DJ e beatmaker Papatinho, do grupo ConeCrewDiretoria, o disco de 11 faixas é um dos grandes lançamentos deste ano do rap.
A frenética ‘Treinado‘, com seu refrão grudento, reflete sobre escolhas pessoais e faz um paralelo com rotina violenta da cidade nos primeiros versos. Como uma espécie de manual, L7nnon não se detém muito nos ‘comos’ e porquês, mas prefere examinar a situação, buscar saídas e permanecer de pé contra as adversidades, adotando mudanças de comportamento ou lutando contra. No primeiro single divulgado, ‘Despertadores‘, essa dinâmica fica clara. “Versos são despertadores, dizem: acorda!/É desesperador quem julga pela cor da pele/Veja bem a quem se refere/Tua palavra tem poder, às vezes fere“. ‘Já venci‘, uma das mais poderosas do disco. marca território ao descrever a infância do rapper, racismo, detratores e decreta: “Agora:vitória”. vício”.
‘Sorrisos‘, com participação de Loureana, retrata um relacionamento que já acabou, com versos afiados e casa guitarra (com direito a um longo solo) com beats onde o rapper parece sentir saudades do tempo que passou, mas vê tudo como um processo de amadurecimento. “Olha o que plantamos, sorrisos e não prantos”, afirma. O ritmo segue na mesma toada com ‘QQCQDM‘, mas agora a situação é diferente: o eu lírico conhece alguém novo, se apaixona e se diz mudado e, ao fim, marca sua fidelidade. “Não vou pisar no teu coração, eu vou magoar nessa batida /Porque todo o tempo do mundo ainda é pouco, hoje eu pago a conta, deixo o troco“, avisa. Quando desacelera, o canto preciso e diversificado de L7nnon também é uma de suas facetas mais interessantes.
A faixa-título relembra os tempos de skate e alinha o discurso de autoestima com o cenário do próprio rap, afastando as más companhias e marcando conhecimento de causa. “E eu vejo morte muito antes da maioridade/Quanta criança com complexo de inferioridade/Nossa geração joga a vida no lixo/Esse mundo é uma balada e nem pede a identidade“. ‘Ninguém‘, com presença de MV Bill, reafirma as falas de positividade e cita ‘Só Deus pode me julgar‘ em um dos grandes cruzamentos da obra, com resultado bem acima da média. As reflexões sobre liberdade, influência, igualdade racial voltam em ‘Celebrando a vida‘. com destaque para versos em que L7nnon e John atacam o caos na saúde.
‘Keep going‘ traz o rapper e Maia sob um beat cadenciado e uma boa harmonia de violão, em faixa que se destaca no álbum e uma das candidatas a hit com seu refrão pegajoso. “Vivo como se não houvesse amanhã/Ainda lembro de tudo como se fosse ontem/Mundo doente, mas a mente sã/Escreva tua história e não deixe que outros contem“, aconselha. O impacto de ‘Podium‘, no entanto, seria outro não fosse a última música, a excelente ‘1994‘. Fechando o quadro de histórias iniciado na primeira faixa, L7nnon faz uma grande ode à família e à sua trajetória até aqui. Usando mensagens de familiares , é difícil não se emocionar com o recado do avô de Fressatti, que resume o disco e o que deve esperar por ele: “Tô tirando onda, meu amigo, muito obrigado, meu netão. Muito bonito, tô tirando onda, muito obrigado, querido. Te amo, filho“.
Avaliação: Ótimo