Digão Ribeiro estreia na direção na peça ‘Em busca da fama’: ‘Musicais têm o poder da mensagem direta’

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Artista, que já participou de séries e atuará em filme, selecionou atores da Zona Oeste e Baixada para espetáculo

A arte como motor de transformações político-sociais. É o que acredita Digão Ribeiro, ator, roteirista e diretor, que estreou no comando da peça ‘Em busca da fama‘, em cartaz até o dia 1 de setembro (domingo) no Teatro Arthur Azevedo, em Campo Grande, na Zona Oeste do Rio. Para a realização do espetáculo, baseado no seminal musical ‘Hairspray’, convocou atores da Zona Oeste e de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, todos parte da mesma companhia teatral, para atualizar seus diversos temas.

Nascido e criado na Cidade de Deus, Digão acredita na troca como fomento de potências individuais. Em entrevista à Pitaya Cultural, o artista conversou sobre a carreira, a estreia na direção e seus planos para o futuro. “Temos que falar sobre questões que queremos que sejam refletidas pela plateia”, diz.

Você participou do seriado ‘Sob Pressão’, da TV Globo. Como foi?

Foi muito especial, eu tive oportunidade de ter contato com atores que sou fã, de trabalhar e aprender ao mesmo tempo. Eles são muito generosos, gravamos em um orfanato, que tem um hospital desativado em cima. e aquele espaço se tornou nossa casa. Os episódios foram intensos. Um deles foi gravado em plano sequência e tivemos que ensaiar cada bloco, de quatro no total, um dia antes, então ensaiamos quatro dias seguidos, quatro madrugadas gravando. Foi um processo bem longo, uma troca bem intensa e um grande presente, pelo qual sou muito grato.

Pretende fazer mais projetos na TV ou pretende ir pela seara do teatro?

O teatro é minha casa, é sempre bom voltar pra casa. Os planos daqui para frente, porém, estão longe de casa. Essa peça foi uma maneira de comemorar o aniversário do grupo que eu faço parte, estamos junto há sete anos, comemorando 3 anos da Escola de Artes Grupo Pipa. Após a peça, estou indo primeiro para o audiovisual. Essa semana irei para São Paulo para gravar um filme chamado ‘Vale Night’. Vou ficar duas semanas e volto ao Rio para fazer mais trabalhos audiovisuais, têm umas séries que estão rolando legal…mas  é o que posso falar disso por enquanto.

O que te fez optar pela direção do ‘Em busca da fama?’

Quando eu estava no ensino médio, fiz curso de roteiro em uma aula de mídias. A partir daí, tive vontade de trabalhar na área e fiz faculdade de produção audiovisual. No meio do processo, também fiz um curso de teatro em Madureira e percebi que queria ficar na frente do palco, não atrás. Dessa forma, fui construindo minha carreira. Sempre gostei de escrever, tudo que escrevia era algo que eu queria falar. Se posso atuar e escrever, posso atuar falando das coisas que acredito. A escrita me permitiu escrever projetos, peças, monólogos, e trocar com meus amigos, com eles atuando e eu dando a ideia.

Quando você é a pessoa que cria, você idealiza aquilo de alguma forma. Lembro q teve uma vez escrevi um espetáculo e um amigo me disse: ‘Mas, Digão, isso é uma peça, porque está tudo aqui’. Achei que isso fez sentido e comecei a me arriscar nesse lado, da forma como idealizei. Quando uma peça passa para outro diretor, ela pode se perder, indo por outro caminho pensado pelo autor. Descobri essa potência, que é você poder encontrar um grupo que confia no seu trabalho e compartilha sua ideia. Me senti um poderoso, né? (risos) Poder escrever e dirigir é muito especial…e não quero tudo ao mesmo tempo, só quero poder escrever e dirigir.

Conte como foi a seleção do elenco, de atores da Zona Oeste e Baixada.

O nosso grupo é dessa localidade (Campo Grande), a gente se conheceu no (Teatro) Arthur Azevedo, num curso chamado ‘Reciclarte’. Lá, nós fomos nos aprimorando e começamos vendendo pipoca para produzir os espetáculos. Fomos fazendo e surgiu a vontade de nos especializarmos. Somos oito professores agora, fizemos faculdade de teatro e abrimos a Escola das Artes. A gente acabou tendo contato com muitos artistas, que nunca fizeram teatro. Nesse período de troca,  fomos convidando pessoas que passaram por nossa história nesses três anos.

E qual o motivo da escolha do ‘Em busca da fama’?

É uma adaptação de ‘Hairspray’, que tem muitas questões sociais. Mesmo em 1962, essas questões conversam com o nosso momento em 2019. Me deu vontade de falar sobre como essas coisas latentes se relacionam. Nós adaptamos, mas tentando gerar reflexões nessa comédia romântica que fala sobre diversos temas. Quando lemos, vimos que o musical falava sobre racismo, segregação, gordofobia, abuso de poder… então quisemos dar uma atualizada, uma repaginada para continuar tocando nessas questões.

E como está a recepção?

Está incrível, o teatro estava cheio na estreia (24 de agosto). O público está se identificando e conversando sobre o que queríamos falar, conseguiram captar a mensagem. Eles entendem as questões e abrem debate. Diversas vezes
nós chegamos ao fim e alguém comenta conosco: ‘Cara, estamos pensando sobre aquela cena’ ou ‘ninguém esperava aquela intervenção’. São duas intervenções na peça. Existe um prólogo que fazemos fora do teatro, com os atores falando palavras de ordem, em cima das questões discutidas, pedindo igualdade racial. É um momento meio que mágico e todo mundo, atores e público, invade o teatro. Eles ficam reflexivos e comenta como é doido se verem ali lutando por algo que acreditam, mas que nunca pensaram em manifestar essa crença. A plateia se vê no meio da luta, sem perceber, mas apoiando. Estão, está realmente repercutindo bem e estou me sentindo muito realizado.

Pretende dirigir outros musicais?

Eu gosto, porque engloba música, dança, interpretação, como se fosse um combo de tudo. Não posso dizer que sempre vou querer dirigir musicais, mas meu próximo projeto, previsto daqui uns quatro meses, é fazer ‘Os saltimbancos’, que também será uma adaptação livre, de atualizar as questões que ela levanta e ver como as coisas se repetem, dizendo o que precisa ser dito. Diferente do ‘Em busca da fama’, que é um pouco mais preso ao ‘Hairspray’ por causa do texto, das músicas…’Os saltimbancos’ vai ser mais livre, já que a peça original tem cerca de 15, 20 minutos. Queremos fazer o público entrar nessas questões e os musicais a têm poder de atravessar, de trazer a mensagem direta. É a potência da sinestesia, envolver todos os sentidos das pessoas naquelas duas horas e fazê-las sentirem junto com a música e a dança.

Foto: William Cream / Divulgação

Serviço – ‘Em busca da fama’

Data: 31 de agosto (sábado) e 01 de setembro (domingo)

Local: Teatro Arthur Azevedo – Rua Vítor Alves, 454, Campo Grande

Horário: 17h

Ingresso: R$ 40 / R$ 20 (meia-entrada)

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