‘After Life’ muda sutilmente – ainda bem
Série de Ricky Gervais segue explorando o luto com humor e sensibilidade
Na última sexta-feira (24), chegou ao catálogo da Netflix a segunda temporada de After Life: Vocês vão ter que me engolir, a mais recente série capitaneada pelo britânico Ricky Gervais. Nela, o repórter de um pequeno jornal continua vivendo seu luto, após perder a esposa Lisa (Kerry Godliman) para o câncer – por quem era perdidamente apaixonado.
Ao longo de apenas seis episódios de cerca de meia hora cada, Tony (Gervais) reaparece chafurdando na lama, apesar de todas as tentativas de seus amigos, especialmente na primeira temporada, de que ele se recupere logo. A aposta em manter a premissa da estreia pode causar desconforto nos mais apressados, que adoram uma “volta por cima”, mas que ignoram as flores que brotam do asfalto.
O protagonista mantém sua indelével rotina de consumir os filmes caseiros com imagens da esposa, alimentar sua cadela, ser ranzinza com os colegas de redação e visitar o pai (David Bradley), que sofre de demência, na casa de repouso. Um romance com a cuidadora Emma (Ashley Jensen) parece cada vez mais distante, ainda mais com um novo candidato melhor estruturado emocionalmente.
Um dos grandes méritos da produção britânica, contudo, é que apesar de ser uma comédia, aborda com responsabilidade temas tão sensíveis, como a depressão. Um momento sempre esperado de cada episódio é o encontro com Anne (Penelope Wilton), uma senhora também de luto, que o acompanha nos momentos de mais vulnerabilidade nas tardes em que vai ao cemitério. Os encontros no banco de madeira remetem ao belo “Minhas tardes com Margueritte” (2011), longa estrelado por Gérard Depardieu e Gisèle Casadesus. Ela é quase se coloca como uma analista. Por outro lado, para denunciar o ridículo, há, por exemplo, a atuação execrável do terapeuta vivido por Paul Kaye.
Já para os menos apressados, é possível perceber em cada detalhe as pequenas viradas de jogo, recheadas por uma trilha sonora saudosista e melancólica. Tony se surpreende em vários momentos ao perceber que, diante do pesar, conseguiu dar um passo adiante. Dando mais espaço ao restante do elenco, como ao cunhado Matt (Tom Basden), ao carteiro Pat (Joe Wilikinson) e à colega Sandy (Mandeep Dhilon), a trama ganha respiros pontuais e sugere a possibilidade de dias melhores, apesar da dor.
Avaliação: Ótimo