‘Homem-Aranha: Longe de Casa’ introduz nova fase nos filmes da Marvel
Filme é uma boa introdução ao que virá no MCU e no próprio mundo do aracnídeo
Homem-Aranha: Longe de Casa é melhor que seu predecessor, o também bom Homem-Aranha: De Volta ao Lar, de 2017, por expandir e resolver de forma mais concisa o universo do Amigo da Vizinhança. As cenas de ação são tão boas quanto o primeiro filme, as atuações mais precisas (especialmente do protagonista e seu interesse amoroso) e este aqui se firma em uma estrutura mais fechada até as excelentes cenas pós-créditos – sim, você precisa ficar até o fim e, acredite, vale muito a pena. Dito isto, Longe de Casa não é exatamente um filme memorável e nem entra para o panteão das 10 grandes produções do MCU mas esta não parece ser a intenção. O negócio é, corajosamente, levar o público pela mão em uma viagem lenta, mas altamente recompensadora.
Dirigido novamente por Jon Watts, esta continuação também introduz novos elementos ao universo que a sustenta, mas eles são apenas levemente explorados ao fim. Aqui, cinco anos após metade do mundo ‘blipar’ nas mãos de Thanos e os Vingadores salvarem o dia, Peter Parker (Tom Holland, cada vez mais confortável no papel) tem de conviver com a ausência do Homem de Ferro, seu mentor e maior inspiração. Enquanto isso, uma viagem bancada pela escola por vários países da Europa pode finalmente aproximá-lo de Michelle Jones (Zendaya), em uma espécie de subtrama que se conecta naturalmente com a ameaça deste filme.
Peter é convocado por Nick Fury (o sempre excelente Samuel L. Jackson) para lidar com os Elementais, entidades baseadas nos quatro elementos da Terra, que podem destruir o planeta. O herói conhece Quentin Beck, o Misteryo (Jake Gyllenhaal), que já lidou com as criaturas e busca se vingar da morte de seus familiares. Como esperado, Beck age como um novo mentor para o aracnídeo e ofan service chega a contento. A importância de Tony Stark está impregnada no filme após sua morte em Vingadores: Ultimato – não é surpresa que ele esteja “presente” em alguns momentos-chave de Homem-Aranha: Longe de Casa em forma de homenagem/despedida.
Quando as cartas entram de verdade na mesa é que Longe de Casa se torna mais interessante. Em sua abordagem do cotidiano de Parker/interações com amigos/MJ, Watts escancara suas influências de John Hughes, responsável por clássicos oitentistas como Clube dos Cinco e A Garota de Rosa Schocking nessas relações interpessoais, principalmente no caso do primeiro: o grupo de amigos segue esteriótipos e problemas centralizados à geração millenial tal qual Hughes explicitou em sua produção mais conhecida.
Há também excelentes cenas de gags, semelhantes a esquetes cômicas de programas como Saturday Night Live, que ficam lado a lado de momentos divertidos de um Guardiões da Galáxia ou Thor: Ragnarok, por exemplo. As interações entre Tia May (Marisa Tomei, ótima) e Happy (Jon Favreau) com Peter Parker/Homem-Aranha, as maiores pontes nesse aspecto, foram outra escolha muito feliz do diretor. A parceria do último com o herói deve ser uma constante daqui para frente e o interessante personagem de Favreau tende a ganhar mais espaço, como uma espécie de Alfred para o garoto. No lado das batalhas, há boas surpresas fora do espectro ‘que coisa gigantesca’. Sem estragar a surpresa, basta dizer que o conflito que antecede a batalha final, que também conserva boas tiradas, é uma das mais criativas já executadas dentro do mundo do aracnídeo.
As atuações, especialmente do trio Holland/Gyllenhaal/Zendaya também ajudam a solidificar o próprio universo do Homem-Aranha. É fácil se apegar ao par romântico e torcer por eles, justamente pela naturalidade com o que mostram na tela. Gyllenhaal mostra especialmente como é bom ao personificar emoções que vão da ternura à frustração (e um pouco de boa e calculada canastrice) de um frame a outro, literalmente. A continuação aponta para caminhos que podem mudar o Universo Cinematográfico Marvel.
Se Homem-Aranha: Longe de Casa acerta ao surpreender com seu vilão(ões) e construir uma boa história de amadurecimento calcada na clássica jornada do herói mais resolvida que De Volta ao Lar, também depende muito de sua estrutura ao optar por esconder suas intenções até o último minuto. Quem deixar a sala de cinema antes da hora (Pitaya Cultural presenciou que, sim, apesar da relação de ‘confiança’ da Marvel com o público, pode acontecer), arrisca a ficar com o entendimento comprometido. Funciona como uma diversão despretensiosa, um bom filme de Sessão da Tarde, por assim dizer, mas fica somente nisso justamente por se permitir ao novo somente quando não gera tanto impacto quanto o esperado.
Avaliação: Bom