Bolão do Oscar 2020: quem pode, quem deve e quem vai ganhar

 em cinema e tv

Descubra nossos palpites para o tradicional prêmio da indústria cinematográfica

Já virou tradição, você sabe. Todo ano fazemos um bolão sobre os principais prêmios do Oscar, tradicional evento da indústria cinematográfica americana. E aqui estamos nós outra vez, com o Bolão do Oscar 2020 nas cinco principais categorias (filme, diretor, ator, atriz e roteiro original) com o acréscimo de ator e atriz coadjuvante e roteiro adaptado.

Antes, é preciso fazer uma breve análise. Há, como sempre, algumas injustiças gritantes, uma espécie de tradição ruim que se repete e contribui apenas para dar um aspecto cada vez mais fossilizado ao prêmio. Sim, o Oscar continua majoritariamente branco, masculino e conservador. A ausência de um grande filme como The Last Black Man in San Francisco, a esnobada em Adam Sandler por seu trabalho monumental em Joias Brutas e a “troca” de Greta Grerwig para dar lugar a um inócuo Todd Phillips em Melhor Direção são apenas três exemplos de muitos.

A batalha indústria x streaming também segue às claras: apesar das várias indicações da Netflix e a presença de O Irlandês entre várias categorias, a plataforma deve sair sem muitas conquistas. Reflexo de quem hoje dá as cartas e tem a regra do jogo. O panorama deve mudar em alguns anos? A ver. De um lado, a Academia não pode ignorar a qualidade das produções exibidas em streamings mas, por enquanto, pode ditar o que o mercado e Hollywood querem ver (e consagrar).

Neste quase-jogo-de-cartas-marcadas-com-algumas-surpresas, Pitaya Cultural também brinca. Quem pode ganhar? Quem deveria ganhar? E quem vai ganhar? Domingo, 9 de fevereiro, descobriremos. Enquanto isso, vamos aos nossos palpites para o Bolão do Oscar 2020:

Foto: Todd Wawrychuk / ©A.M.P.A.S.

Roteiro Adaptado (concorrem: Steve Zaillian por O Irlândes, Taika Waititi por Jojo Rabbit, Todd Phillips e Scott Silver por Coringa, Greta Gerwig por Adoráveis Mulheres e Anthony McCarten por Dois Papas)

– Quem pode ganhar: Steve Zaillan e Greta Gerwig desenvolveram histórias fortes e memoráveis, conseguindo solidificar e expandir os universos retratados nos roteiros. No caso de Greta, outras adaptações já foram feitas, mas nenhuma com o mesmo primor. Taika Waititi ousou ao imaginar uma amizade imaginária entre um garotinho alemão e Adolf Hitler na Segunda Guerra, para focar em questões sensíveis como crescimento emocional, família e memória. A ousadia poderia  premiá-lo, mas lembre-se que há uma ala conservadora da Academia. Anthony McCarten conseguiu fazer com que duas figurar controversas, cada um à sua maneira, ganhassem ares de simpatia mesmo com um quê de revisionismo. No mais, a presença de Phillips e Silver me soa como o bom e velho tapa buraco.

– Quem deve ganhar: Pelas credenciais, Zaillan e Greta saem na frente, mas McCarten pode surpreender.

– Quem vai ganhar: Na batalha entre os menos premiados da noite, Greta Gerwig vai levar essa por Adoráveis Mulheres.

Foto: A Fear Of Heitz

Roteiro Original (concorrem: Rian Johnson por Entre Facas e Segredos, Noah Baumbach por História de Um CasamentoSam Mendes e Kristy Wilson-Cairns por 1917Quentin Tarantino por Era Uma Vez…em Hollywood e Bong Joon Ho e Han Jin Woon por Parasita.

– Quem pode ganhar: Rian Johnson, que criou polêmica entre os fãs de Star Wars pelo belíssimo Episódio VIII, ganhou muitos elogios por sua abordagem nova/velha das histórias de crime. É um grande autor, que tende a ser laureado em projetos futuros. Noah Baumbach escreveu oKramer Vs Kramer dos dias atuais, uma parábola forte sobre o fim de um relacionamento e recomeço, mas este ainda não é seu melhor filme. Se Sam Mendes e Kristy Wilson-Cainrs evitam os clichês de guerra em várias passagens pequenas, mas bem pontuadas de 1917, o roteiro não é o forte e perde para o visual. Quentin Tarantino escreveu uma esmerada carta de amor à Hollywood sobre como gostaria de imaginar um futuro no cinema: a manutenção do velho se adaptando ao novo. Receita de bolo que própria Hollywood gosta de provar. Bong Joon Ho e Hai Jim Woon passearam por gêneros e construíram uma parábola dura e realista sobre luta de classes e os males do capitalismo. Um clássico que ainda deve reverberar por muitos anos.

– Quem deveria ganhar: Bong Joon Ho e Han Jin Woon pelo fundamental e poderoso Parasita.

– Quem vai ganhar: Se não houver surpresas, este é do Tarantino por Era Uma Vez…em Hollywood.

Foto: Jeff Kravitz / FilmMagic

Atriz Coadjuvante (concorrem: Kathy Bates por O Caso Richard Jewell, Laura Dern por História de um Casamento, Scarlett Johansson por Jojo Rabbit, Florence Pugh por Adoráveis Mulheres e Margot Robbie por O Escândalo)

– Quem pode ganhar: Kathy Bates, constantemente esnobada, dessa vez parece cumprir tabela em um filme “padrão” Clint Eastwood, que segue no piloto automático em seus últimas produções. Laura Dern está impecável em História de um Casamento e a dinâmica entre o casal só acontece pela força de suas ações, em um papel fundamental. Scarlett Johansson mostra que é uma atriz versátil e vai da comédia à tristeza em Jojo Rabbit, mas sai prejudicada pelo pouco tempo de tela. Florence Pugh rouba todas as cenas de Adoráveis Mulheres e por pouco não rouba o protagonismo de Saiorse Ronan. Margot Robbie mostra afinco em um papel menor no bobo O Escândalo, dando credibilidade e fazendo o que pode, mas refém de um roteiro fraco.

– Quem deveria ganhar: A batalha aqui é entre Laura Dern e Florence Pugh. Uma, consagradíssima por grandes papeis, a outra se mostrando cada vez maior em diversidade (Midsommar – O Mal Não Espera a Noite).

– Quem vai ganhar: Laura Dern, por História de um Casamento.

Ator Coadjuvante (concorrem: Tom Hanks por Um Lindo Dia na Vizinhança, Anthony Hopkins por Dois Papas, Al Pacino por O Irlandês, Joe Pesci por O Irlandês e Brad Pitt por Era Uma Vez…em Hollywood)

– Quem pode ganhar: Tom Hanks está praticamente impecável como o bondoso (e minimamente controverso) Sr. Rogers, é quase um retrato-espelho do ator, mas Hanks depende do filme, que não funciona e tem seus problemas: é difícil comprar a história de um santo vivo. Anthony Hopkins, um colosso, consegue dar vida e faz os espectadores terem alguma simpatia pela figura controversa de Bento XVI, o que é um baita feito, mas a relação é mais de escada para o Francisco de Jonathan Pryce e não exatamente memorável.  A dinâmica de Al Pacino e Joe Pesci é um dos grandes momentos de O Irlandês, mas você já viu Pacino ser intempestivo e cômico antes, em momentos diferentes de sua carreira. Pesci arrebata apenas com um olhar, um verdadeiro trator, mas a Academia não vai conceder este prêmio para a Netflix. Brad Pitt é o favorito, com a performance de sua vida, falamos antes, como o amigo-dublê-faz tudo de Era Uma Vez…em Hollywood.

– Quem deveria ganhar: Joe Pesci. Não vai acontecer porque Pesci já se autodeclarou aposentado, fez um favor para o amigo Scorsese e despreza o Oscar. E, de novo, o fator streaming.

– Quem vai ganhar: Brad Pitt por Era Uma Vez…em Hollywood.

Atriz (concorrem: Cynthia Erivo por Harriet, Scarlett Johansson por História de um Casamento, Saiorse Ronan por Adoráveis Mulheres, Charlize Theron por O Escândalo e Renée Zellweger porJudy – Muito Além do Arco-Íris)

– Quem pode ganhar: Não vimos Harriet, que vai estrear somente após a premiação, mas as crítica foi elogiosa com Cynthia Erivo. Outra ausência é Lupita Nyongo, impecável emNós, mas esnobada junto com Jordan Peele. Scarlett Johansson duela bonito com Adam Driver e mostra, novamente, que é uma grande atriz, cheia de nuances, também na interação com outros personagens. Saiorse Ronan, que já tem cinco indicações dos votantes, é o fio condutor das mulheres fortes de Greta Gerwig, mas sua vitória é improvável. Charlize Theron também ajuda a dignificar o fraco O Escândalo, mas sua atuação não é exatamente memorável. Renée Zellweger carrega o escorregadio Judy nas costas e exibe trejeitos da atriz com perfeição, entregando uma performance emotiva e consistente.

– Quem deveria ganhar: As performances mais fortes aqui são de Renée e Scarlett, cada uma dominando técnicas com maestria.

– Quem vai ganhar: Renée Zellweger, merecidamente, por incorporar a personagem título em Judy – Muito Além do Arco-Íris.

Ator (concorrem: Antonio Banderas por Dor e Glória, Leonardo DiCaprio por Era Uma Vez…em Hollywood, Adam Driver por História de um Casamento, Joaquin Phoenix por Coringa e Jonathan Pryce por Dois Papas)

– Quem pode ganhar: Antonio Banderas entrega muita sensibilidade como uma espécie de alterego de Almodóvar e sua menção mostra que os votantes ainda respiram por aparelhos ao considerar a arte. A consagração, diante dos outros candidatos, parece distante no entanto. Leonardo DiCaprio vive com afinco um astro em queda (a cena do chilique no trailer e o elogio e reação pela atriz mirim são ouro puro), e corre pelas beiradas, mas são beiradas íngremes neste caso. Adam Driver tem ótimos momentos como marido ególatra e perturbado e faz frente a Joaquin Phoenix, que carrega um filme fraco nas costas. Já Jonathan Pryce pegou a vaga de Adam Sandler e só cumpre tabela.

– Quem deve ganhar: Por eliminação, sobram Adam Driver e Joaquin Phoenix. Driver pode surpreender, mas aqui há o componente da reparação atrasada (e tardia). Tal qual DiCaprio em O Lobo de Wall Street, mas vencedor pelo esquecível O Regresso, Phoenix merecia ganhar por O Mestre, mas foi batido por um protocolar Daniel Day-Lewis em Lincoln.

– Quem vai ganhar: O prêmio vai para Joaquin Phoenix por Coringa.

Direção (concorrem: Martin Scorsese por O Irlandês, Todd Phillips por Coringa, Sam Mendes por 1917, Quentin Tarantino por Era Uma Vez…em HollywoodBong Joon Ho por Parasita)

– Quem pode ganhar: A presença de Todd Phillips é apenas uma piada. Alguém deve estar rindo, talvez ele. Scorsese fez o provável filme de sua vida, mas além de fazê-lo pela Netflix, expôs o que pensa dos filmes da Marvel. Ele está certo, mas tocar neste ponto é cutucar os poderosos chefes de estúdio. Sam Mendes vem forte por juntar um filme com cara de vencedor: há a história de sofrimento e conquista muito bem contada (principalmente visualmente), um clássico que funciona até hoje. Quentin Tarantino construiu um universo próprio, com vida, ainda que com certos problemas. Bong Joon Ho é o nome a ser batido, mas é mais fácil achar agulha no palheiro que os votantes premiarem um diretor estrangeiro (e que encara os conservadores nos discursos).

– Quem deveria ganhar: A disputa invisível seria entre Scorsese e Joon Ho, dois mestres que dão uma aula de cinema cada um a seu modo. Na visão da indústria, a peleja é entre Mendes e Tarantino.

– Quem vai ganhar: Sam Mendes, por 1917.

Filme (concorrem: Ford vs Ferrari, O Irlandês, Jojo Rabbit, Coringa, Adoráveis Mulheres,  História de um Casamento, 1917, Era Uma Vez…em Hollywood e Parasita)

– Quem pode ganhar:  Ford vs Ferrari, um faroeste disfarçado de corrida, foi lembrado para cumprir a cota dos nove.O Irlandês tem baixíssima probabilidade pelos motivos já escritos. Jojo Rabbit oxigena as engrenagens do cinema pela criatividade de seu diretor, e é ao mesmo tempo “vítima” por ser muito disruptivo. Coringa está aqui pelos números de bilheteria e só, Hollywood pode ignorar números altíssimos de bilheteria.História de Um Casamento é o mais divisivo entre os competidores, há quem ame e odeie. Adoráveis Mulheres é excelente, mas deve ser escanteado por Era Uma Vez…em Hollywood e 1917, novamente os competidores mais próximos da realidade da Academia. O filme de Mendes sai na frente de Tarantino pelo apuro técnico e um tema que mobiliza os votantes, fora o final revisionista e violento deEra Uma Vez…em Hollywood, que não foi unanimidade. No entanto, tal qual o caso Moonlight x La La Land em 2017, há uma chance forte deParasita ganhar e fazer história.

– Quem deveria ganhar: Você já sabe.

– Quem vai ganhar: 1917

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