‘John Wick 3: Parabellum’ enfileira cenas eletrizantes e algum conteúdo
Filme, divertido como entretenimento pipoca, monta ‘balé’ de coreografias e eleva cinema de ação
John Wick 3: Parabellum não poupa tempo: o filme começa com o matador, interpretado por um seguro Keanu Reeves, tentando deixar a cidade de Nova Iorque após uma recompensa de 14 milhões de dólares ser colocada por sua cabeça. No filme anterior, John Wick matou um alvo dentro do Hotel Continental, comandado por Winston (Ian McShane), algo proibido para a Alta Cúpula — espécie de organização reguladora de assassinos — e precisa pagar o preço. Para quem não conhece a franquia, Wick é um exímio assassino que havia se aposentado para viver com sua mulher, morta por um câncer, e inicia uma cruzada contra assassinos de seu cachorrinho (no primeiro capítulo) e mafiosos que danificaram seu carro na continuação.
Como a própria série deixa exposto, pouco importam os motivos que darão início a uma cena de ação coreografada milimetricamente atrás da outra. Há algum roteiro baseado nos filmes de faroeste de vingança, a presença de Anjelica Huston, filho do diretor John Huston, não é à toa afinal, mas a combinação vai além de qualquer coisa produzida pelo cinemão de Hollywood. A estética é elevada à estratosfera aqui: prepara-se para ver John Wick lutar entre estantes de uma biblioteca, em cima de um cavalo, de uma motocicleta e no clássico ambiente ação-anos-90 (a presença de Mark Dacascos, ator de filmes B daquela época também não é à toa): uma sala espelhada que se torna um labirinto. O intuito é simples, tais movimentos são uma manutenção e uma declaração de amor à própria arte de montar uma coreografia.
Basicamente, todo frame pula da tela do cinema com muitas cores e a sujeira calculada da fotografia de uma sequência eletrizante, uma leve pausa para introduzir novos elementos à história (ou apenas um diálogo para o cânone) e mais uma montagem absurda. A influência para as cenas de luta vem ainda dos anos 90 e produções mais recentes como The Raid: A Invasão (se você viu, fique atento para duas participações especialíssimas) e as brigas têm mais destaque que os combates com armas — tão absurdos e sangrentos quanto, é bom frisar. A parte mais desinteressante mostra Reeves em Casablanca contracenando com Halle Berry, uma versão feminina sua, no que parece uma sequência para apresentá-la e utilizá-la no vindouro quarto filme.
No melhor estilo Velho Oeste, há uma reviravolta ao fim e mais uma no finzinho para o deleite dos fãs. É o espetáculo puro e simples e todos parecem entender seu papel ali. De um Laurence Fishburne, que faz um líder de um bairro com cartas na manga, a Asia Kate Dillion, uma ‘juíza’ fria e calculista que representa a Alta Cúpula, lembrando seus melhores momentos como uma tecnocrata no seriado Billions. Para os padrões do gênero, Parabellum é um salto muito grande ao enfileirar suas ambições e o mérito é do diretor Chad Stahelski, ex-dublê de Reeves no clássico de ficção científicaMatrix. Seu pistoleiro solitário é quase uma entidade por si só, que apanha, se fere, cai, é baleado e furado…mas levanta de novo e de novo, como um herói imbatível.
O que Stahelski quer é se apropriar do estilo e marcar território e, para isso, não te poupará de quase sentir a dor dos golpes desferidos por e contra seu personagem. Por trás de toda a brutalidade exibida, há também um selo de intenções. O riso pode vir nos momentos mais absurdos, notadamente os que Wick não usa uma arma de fogo para matar uma ameaça ou como quando encontra seu mentor e o diálogo que se segue, tão sem sentido quanto algumas das melhores amostras de plasticidade gratuita. John Wick 3: Parabellum é o mais ambicioso e certamente o mais divertido da franquia. Em 21 de maio de 2021 estreia o capítulo 4 (provisoriamente chamado de John Wick: Ballerina), que promete encerrar a série e elevar o nível. A conferir.
Avaliação: Bom