‘Cascavel’ ganha sua primeira montagem brasileira, em temporada virtual

 em artes

Peça é inspirada em histórias reais de abusos contra mulheres

Os canais nacionais que registram a violência contra a mulher receberam mais de 105 mil denúncias em 2020. Do total, 75,7 mil foram referentes a atos domésticos e familiares. Em vários países do mundo, esse tipo de violência se intensificou durante a pandemia, quando as vítimas se viram confinadas com seus agressores. Os dados recentes mostram a atualidade do espetáculo Cascavel, escrito pela inglesa Catrina McHugh, em 2015, para colocar em cena os horrores do feminicídio. Dirigida por Sérgio Ferrara, a peça ganha sua primeira montagem brasileira, a partir do dia 29/07 pela plataforma Sympla, com as atrizes Carol Cezar e Fernanda Heras, que expõem os diferentes tipos de abuso possíveis em um relacionamento. As sessões, de quinta a domingo a qualquer horário, exibirão uma gravação do espetáculo realizada em julho no Teatro Poeira, no Rio de Janeiro.

 O espetáculo acompanha Suzy (Fernanda Heras) e Jen (Carol Cezar), e suas conturbadas relações com James (interpretado pelas duas atrizes), um homem que cerca e controla as mulheres em sua vida. Como uma cobra traiçoeira, com um veneno potencialmente mortal, ele começa a destruir a vida de cada uma. Elas falam sobre como conheceram James, e a mudança de comportamento dele à medida em que o relacionamento avançava. Suas histórias são muito parecidas. Aos poucos, James começa a controlar Suzy e Jen, afastando-as do mundo e fazendo dele, e de seu comportamento repressor e agressivo, o centro da existência das duas.

Cascavel foi originalmente desenvolvida como parte de um programa de treinamento para aumentar a conscientização de policiais da cidade de Durham, no nordeste da Inglaterra, local onde as mulheres não tinham voz. A lei do Reino Unido foi alterada em 2015 para tornar o controle coercitivo em relacionamentos um crime. É a primeira vez que o espetáculo é montado fora da Grã-Bretanha. Sem linearidade, com cenas que intercalam o passado e o presente, o texto é construído a partir de depoimentos das duas personagens.

Carol Cezar e Fernanda Heras em cena | Foto: Enrique Espinosa

“A peça detalha o comportamento de James com Suzy e Jen, as manipulações que levam as personagens a viverem com dúvidas e inseguranças e o desfecho desses relacionamentos. É importante lembrar que a violência que uma mulher sofre não termina quando o agressor é preso ou afastado. Ela, muitas vezes, tem que lidar com as sequelas daquela agressão ainda por um longo período. A gente quer que as espectadoras possam olhar para aquelas cenas e sentirem que têm voz”, comenta arol Cezar.

Segundo a Lei Maria da Penha (Lei n° 11.340, de 7 de agosto de 2006), existem cinco tipos de violência doméstica e familiar contra a mulher: física, psicológica, moral, sexual e patrimonial. A história de Cascavel mostra ao público diferentes maneiras que essa violência pode se manifestar e como afeta a vida das duas personagens. “Além da violência física, há muitos outros tipos de abuso pelos quais a gente passa e só vai entender muito tempo depois. Os danos psicológicos são enormes. A sensação é de perda de autoestima e de que a nossa personalidade vai desaparecendo. Como ficam essas mulheres depois de passar por isso? Esse é um conflito universal”, acrescenta Fernanda Heras.

Este é o quarto espetáculo em que Fernanda e Carol dividem a cena. Já estiveram juntas em ‘A hora perigosa’ (2014), ‘A Serpente’ (2017/2018) e ‘Amor é química’ (2019). Pela primeira vez, a dupla, que também é responsável pela produção, trabalha com o premiado diretor e psicólogo Sérgio Ferrara. “Acho importante esse papel antropológico que o teatro também pode ter, de pesquisa de temas sociais. Tenho pensado muito no teatro como representação do indivíduo, da sociedade e da comunidade. Procuro textos que nos permitam refletir sobre a exclusão social para exercer também o meu papel de cidadão por meio do teatro”, comenta Ferrara. “Pelo lado artístico, Cascavel é uma peça muito instigante: tem uma carpintaria teatral ágil, o texto flui, a dramaturgia propõe um jogo teatral interessante, no qual as personagens podem viver várias facetas do que elas passaram. Acredito, assim como a autora Catrina McHugh, que a gente só vai conseguir mudar o mundo a partir das nossas histórias”, acrescenta o diretor.

Serviço – Cascavel

Temporada: 29 de julho a 22 de agosto

Dias e horários: Diariamente, a qualquer horário. Na estreia, a partir das 19h30.

Ingressos: Gratuitos, com contribuição solidária a partir de R$ 10

Link: https://www.sympla.com.br/produtor/cascavel

Tempo de duração: 50 minutos

Classificação etária: 14 anos

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