Teatro: ‘Favela 2 – A gente não desiste’ provoca risos e faz refletir sobre os problemas das comunidades

 em artes

Espetáculo musical em cartaz no Teatro Carlos Gomes retrata de forma divertida cotidiano e os problemas enfrentados por moradores, levando à reflexão sobre alguns fatores que causam marginalização das favelas e seus moradores

A peça musical “Favela 2 – A gente não desiste” retrata de forma divertida e musicada o cotidiano das comunidades e os problemas enfrentados por moradores delas. Apesar da risada provocada em vários momentos do espetáculo, o enredo e as situações causam reflexão nos espectadores. Encenada há mais de seis anos, a montagem se renovou e ganhou novas histórias com temas da atualidade. 

Na favela retratada, os moradores são ameaçados de ficarem sem casa com a iminente demolição da comunidade para dar lugar a uma estação de BRT. A trama mostra o jogo sujo arquitetado pelo chefe criminoso que atua na favela junto com o seu candidato a presidente da Associação de Moradores, um pastor antigo morador local, para ambos levarem vantagem na destruição dos barracos do conjunto.

Há várias histórias paralelas, típico da riqueza de uma favela, como a comemoração dos 100 anos de Dona Jurema, a “vizinha fofoqueira”; o pai de santo dono do boteco; a ascensão do pagodeiro Juvenal, que temnudesvazado e é preterido pela mãe em relação ao irmão, que ela acha que venceu na vida e mora nos EUA; as meninas solteiras da favela, taxadas como “periguetes”, mas que passam a mensagem do empoderamento feminino; os “irmãos” da igreja evangélica; a mulher que casou com um gringo e sua filha “bilíngue”, que vêm passar as férias na favela; e o ex-traficante que ficou cadeirante após levar um tiro, entre outros.

Entretanto, ganham destaque a grávida Meire, com seu jeito escrachado e o sofrimento que provoca no marido com seus inusitados desejos. Ela arranca muitas gargalhadas da plateia com suas ótimas faladas sustentadas por uma ótimas interpretação . Também tem o fiel Cadu, frequentador da igreja evangélica da comunidade e gay, responsável por uma das cenas mais divertidas de “Favela 2”.

O espetáculo também emociona, com personagens encontrando a si mesmo, reconciliações entre o pagodeiro Juvenal e sua mulher, além do desfecho trágico de Dona Jurema, morta baleada durante um tiroteio na favela.

“É morador! É preto… É pobre… É favelado… Não é bandido… É morador! É gente de bem… É gente do bem!”, grita Seu Zé, o pai de santo da favela ao encontrar dona Jurema caída e baleada.

O enredo da montagem visa não só entreter, mas também causar reflexão sobre alguns fatores que levam à marginalização das favelas e seus moradores, além da força de suas escolhas. O descaso do poder público, o preconceito e a guerra às drogas deixam comunidades inteiras invisíveis aos olhos da sociedade. O tema religião também é colocado em cena com a convivência de religiões de matriz africana e a evangélica na mesma favela.

“Nós não escolhemos morar na favela, mas escolhemos ficar nela. Aqui estão nossas raízes”, diz um dos personagens. A frase é uma síntese do orgulho de quem mora na favela e que, mesmo com todos os problemas, resiste e tenta fazer dela um lugar melhor.

Fiel Kadu, um dos personagens que fazem o público rir | Divulgação

Mesmo sem patrocínio e com limitações que transparecem durante os cerca de 90 minutos de peça, o recado é dado. O cenário também ajuda a retratar a favela em que os personagens vivem e os músicos que conduzem o ritmo nas intervenções musicais não comprometem. Vale a pena assistir!

O texto de “Favela 2” é de Rômulo Rodrigues e a direção de Márcio Vieira. O espetáculo está em cartaz no Teatro Carlos Gomes, na Praça Tiradentes, até  o dia 3 de fevereiro, de quinta a sábado às 19h e domingo 18h. Que quiser pagar R$ 15 é só colocar o nome na lista amiga através do email producaofavela@gmail.com

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