Terceira temporada de ‘Stranger Things’ intensifica clichês e diverte

 em cinema e tv

Série da Netflix volta aos trilhos e prepara despedida

Stranger Things é um fenômeno de audiência desde a sua estreia, em 2016. Com esta terceira temporada, que voltou aos trilhos após a fraca leva de episódios anteriores, a série se tornou a mais assistida da Netflix, com mais de 40 milhões de espectadores. Em 2020, Onze (Millie Bobby Brown), Mike (Finn Wolfhard), Dustin (Gaten Matarazzo), Lucas (Caleb McLaughin) e Will (Noah Schnapp) se despedirão das ‘coisas sinistras’ que rondam a cidade de Hawkins e os oito episódios que precedem o final fazem um bom trabalho ao preparar os espectadores, ao mesmo tempo em que descartam as escolhas sem substância da segunda temporada.

Desta vez, a atmosfera ganha contornos de terror gráfico e o roteiro intensifica e abraça de vez os clichês oitentistas, o que é bastante positivo para a série. Em 1985, um shopping é o badalado novo point para os adolescentes locais mas, nos subterrâneos do centro comercial, russos (sim, os inimigos número 1 da América naquela década) tentam abrir um portal para trazer o Devorador de Mentes, inimigo já combatido pelos heróis na aventura passada, ao mundo. Antes dos novos perigos, cada personagem é reapresentado de forma natural e coesa.

O policial Jim Hopper (David Harbour) tenta manter os apaixonados Mike e Onze com a porta aberta enquanto namoram e busca se aproximar de Joyce Byers (Wynona Ryder), recuperada dos traumáticos eventos de 1984. Lucas e Max (Sadie Sink) também namoram e Dustin volta de férias na casa dos avós temendo perder o contato com seus amigos. Enquanto isso, Jonathan Byers (Charlie Heaton) e Nancy Wheeler (Natalia Dyer) trabalham no jornal local, onde Nancy convive diariamente com o machismo dos colegas. Steve Harrington (Joe Keery) não conseguiu entrar na faculdade e trabalha em uma sorveteria no shopping Starcourt ao lado da sarcástica Robin (Maya Hawke), cuja cliente principal é a esperta-demais-para-a-idade Erica (Priah Fergunson), irmã de Lucas.

Tudo começa quando o salva-vidas Billy (Dacre Montgomery), irmão de Max, cruza com o Devorador de Mentes, que agora possui os corpos de suas vítimas fora do Mundo Invertido. Tornando-se ‘oficialmente’ um vilão, Billy ‘ajuda’ o monstro em seu intento de dominar o planeta, reunindo mais corpos para seu novo mestre. Conforme os fatos vão se desenrolando, formam-se núcleos diversos para combater a ameaça e esta é uma das escolhas acertadas dos irmãos Matt e Ross Duffer, que dirigem metade dos episódios desta leva.

Dustin, Erica, Steve e Robin se infiltram na base russa, sem saber do que os esperava. Jonathan e Nancy investigam os bizarros casos de ratos agressivos e sumiços de fertilizantes locais, enquanto Hopper e Joyce conhecem a “ameaça vermelha” de perto, na pele de um cruel assassino (Andrey Ivchenko, que emula propositalmente Schwarznegger) e contam com a ajuda de um cientista rebelado (Alec Utgoff) e o conspiracionista Murray Bauman (Brett Gelman) contra as ameças do prefeito corrupto de Hawkins (Cary Elwes, canastrão como sempre). O restante dos amigos tentam parar Billy e, nessa jornada, redescobrem o valor da amizade, caráter e companheirismo.

Stranger Things não se propõe como um projeto de grandes reflexões, o que também é um acerto. Há boas cenas que envolvem o empoderamento feminino, e alguns dos melhores momentos vêm da interação entre Max e Onze, o valor de um amor recém-descoberto, a importância de ser correto e preservar a amizades e outros valores morais, todos caros às produções que influenciaram os Duffer e os demais diretores envolvidos. A entrega aqui é em relação ao entretenimento descompromissado, com uma pequeno comentário social espalhado nas cenas, mas o núcleo gira em torno de como esses heróis vão conseguir salvar o dia mesmo sangrando – como uma boa aventura de RPG ou um filme clássico dos anos 80.

Quanto aos clichês, eles estão todos lá e sem moderação. Vilão russo/comunistas malvados? Certo. O(s) sacrifício(s) em nome do bem comum, geralmente de uma figura antes errante? Certo. Falas de efeito que você já sabe quais serão antes dos personagens falarem? Claro! Que tal o personagem secundário que PRECISA dizer ao casal improvável que, bem, eles são um casal? Alvo certo e isso não é demérito. Ao abraçar de vez sua mistura de comédia/drama com romances de Stephen King, a série amadurece junto com seus principais personagens e toma caminhos interessantes que podem resultar em aventuras ainda mais elaboradas dentro daquele universo.

Os atores estão cada vez mais confortáveis em cena e a interação entre os cinco principais é cada vez mais natural, bem como a consolidação das personagens Erica e Max como figuras principais no elenco. Os efeitos especiais seguem bons, com destaque para as cenas sangrentas que dominam boa parte dos capítulos, além da trilha sonora primorosa de sintetizadores conduzidos porKyle Dixon e Michael Stein que dão o toque de suspense necessário. Por fim, o oitavo capítulo desta temporada surpreende levemente por suas escolhas narrativas e aguça a curiosidade para o último ano, também deixando claro que Stranger Things está prestes a se despedir com um fim digno (ou mesmo alcançar o definitivo status de cult).

Avaliação: Bom

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