Exposição ‘Luz no Brasil’, sobre obra de Françoise Schein, entra nos últimos dias no Paço Imperial

 em artes

Até sábado, espectador pode conferir gratuitamente projeto que traz retrospectiva das obras da artista belga. Com o tema dos Direitos Humanos, intervenções de Schein ganhou os quatro continentes, mas Brasil ocupa lugar de destaque

 

A exposição Luz no Brasil entra nos seus últimos dias no Paço Imperial, na Praça XV, Centro do Rio. O projeto faz uma retrospectiva do trabalho da artista belga Françoise Schein e pode ser vista até sábado. Com a sua Associação Inscrire, ela desenvolve trabalhos artísticos-educativos com o tema dos Direitos Humanos em quatro continentes, mas o Brasil ocupa um lugar de destaque na sua trajetória.

Schein criou em nosso país dezenas de painéis de azulejos dedicados à difundir os Direitos Humanos. Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília receberam obras gigantescas feitas com a participação de estudantes, jovens e crianças, de comunidades menos favorecidas. Através do envolvimento na criação da obra artística, eles conheceram a Declaração Universal dos Direitos Humanos e, apoiados por um trabalho educativo, foram estimulados a pensar sobre o assunto e a relacioná-lo com as suas vidas.

O Rio de Janeiro é uma cidade que tem uma importância fundamental na trajetória de Schein. A exposição foi criada a quatro mãos por Françoise e sua filha carioca Lohana Schein, que assina a curadoria. A história das duas se entrelaça com as ações artística-educacionais de Françoise no Brasil e ilustra um dos primeiros painéis da exposição, que conta a emocionante história da adoção de Lohana. Para a menina preservar os laços com sua família, Françoise passou a vir todos os anos ao Rio. Françoise fundou, então, a Associação Inscrire Brasil, um braço da instituição criada anos antes e que tem como objetivo “Inscrever os Direitos Humanos nas Cidades do Mundo”. Na Inscrire Brasil, Françoise conta com uma equipe que acompanha todas as fases do projeto, formada por diversas profissionais, entre elas a arquiteta Rita Anderaos e a pedagoga Moema Quintanilha.

“Luz no Brasil é uma reinterpretação poética contemporânea dos direitos humanos fundamentais, proclamados há mais de dois séculos. Eles são responsabilidade de todos os cidadãos e devem ser respeitados pelas empresas e governos. O noticiário criminal do mês de maio deixa claro os avanços que ainda precisam ser feitos”, comenta o produtor Bertrand Dussauge, da KDB Partners.

Luz do Brasil conta a trajetória de Françoise Schein com fotos, textos, desenhos originais, imagens de diversas obras públicas no Brasil e no mundo, vídeos, esboços e peças da coleção pessoal da artista. Ganha destaque a obra da Estação da Luz, em São Paulo, a primeira intervenção artística participativa e pedagógica sobre Direitos Humanos em uma estação de metrô no país, que demorou dez anos para ser concluída e inspirou o título da exposição.

Os 16 painéis da Luz contam também a história de São Paulo, através de desenhos figurativos criados pela artista e painéis sobre os Direitos Humanos pintados por três mil alunos de escolas da periferia da cidade. Para criar os painéis históricos, a artista concebeu um alfabeto de centenas de pequenos desenhos serigrafados que podem ser vistos na exposição. Nesta última semana, o catálogo da exposição estará disponível para o público.

Os projetos do Vidigal, o primeiro no Brasil; da Estação Siqueira Campos, em Copacabana, o mais conhecido no Rio, que apresenta um mapa de 200 metros quadrados da região com letras dos Direitos Humanos e imagens da história da escravidão; a obra da estação de metrô da Galeria dos Estados, em Brasília, uma encomenda do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, um grande painel de 110 metros quadrados criado com a participação de mil jovens do Distrito Federal; obras em diversas cidades do mundo e mais de 20 instalações públicas participativas localizadas nas comunidades desfavorecidas da periferia do Rio, que fazem parte do projeto “Inscrever os Direitos Humanos em 1001 escolas”, revelam o caminho percorrido por Françoise e a Inscrire.

André Couto, Presidente da Associação Inscrire Brasil, ressalta que ‘a exposição Luz no Brasil se apresenta como um duplo farol’. “Uma ponta ilumina o percurso percorrido pela artista Françoise Schein, desde trabalhos ao redor do mundo aos realizados no Brasil, e a outra ponta ilumina o futuro, um futuro em que a inscrição dos Direitos Humanos e a plena Democracia dependem da ação de todos nós”.

“O trabalho que estamos a fazer, lenta mas seguramente, nas escolas brasileiras e noutras partes do mundo, é o alfabeto das competências para a vida e deve ser a primeira coisa a ser ensinada aos milhares de milhões de jovens estudantes de todo o mundo. Então, não será ensiná-lo de uma forma lúdica, criando obras de arte para o prazer da beleza para todos e por todos, a melhor maneira de fazê-lo?”, questiona Françoise Schein.

Sobre a artista

Françoise Schein nasceu na Bélgica, em 1953. Estudou Desenho Urbano na Universidade de Columbia, em Nova York, e Arquitetura, em Bruxelas. Estudou também arte com Robert Morris na NYU University. Desenvolve obras urbanas de grande porte a nível internacional na Europa, Estados Unidos, América do Sul e Oriente Médio. Há 30 anos Françoise dedica grande parte de seu trabalho à disseminação dos Direitos Humanos nas escolas e em bairros desfavorecidos. Em 1997, ela fundou a Associação Inscrire, uma ONG dedicada à divulgação dos conceitos de cidadania e Direitos Humanos através de obras inovadoras participativas.

Françoise acredita no vínculo estrutural entre delicadeza, bondade e beleza. Criou uma metodologia muito humana para a produção pedagógica das suas obras, envolvendo a participação de pessoas das mais diversas classes sociais. A sua metodologia artística usa frequentemente a cerâmica pois é fácil de usar e tem uma grande longevidade.

É sob as cidades, em suas estações de metrô, nos parques e nos muros que ela mostra o texto dos Direitos Humanos, de 1948, entremeado a imagens, textos filosóficos e literários e cartografias da cultura e da história local, produzidos com a participação ativa de pessoas do lugar.

Com a Associação Inscrire ou sozinha, Françoise Schein produziu um grande número de obras monumentais entre as quais estão as estações de metrô Concorde, sobre a revolução francesa, em Paris (1989-90); Saint Gilles, em Bruxelas (1992), sobre os Direitos Humanos e as fronteiras europeias; Parque, em Lisboa (1994), sobre os Direitos Humanos e os “descobrimentos portugueses pelo mundo na Idade Média”; Universitetet, em Estocolmo (1998), sobre os Direitos Humanos e questões ambientais mundiais; e a Westhafen, em Berlim (2000), sobre os Direitos Humanos e questões de migração de pessoas.

Desde 2000, começando pelo Rio de Janeiro e seguindo para vários países do mundo – Bélgica, França, Israel, Palestina, Alemanha, Inglaterra, Portugal, Espanha, Uruguai, Haiti – ela criou um projeto em crescimento permanente chamado “Escrever os Direitos Humanos nas escolas e nos muros das cidades”.

Em seus projetos artísticos individuais, Françoise trabalha com multimídia, esculturas, fotografias, desenhos, vídeos e livros de artista. Ela já expôs seus trabalhos e sua colaboração com a Inscrire em museus da Europa, Brasil e Estados Unidos.

SERVIÇO

Luz no Brasil

Paço Imperial (Praça XV de Novembro, 48 – Centro – Tel. 2215-2622) – Entrada franca

De 26 de fevereiro a 22 de maio de 2021

Terça a sábado, 12h às 17h

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