Céu lança seu melhor trabalho em ‘APKÁ!’
Versando sobre o amor em 11 faixas, cantora mostra força autoral e qualidade como intérprete
Sem aviso, a cantora e compositora Céu lançou, na última sexta-feira (13), seu quinto e melhor disco de estúdio. APKÁ!, que representa o balbuciar feliz de seu filho Antonino, versa sobre o amor (e seus sabores e dissabores) em 11 faixas, onde Maria do Céu mostra força como artista autoral e se firma como intérprete ao dar voz a composições de Caetano Veloso (Pardo) e Dinho Almeida (Make sure your head is above), da banda de rock psicolédico Boogarins. O álbum, produzido novamente por Pupillo, da Nação Zumbi, e Hervé Salters, do grupo francês General Eletriks, não soa como continuação deTropix (2016), mas aposta mais no minimalismo em pequenos-grandes arranjos.
APKÁ! abre com Off (Sad Siri), que saúda os ouvintes e expõe o coração aberto de Céu em meio a camadas eletrônicas que nos colocam em uma conversa franca com ‘a famosa’ personalidade de aplicativo. Coreto, escolhido como primeiro single, é uma canção pop cuja melodia está ancorada nos sintetizadores marcantes de Salters. “Mas você petrificou, tudo, tudo que queimava/Trate de se resolver, pois agora/Tô cantando mais que nunca/O que aflora, eu quero ser a sua trilha/Quero tocar na sua rádio”, avisa ela, antes de desaguar no refrão em falsete.
Forçar o verão, que aparenta falar sobre os sombrios tempos atuais em uma roupagem eletrodance é um acerto por fazer as harmonias de guitarra de Pedro Sá aparecerem com destaque, sem deixar a canção cair para o óbvio. “O tempo fechou e ninguém viu”, canta. Já em Corpocontinente, que versa sobre a saudade da pessoa amada, remete às melhores faixas do trabalho anterior da artista. A toada minimalista e envolvente na mesma medida mostra a habilidade da cantora como letrista.
Pardo, que parece originalmente um afoxé, é envolta em eletrônica e uma suave percussão afro para falar de sensualidade. “Veio um beijo preto/Sangue sob a pétala/Veio um papo reto/Língua sobre a úvula”, afirmaCéu, com destaque para os vocalizes de Seu Jorge. Nada irreal soa familiar por mostrar os melhores aspectos da artista, que soam tanto familiares quanto apontam sutilmente para uma nova direção (preste atenção nos arpeggios que costuram a faixa, detalhe de uma produção de muito afinco).
Make sure your head is above tem uma guitarra envolvente quase bossa nova e uma bela letra e melodia de Dinho Almeida – a parceria de Céu com o grupo já mostrava sinais de acerto desde a sessão nos estúdios Red Bull. Fênix do amor reúne tecnopop e eletro em um canto seguro, que valoriza a potência da música. Rotação talvez seja o melhor exemplo do que ela ambiciona, oscilando entre o experimental e o pop. Ocitocina (Charged), a mais longa e melhor do disco fala de amor de forma rasgada. “Não me lembro de medo/Do renascer poente/Que tava a minha espera/Ao encontro do meu presente”, reflete.
Por fim, Eye contact, parceria com o duo Tropkillaz, fecha APKÁ! com versos em inglês, que parecem resumir toda a carreira da artista em sua múltipla sonoridade. E, sendo versátil, Céu mostra criatividade e firma seu nome como um dos mais interessantes surgidos na década passada.
Avaliação: Ótimo