Ed Motta refina soul e jazz em novo disco

 em artes, música

‘Criterion of the senses’ mostra o cantor e compositor à vontade na formatação que abraçou desde 2013, quando começou a apurar suas influências de soul, jazz e funk

Ed Motta tem uma discografia ampla e já transitou por quase todo tipo de gênero musical em seus álbuns, desde o pop bem feito dos ‘Manuais práticos…’ e ‘Piquenique’ aos praticamente instrumentais e experimentais ‘Dwitza’ e Aystelum’. Desde 2013, no entanto’, Ed embarcou de vez na sonoridade e no significado de AOR. A sigla, que batizou seu disco daquele ano, quer dizer algo como ‘álbum orientado ao rock’ ou ‘rock orientado a adultos’. Na prática, as bandas identificadas por este nicho faziam discos muito bem gravados e de grande qualidade técnica, tocando com frequência nas rádios FMs dos Estados Unidos.

Toto, Boston, REO Speedwagon, Foreigner, Journey, Styx…o cardápio é grande. Aqui no Brasil temos como exemplo os discos produzidos pelo saudoso Lincoln Olivetti. Ed mergulhou em sua grandiosa coleção de LPs raros e trouxe bagagem para aquele disco e para ‘Perpetual Gateways’ (2016), este totalmente gravado em inglês e em estúdio lá fora, estreitou suas conexões com o jazz e o soul, sem abandonar a pegada voltada ao rock, iniciada em Chapter 9 (2009). ‘Criterion of the senses’ é, com justiça, o disco que mostra o cantor e compositor à vontade neste tipo de formatação.

Abrindo com ‘Last connection to Prague’ e seu refrão ganchudo, Ed mostra nesta e nas sete músicas seguintes, um intenso amálgama de bandas que ama (com a proeminência do Steely Dan e os discos ‘Aja’ e ‘The Royal Scam’) com a escola soul/funk que sempre seguiu e, nesse ponto, é notável como o músico está cantando cada vez melhor e especialmente bem neste disco. ‘Sweetest Berry’ é fortemente influenciada por Stevie Wonder e Quincy Jones e deve se firmar no repertório enquanto ‘Novice Never Notice’ brinca com as palavras, joga as dinâmicas para as guitarras e teclados misturando soul e funk padrão Motown sem soar clichê, com harmonias que não caem no senso comum.

Ed também nos lembra que é ótimo melodista e ritmista com ‘Your satisfaction is mine’, escolhida como primeiro single de ‘Criterion of the senses’. A música, a melhor do disco, é uma espécie de prima distante de seus grandes sucessos como ‘Manuel’, ‘Fora da lei’ e ‘Colombina’ e bastante influenciada por grupos como Earth, Wind & Fire e o próprio Steely Dan. A bem-humorada ‘The Required Dress Code’, com tempero latino, e a cadenciada e minimalista ‘The Tiki’s Broken There’ e seu solo de guitarra jazzístico apontam direções interessantes, ‘X1 in Test’ é puro AOR e o fecho com ‘Shoulder Pads’ aposta na força do rock, acenando para os pares citados no segundo parágrafo. ‘Criterion…’ não é exatamente revolucionário, mas expõe um Ed Motta mais refinado, que passeia com naturalidade em suas paletas sonoras.

Avaliação: ótimo

 

 

 

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