Crítica: Capitã Marvel foca na construção da personagem
Brie Larson comanda uma personagem confusa em um filme na média da Marvel, que antecede Vingadores: Ultimato
A expectativa era tão alta que gerou desdém. Muita gente – especialmente homens – se mostrou incomodada com a proposta de um filme sobre a Capitã Marvel, que nunca ocupou destaque nesse universo cinematográfico. Ainda mais quando anunciaram que Brie Larson seria a heroína Carol Danvers. Acusaram-na de ser feminista, veja só! Mesmo que ela seja vencedora do Oscar, conquista que nenhum dos Vingadores obteve.
A Marvel, no cinema, consegue reproduzir a filosofia de seu mestre, Stan Lee, ao promover a diversidade. Após o sucesso estrondoso de Pantera Negra, com uma equipe predominantemente negra, Capitã Marvel chegou aos cinemas no Dia Internacional da Mulher, com roteiro e direção, em esmagadora maioria, feminino.
Os primeiros números são promissores, pois a película já triunfa ao estabelecer novo recorde de bilheteria em filme estrelado por uma mulher. Também é a melhor estreia do ano, até o momento, entre outras marcas históricas, sinal de que o boicote anunciado por parte do público não surtiu lá muito efeito.
Quando se conta a origem de um personagem, os roteiristas, normalmente, escolhem por dois caminhos: destrinchar a jornada, que pode colocar um freio na dinâmica, ou de forma mais fluida, como foi feito neste.
Em vez de narrar, didaticamente, como a pilota Carol Danvers se tornou a Capitã, a equipe optou por explorar flashes de memória da personagem. Isso tem um risco direto sobre a construção da personalidade e do vínculo com o público. Capitã Marvel está justamente nesse tênue limite. É uma escolha acertada, já que Brie Larson esbanja competência para não deixar a corda ruir.
Ambientado nos anos 1990, o filme trata, resumidamente, da origem da heroína, que estará no próximo filme da saga Vingadores: Ultimato. A escolha por essa cronologia poderia garantir uma bela sensação de nostalgia. É que, diferente do protagonismo da trilha sonora em Guardiões da Galáxia, na nova produção isso parece mais uma tentativa pior explorada. Há de se ressaltar, no entanto, uma ótima cena de luta ao som de No Doubt.
Os efeitos visuais também estão aquém do que a Marvel acostumou o público. Cenas no espaço ou da Inteligência Suprema, por exemplo, são um pouco decepcionantes.
Já o humor, outro recurso adotado frequentemente pelo estúdio, soa espontâneo – ao contrário dos filmes do Thor. Carol Danvers é uma personagem engraçada, mas Vers não se lembra muito disso. Para quem não sabe, a pilota da Força Aérea Americana foi para o espaço, se juntou ao povo Kree, ganhou nova identidade e teve suas lembranças apagadas. Por sinal, as cenas hilárias em dupla com Nick Fury (Samuel L. Jackson) ocupam docemente um lugar no coração do fã.
A produção segue acertando na criação da identificação, seja na já citada parceria com o então agente da S.H.I.E.L.D., no melhor estilo filme policial, seja no reencontro com a melhor amiga de Danvers, a também pilota Maria Rambeau (Lashana Lynch). A humanidade da confusa personagem ganha um reforço, ao menos superficial, ao explorar a relação com a menina Monica (Akira Akbar), filha de sua amiga, além de sua gata Goose – que deu muito trabalho para Brie Larson durante as gravações.
Outro destaque positivo é o ator australiano Ben Mendelsohn, que, apesar da caracterização quase irreconhecível, é habilidoso ao dar vida ao principal antagonista, o skrull Talos.
Como todo herói precisa de um mentor, para quem não conhece os quadrinhos, deixa se enganar que este seria o comandante da Star Force, Yon-Rogg (Jude Law), mas logo se vê que a verdadeira inspiração dela é a Dra. Wendy Lawson, ou Mar-Vell, interpretada por Annette Bening, para o azar de quem não admite mulheres fortes no comando.
Enquanto filme, Capitã Marvel passeia bem ali na média das produções do estúdio. Mas não é mero aperitivo para o próximo Vingadores. É justamente na trajetória errante de Danvers que Larson se sobressai, comandando, com muita capacidade, a ascensão da história até a crise que dá norte ao roteiro – muito mais profunda do que se esperava. Diferente de Pantera Negra, com uma pegada mais “militante”, a Marvel optou pela sutileza neste, com pílulas mais objetivas em certos momentos, que valem a vibração dos ávidos, mas não justifica a indignação dos “críticos”.
Avaliação: Bom