‘El Camino’, filme de ‘Breaking Bad’, é para completistas

 em cinema e tv

História que conta o destino de Jesse Pinkman deve agradar somente os fervorosos

Em cinco temporadas, Breaking Bad (2008-2013) ajudou a consolidar a chamada ‘Era de Ouro’ dos seriados. A trama, que conta como um professor de Química (Bryan Cranston) e seu ex-aluno (Aaron Paul) se tornaram os maiores fornecedores de metanfetamina dos Estados Unidos, é considerada uma das maiores produções audiovisuais de todos os tempos. Não sem razão: a história de Vince Gilligan foi marcante por seus episódios crus, ousados e com reviravoltas inteligentes e um rigor técnico que influencia seriados até hoje. De lá para cá, há o ótimo derivado Better Call Saul, que conta como o advogado Jimmy Mcgill (Bob Odenkirk) se tornou Saul Goodman, mas os fãs queriam saber o que aconteceu com Jesse Pinkman ao fim de BB.

El Camino, em cartaz na Netflix, começa onde a série termina. Jesse foge dos neonazistas pouco antes da morte de Walter White em um grito literal de desespero e alívio. O que Gilligan oferece, então, é o que todos esperavam ver, mas já estava contado há seis anos e era muito mais impactante que o resultado final. Roteirizado e dirigido pelo próprio, o filme mostra uma jornada clássica de redenção, com alguns conhecidos na trajetória do ex-traficante, que aparecem via flashbacks ou surgem como recurso para ajudar a ambientar a narrativa de pouco mais de 2h. Dito isto, não há lá muitas surpresas por aqui, mesmo para os mais devotos. Em alguns momentos, fica a sensação que tudo poderia ser resolvido em um formato de episódio clássico, com pouco mais de 40 minutos de duração.

Jesse precisa ficar fora dos holofotes da polícia e  um novo personagem vilão é inserido em um contexto um pouco forçado com o passado do rapaz. O soldador Neil (Scott MacArthur, em bom papel) ajudou Todd (Jesse Plemons, novamente excelente) e seus companheiros neonazistas com uma estrutura que ajudou a manter Jesse em cativeiro fabricando drogas para os bandidos. Uma nova situação, dessa vez mais plausível, coloca os dois frente a frente novamente e todo o resto de El Camino é baseado em outros contextos que ajudam a esclarecer (sem nunca enriquecer) o passado e a história de seu personagem principal, talvez a maior vítima das decisões e descaminhos de Walter White.

Nesse sentido, os flashbacks pelo menos são meras muletas para o roteiro, mas também não contribuem em nada para a originalidade da história. A sensação de morosidade só é dissipada levemente com a volta do personagem de Robert Forster, falecido na sexta-feira (11), data de lançamento do filme, que fornece identidade falsas e uma nova vida para seus clientes. Aaron Paul faz o que pode com seu tempo de pela, mas ganha apenas camadas superficiais. Pinkman continua terrivelmente ingênuo, uma alma de bom coração que foi quase destroçada por seu mentor, e aparentemente quer viver aos trancos com o pouco que lhe resta. Para os espectadores, o problema acontece aí: ninguém sabe se, ao término do filme, a nossa concepção sobre ele muda de fato ou tudo não passou de mera encheção.

No terço final, há uma cena particularmente inverossímil sobre a evolução de Jesse como um “herói”, que se vê em uma opção entre matar ou morrer e há uma homenagem de Gilligan ao faroeste que permeou sua obra original. Ademais, nem o conteúdo extra com outros personagens queridos acrescenta muito. Ao fim, tudo relembra um episódio bastante preguiçoso deBreaking Bad, que certamente deverá ser lembrado apenas por saudosistas. Este é o problema principal de El Camino: não se manter interessante e nem justificar a sua existência fora dos gordos cheques para seus realizadores e envolvidos, que deve trazer satisfação para seus fãs fervorosos.

Avaliação: Ruim

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