Carisma de Tom Hanks não segura fraquezas de ‘Relatos do Mundo’

 em cinema e tv

Filme tem trama fraca e discurso questionável

Tom Hanks, dono de dois Oscars de melhor ator e outros prêmios do cinema, virou sinônimo de confiança. Se a indústria quer um filme bem-sucedido nas bilheterias e/ou com forte carga dramática, as apostas seguras são no veterano de 64 anos. Mas nem o inegável carisma de Hanks segura o fiasco que é Relatos do Mundo, novo de Paul Grengrass (dos filmes de espião Bourne e Voo United 93). Na trama, ele vive o capitão Jefferson Kyle Kidd, veterano confederado da Guerra Civil americana que, após o fim do conflito, viaja de cidade a cidade no Sul dos EUA para ler notícias de jornais a plateias que se dispuserem a pagar.

Em uma de suas movimentações, Kidd encontra Johanna (Helena Zengel), uma menina branca que foi separada de sua família e criada por índios Kiowa. O militar decide tomar conta da garota enquanto segue desbravando o então perigoso território do pós-guerra. A rigor, essa relação de “pai e filha por acidente” já foi explorada diversas vezes por Hollywood, como no clássico Lua de Papel e, para ficar em produções recentes, a refilmagem deBravura Indômita. Geralmente, esses filmes narram uma história de amadurecimento/crescimento pessoal/cura para um ou ambos personagens, o que não acontece no roteiro de Grengrass e Luke Davies.

Nesta parábola atual sobre uma nação dividida que precisaria ser medicada, nada é bem resolvido. O cineasta, conhecido por seu ritmo frenético, pouco usa de suas tomadas clássicas. Em certos pontos de Relatos do Mundo, notadamente quando a dupla encontra três antagonistas, o filme cresce ao misturar a atmosfera de velho oeste e um suspense bem construído, mas passa ao largo de oferecer algo memorável (mesmo quando emula um plano de Rastros de Ódio). O terço final, agridoce por apresentar o que as escolhas de Kidd impactaram tremendamente em sua vida é arrastado e demora a engrenar.

Se Johanna é o próprio retrato da cisão que ocorre nos EUA, é de Kidd a tarefa de trazê-la ao mundo. Essa representação é viva quando fica claro que o militar, mesmo tendo lutado e talvez perpetrado muitos horrores durante o conflito com o exército da união, é contra a escravidão mesmo tendo lutado para defendê-la. No geral, o retrato de Hanks é de um narrador apolítico, talvez a famigerada presença que um país precise para se reerguer e toda a conversa fiada que surge desse senso comum. Se comparável com outros atores que deram vidas a personagens mais tridimensionais ainda que reprováveis, como John Wayne e Lee Marvin, o ator dá vida a algo oco.

No fim das contas, Relatos do Mundo parece sugerir que o que importa são histórias com paixões humanas, as políticas podem der deixadas de lado dependendo do cenário. Paul Grengrass faz uma grande celebração da hipocrisia, disfarçada de jornada de cura com pouquíssimas lições a se tirar.

Avaliação: Ruim

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