‘Flexões Performáticas: Gênero, Número e Grau’ apresenta e debate a arte de performance
Projeto traz a arte que envolve o corpo – que foi tema de polêmica ano passado – e busca democratizar apresentações performáticas através de debates e oficinas
Num momento em que o país vive uma onda de conservadorismo, uma exposição promete democratizar a arte de performance.Flexões Performáticas: Gênero, Número e Grauterá trabalhos performáticos inéditos de vários artistas noCentro Cultural Banco do Brasil de São Paulo, de 17 de novembro até abril de 2019. A entrada é gratuita e a classificação indicativa é para maiores de 18 anos.
Após a polêmica causada em torno da interação da coreógrafa Elisabeth Finger e sua filha com o premiado artistaWagner Schwartz, que estava nu em uma apresentação de performance no Museu de Arte Moderna de São Paulo, há pouco mais de um ano,Flexões Performáticassurge para desmistificar e esclarecer o público sobre o trabalho de arte de performance através das intervenções dos artistas, oficinas e palestras. E que a manifestação artística com o corpo não trata erotismo somente no sentido literal da palavra.
“A palavra erotismo pode significar muitas coisas. O que a gente luta é para que o contato humano, o olhar das pessoas para o próprio corpo e o alheio seja livre, mas nosentido ético da liberdade. Conhecer o próprio corpo é uma ferramenta para o ser humano ter uma qualidade de vida muito maior. A arte pode ser uma ferramenta de autoconhecimento do próprio corpo, da própria história, para que o ser humano seja feliz em sua vida e habite melhor o mundo”, explicaLuana Aguiar, artista que trabalha com o corpo há 10 anos e é curadora do projeto.
Flexões Performáticasreforça a multiplicidade da arte de performance, que tem como linguagem o corpo e sua ligação com o espaço e outros corpos. A troca de experiências ao vivo é o principal objetivo dos artistas. Ao todo serão 12 performances, seis oficinas e seis bate-papos, que serão realizados com a curadora e os artistas.
“Esperamos mostrar mais sobre a linguagem da performance para um público maior, além do circuito independente. A ideia de colocar no CCBB de São Paulo é atingir um público que acha que a arte performática é uma linguagem hermética (difícil). Queremos desmistificar isso, mostrar que são linguagens acessíveis”, esclarece Luana.
O projeto atua em três eixos conceituais – Gênero, Número e Grau, que caracteriza o tipo de performance. No eixoGêneroterão trabalhos que problematizam as noções de gênero na atualidade: o feminino, o masculino, o LGBTQ+. O eixoNúmerofalará sobre as noções de corpo individual e corpo coletivo, trazendo à tona as ideias de público e privado, singular e plural. Já no eixoGraua noção de intensidade se mostrará presente nas performances, fazendo um contraponto entre trabalhos extremamente sutis ou aqueles mais radicais.
O projeto terá a participação de artistas visuais renomados Alex Hamburger, Carlos Mélo, Daniela Mattos, Elilson, Jaqueline Vasconcellos, Maíra Vaz Valente, Pedro Galiza, Roberta Barros, Rubiane Maia, Sara/Elton Panamby, Suelen Calonga e Victor de La Rocque.Luana Aguiar, curadora do projeto, é pesquisadora, mestre e doutoranda em Linguagens Visuais pela Escola de Belas Artes (EBA) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).Flexões Performáticasfoi idealizado por ela e pela produtora culturalJanaína Santos.
Será um fim de semana por mês com performances aos sábados, seguidas de bate-papos com os artistas e a curadora do projeto. Nos domingos, uma oficina com um dos artistas que se apresentou no dia anterior será realizada. Além de falar sobre o trabalho apresentado, a ideia das oficinas é também contar um pouco da história da arte da performance no Brasil e desenvolver a percepção dos participantes.
“A gente espera que a galera que assistiu a performance no sábado também vá no domingo às oficinas. Já o bate-papo é um momento ideal para a gente apresentar o trabalho desses artistas, experimentar, não ficar somente no lugar de contemplação. É para experimentar na prática”, espera Luana.
Neste primeiro fim de semana (17 e 18 de novembro) haverá a apresentação das artistasDaniela Mattos eRoberta Barros (RJ). A programação do projeto você acompanha emhttps://www.facebook.com/flexoes.performaticas
Vídeo: Roberta Barros fala sobre sua apresentação em ‘Flexões Performáticas’
Contrapartida social em escolas públicas
A curadora Luana Aguiar ministrará palestras com o tema “O corpo nas artes visuais, ontem e hoje”, em escolas de ensino médio. O objetivo é levar aos estudantes e professores de instituições públicas conhecimento, estimular a valorização, apreciação e respeito às manifestações artísticas promovidas pelo projeto.
“Sou professora de história da arte e uma das contrapartidas é dar palestras sobre a arte que envolve o corpo, a representação. A ideia é formar um público, levando para a escola a arte de performance. Há um déficit grande de ensino da arte nas escolas e nossa proposta é levantar, em uma linguagem totalmente apropriada, questões do corpo na história da arte”, diz Luana.
A artista reconhece o momento delicado que vive o país, com uma patrulha moral e uma onda de conservadorismo, mas acredita que a abordagem proposta pelo projeto visa quebrar barreiras. “Tem classificação para maiores de 18 anos, e estamos trabalhando com muito diálogo e transparência. O bom astral é um ótimo remédio para questões negativas nesse sentido”, acredita.