‘Inacreditável’ mostra negligência e incapacidade da polícia em lidar com mulheres vítimas de estupro

 em cinema e tv

Baseada em fatos reais e em artigo-reportagem que ganhou o prêmio Pulitzer, série conta a história de mulheres estupradas por um maníaco sexual, focando em jovem que foi coagida a desmentir abuso que sofreu

Disponível desde setembro na Netflix, Inacreditável é daquelas séries que faz embrulhar o estômago. Baseada em fatos reais e no artigo-reportagem que ganhou o prêmio Pulitzer, ela conta a história de mulheres estupradas por um maníaco sexual, e como a negligência e incapacidade da polícia potencializou a dor das vítimas. Trailer no final do texto!

A história gira em torno de Marie Adler (Kaitlyn Dever), uma jovem que completa 18 anos e,  após passar por vários lares adotivos, passa a morar sozinha, sendo apoiada por assistentes sociais. Ela tem a casa invadida e é amarrada, estuprada várias vezes e fotografada pelo criminoso sexual. Após os abusos, que duram horas, é obrigada a tomar um banho demorado para tirar qualquer vestígio do crime. 

O primeiro de oito episódios da série faz o espectador mergulhar na dor e sofrimento das vítimas de estupro, através da jovem personagem. O sofrimento de Marie começa ainda em casa, ao se ver naquela situação pós-estupro. 

O episódio mostra o constrangimento ao qual é exposto mulheres vítimas de abuso sexual e a falta de treinamento dos policiais. Marie é interrogada por dois homens (o primeiro de ao menos cinco depoimentos), que duvidam da veracidade dos fatos. A condução da narrativa envolvendo o interrogatório, de questioná-la e culpá-la, lembra muito Olhos que Condenam, de Ava Duvernay.  

Ela também é obrigada a relatar o estupro repetida vezes para enfermeiros, médicos, assistentes sociais. O episódio consegue transmitir a dor e o constrangimento que a personagem sofre, o que também é reforçado pela boa direção e edição das cenas. 

O histórico da jovem “problemático” faz até os pais adotivos de lares que ela passou duvidarem da narrativa do abuso, e uma mãe que cuidou dela relata à polícia que ela teria inventado o estupro “para chamar atenção”. 

Diante da pressão da polícia e todos ao seu redor, ela acaba recuando e dizendo que tudo não passou de uma invenção, guardando para si mesmo a dor do abuso sofrido e as consequências psicológicas dele. O absurdo não acaba, sendo ela processada pela cidade por falsa acusação de crime. 

Reviravolta

Em paralelo à história de Marie, Inacreditável mostra a investigação de duas detetives, interpretadas por Toni Collette (indicada ao Oscar como atriz coadjuvante por ‘O Sexto Sentido‘) e a ganhadora do Emmy Merritt Wever pela série Godless. Elas tentavam desvendar casos de estupros semelhantes ao sofrido pela jovem, em cidades diferentes. 

A série mostra a importância do trabalho das mulheres na investigação dos casos, dando voz e atenção necessária às vítimas de violência sexual e questionando o tratamento dado a elas quando denunciam esse tipo de crime. 

A duas detetives descobriram o autor dos estupros e revelaram a falta de integração entre as polícias, falha que fazia até então o criminoso seguir por anos impune.

Com a prisão do estuprador, um ex-militar da Marinha americana, as detetives acabam encontrando nos arquivos de imagens das vítimas fotos de Marie Adler, causando uma reviravolta em seu caso até então arquivado. 

O estuprador Marc O’Leary foi condenado a pena máxima de 327,5 anos de prisão.  

Detetives da série ‘Inacreditável’ que investigam os crimes sexuais | Divulgação

Série de reportagem ganhou Pulitzer e virou livro

A série, dirigida por Susannah Grant e Lisa Cholodenko, conhecedoras de narrativas femininas, é baseada em fatos reais. Os crimes foram retratados no artigo-reportagem “An Unbelievable Story of Rape (Uma História Inacreditável de Estupro, em tradução livre)”, escrito em 2016 pelos jornalistas  T. Christian Miller e Ken Armstrong e publicado nos sites ProPublica e The Marshall Project. 

Eles acompanharam de perto o trabalho das duas detetives para mandar O’Leary para a cadeia e ser condenado pelos vários estupros. A narrativa, assim como na série, também mostra a forma como vítimas de violência sexual são tratadas ao denunciar crimes sexuais. A matéria rendeu à dupla o Prêmio Pulitzer e depois virou o livro ‘A Falsa Acusação’.

Avaliação: Ótima

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