No backstage com Terno Rei

 em artes, música

Em um sábado especialmente abafado no Rio, Ale Sater, vocalista e baixista do Terno Rei, sorri após o fim do show da banda em um festival de uma marca de calçados. “Tivemos pouco tempo para passar o som, mas o show foi muito bom, a recepção da galera surpreendeu”, conta, vestindo camiseta vermelha, shorts e um chinelo com meias da marca. Pouco antes de subirmos ao camarim, Ale fora abordado por Chacal, um dos rappers mais antigos da cena carioca. “Gostei muito do que vocês fizeram ali. Parabéns”, resumiu o veterano. “Massa, muito obrigado”, devolveu Ale, em um sorriso tanto tímido quanto agradecido.

Luis Cardoso, baterista, se junta a nós enquanto subimos uma escada de madeira íngreme, que nos deixa em um retângulo de plástico e metal — o camarim que o grupo dividiu com o Raça, contemporânea de cidade e som. Gregui Vinha e Bruno Rodrigues, que comandam as guitarras e sintetizadores, chegam e perguntam do barulho nos arredores: há muita gente circulando por ali, entre produtores do evento, amigos e pessoas que trabalham no selo. Ajustes feitos, Sapoti Cultural conversou rapidamente (e fizemos uma foto) com Terno Rei sobre o show, disco novo, público e, claro, música.

Queria que vocês falassem sobre o processo de composição do novo disco? Tem produtor? Como estão as coisas?

Gregui Vinha: Assunto delicado…(ri)

Ale Sater: O que podemos dizer é que estamos muito empolgados com o material da pré-produção. Já temos uma boa quantidade de músicas e pensando em uma data para gravar e pensando em pessoa para produzir. Ou vamos produzir sozinhos ou com produtores de Curitiba. Do que posso falar, acho que é o disco que estou mais empolgado.

Bruno Rodrigues: Estamos meio que produzindo tudo sozinhos e vamos chamar um produtor para dar uma palavra final. É sempre bom uma cabeça de fora.

Luis Cardoso: …para arranjar algumas coisas, uns synths, dar uma força com os timbres, achar os timbres que a gente quer. E um bom produtor ou engenheiro de som vai ajudar a gente a chegar lá.

Gregui Vinha: A gente mora junto (aponta para Bruno) e ele tem bastante equipamento de gravação. E a gente conseguiu um estúdio, uma casa em que podemos ensaiar tranquilos, então está fluindo tudo muito bem. Fizemos músicas no Carnaval inteiro

Luis Cardoso: Estamos gravando tudo por canal, a pré-produção toda desse jeito. É o maior trampo, mas  serve para podermos ver mesmo o que queremos. Para podermos arranjar e tirar isso ou aquilo e conseguir o melhor. É isso mesmo? Então vamos lá gravar de verdade.

Gregui Vinha: Acho que é a primeira vez que estamos gravando certo, do jeito que a gente quer, com calma. Os outros discos [nota: a banda se formou em 2011 e tem dois álbuns oficiais, Vigília (2014) e Essa Noite Bateu Com Um Sonho (2016), além do EP Trem Leva Minhas Pernas (2015)] foram meio que no ‘susto’. A pré-produção não foi tão atenciosa quanto essa.

Luis Cardoso: E às vezes, sobre arranjo, você tem oito horas em um estúdio e fica na correria: ‘putz, que eu vou fazer?’…

Gregui Vinha: Você tem improvisos, sai apressado. Acaba dando certo, mas…

Bruno Cardoso: Dessa vez, queremos acertar em cheio.

Luis Cardoso: São duas gravações que vamos fazer. E vamos gravar mais músicas, umas 15.

Bruno Rodrigues: Se a pré ficar muito boa…

Luis Cardoso: (ri) não, não vai, não vai….

Bruno Rodrigues: (ri) A ideia é gravar umas 20 e pegar umas 12, 10 músicas…

Ale Sater: Gravar tudo e menos de 40 minutos (enfático).

Sobre a discografia: o Vigília, pelo menos pra mim, tem um clima mais soturno, as guitarras mais centradas. Em Esta Noite Bateu Com Um Sonho, o trabalho me parece mais solar, aberto. Nessa toada, podemos esperar um disco ainda mais solar?

(quase todos balançam a cabeça positivamente)

Ale Sater: Mais aberto, com certeza. Mas a mudança é tão suave quanto do Vigília para o Essa Noite….É uma mudança, mas não mudou a banda, sabe?

Bruno Rodrigues: Tem a nossa cara ainda ali, mas a gente tá querendo mesmo fazer uma coisa mais aberta. Mas ainda continua Terno Rei.

O que acharam do show de hoje?

Gregui Vinha: Foi legal, gostei. Foi bem emocionante.

Luis Cardoso: A vibe estava massa, mas o som [a banda teve problemas com os backings vocals feitos por Luis e Bruno e a guitarra de Greg]…

Gregui Vinha: Aconteceram esses probleminhas, mas a resposta do público foi muito boa.

Pretendem vir mais vezes este ano?

Luis Cardoso: É só chamar (risos)

Ale Sater: Queremos vir outra vez antes de fechar o disco. Depois de fechar, provavelmente devemos vir no outro ano.

Como é esse processo para vocês, que têm selo? Contato de produção ou na raça?

Bruno Rodrigues: Às vezes é bem na raça.

Ale Sater: Depende. Quem nos agencia e produz é a Balaclava, que é a nossa gravadora. Esse show foi intermediação por eles, mas a gente tem contatos no Sul, no Nordeste, Centro-Oeste…a menina da Valente Records…e quando é um show menor, como foi o do Motim (onde a banda tocou ano passado), a gente faz a ponte direto com o produtor.

Luis Cardoso: A ideia sempre é fechar dois, três show, para fazer valer a pena ir. Pagam a gasoba, rango e vambora.

E, quando rola, vocês ficam uma semana por aqui?

Luis Cardoso: A gente nunca conseguiu ficar esse tempo por aqui, porque todo mundo trabalha de segunda à sexta. Eu de segunda a sábado.

Gregui Vinha: É, todo mundo trabalha em outras áreas que não a música. Eu com design, Bruno tem uma marca e trabalhos juntos, Ale trabalha em uma marca de cosméticos e o Luis tem uma garagem de carros antigos.

Já dá para dizer qual foi o melhor show no Rio?

Bruno Rodrigues: Caxias, né? (olha para o resto da banda, todos sorriem)

Gregui Vinha: O de Caxias foi muito legal.

Ale Sater: A galera estava bem amarradona, foi bem especial.

Na Baixada Fluminense existe uma cena forte de rock e pessoas interessadas…

Gregui Vinha: Sentimos que tem uma cena bem forte por lá, também.

Luis Cardoso: A galera estava bem interessada, concentrada, vibrando.

Ale Sater: Quando tocamos no Motim a primeira vez foi bem fiasco…a gente veio num feriado e estava chovendo muito! Não colou quase ninguém…

Luis Cardoso: ….umas dez pessoas…

Ale Sater: …e a segunda vez foi bem legal, tinha até uma galera de Campos (empolgado), uma turma que viajou de ônibus para ver o show. E Campos é longe daqui.

Bruno Rodrigues: Campos do Jordão?

Ale Sater: (ri) Não, Campos aqui.

Campos dos Goytacazes. É outra cidade!

(risos)

Ale Sater: Paulistão, né?

Luis Cardoso: A gente sai de São Paulo, mas São Paulo não sai dele.

(risos)

O que vocês estão ouvindo?

Luis Cardoso: Uns rapão gringo…Porsches…bastante…

Ale Sater: Eu ouço bastante Gaz Coombes. O Porsches todo mundo gosta muito….

Luis Cardoso: Trap…

(todos) Trap!

Gregui Vinha: Eu escuto música o dia inteiro. Escuto tudo todo dia, muita coisa mesmo.

Ale Sater: Acho que o Beach Fossils novo ficou legal pra caramba…

Gregui Vinha: Ainda quero ouvir mais disso.

Tudo é influência pro disco novo?

Ale Sater: É, mas eu acho que composição sempre tem uma base inicial ali. Tem coisas novas que adicionam e você mesmo…o jeito que cada um toca…

Aproveitando o gancho, como é o processo de composição dentro da banda?

Gregui Vinha: Geralmente o Ale chega com uma música no violão. E aí a gente fica naquela ideia e vai gravando…

Luis Cardoso: ….usa beat. Mudamos as faixas…

Gregui Vinha: …voltamos pro synth…

Luis Cardoso: …vai meio que numa jam.

Gregui Vinha: Quando é algo meu, parto da guitarra, fica fazendo riffs

Bruno Rodrigues: Muita coisa sai em looping também.

Luis Cardoso: Usamos muito esse recurso. Vamos ‘loopando’, fazendo as ideias de base. E aí pulamos para uma ponte, por exemplo. E vamos construindo, a partir de um riff e uma música inteira.

Bruno Rodrigues: Raramente eu escrevo alguma coisa, mas 99% das letras são do Ale.

No fim da entrevista, Sater pergunta o que faríamos naquele dia, além de ver a banda Raça. Marco responde que iríamos ao show das bandas Biltre e Letrux. “Ahhh, Biltre aquela do ‘tipo Radiohead’, né?” [Essa música] Marco acena que sim. “Eu queria ser o Radiohead”, ri. No fundo, nós também.

Show Terno Rei no Festival Rider #daprafazer

A estrutura do Festival Rider #daprafazer, bem decente, ocupou a praça Alexandre Herculano e os arredores. O palco, montado em frente ao Real Gabinete Português de Literatura, receberia ainda Emicida convidando Dory de Oliveira, Yas Werneck e Áurea Semisria. Heavy Baile convidando a ÀTTØØXXÁ e DJs trazidos pelo Comuna. Pouco antes do Terno Rei começar no palco, alguns problemas no microfone do baterista Luis Cardoso e do guitarrista Gregui Vinha ameaçavam o andamento do show, que começou com ‘Depressão na Pista de Dança’.

Ultrapassados os problemas, a banda passeou por sua discografia, com destaque para o disco ‘Esta Noite Bateu Com Um Sonho’. O público, tímido no começo, e composto mais por fãs que curiosos reagiu bem ao dream pop de músicas como ‘Luz de Bem’, ‘Trem Leva Minhas Pernas’, ‘Sinais’, ‘Criança’ ‘Da Janela’, ‘Chegadas e Partidas’ e o fecho com ‘Litoral’ e seu riff viciante. Apesar do show ter deixado boas músicas de fora (‘Desconhecido’, ‘Circulares’), o grupo conseguiu condensar seu repertório, com direito a uma cover do Raça, e a apresentação seguiu em crescente. “Estamos nos divertindo muito, todos muito felizes aqui em cima. Queremos fazer um show bem bonito para vocês”, resumiu Ale Sater. Conseguiram.

Avaliação: muito bom

 

 

 

 

 

 

 

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