Fyre Festival: Fiasco no Caribe choca por revelar sucessão de absurdos
Em cartaz no Netflix, documentário mostra como um sociopata convenceu milhares de pessoas a embarcarem em uma furada
Fazer um festival de música é um trabalho hercúleo, que envolve o esforço de centenas ou milhares de pessoas para proporcionar uma experiência inesquecível ao público. Há muitas dificuldades em diversos setores, antes, durante e depois da realização de um evento como este, seja de qual porte for. Tais contratempos parecem não significar nada para Billy McFarland, um jovem empreendedor que tentou fazer o festival mais ambicioso da história e falhou miseravelmente. A história de como McFarland convenceu milhares de pessoas a embarcar em uma furada é contada no documentário Fyre Festival: Fiasco no Caribe.
Ao lado do rapper Ja Rule, o empresário montou uma equipe para construir uma ideia pra lá de ambiciosa: fazer um festival em uma ilha nas Bahamas que pertenceu ao traficante colombiano Pablo Escobar. As atrações seriam variadas, as acomodações luxuosas e a promessa seria marcar o mundo do entretenimento para sempre. No início, parecia que daria certo dada a alta procura para os ingressos — esgotados rapidamente. Mas as primeiras imagens de bastidores exibidas pelo diretor Chris Smith, do ótimo Jim e Andy, também em cartaz na Netflix, já mostram o óbvio. O Fyre Festival não vai acontecer da maneira que seu idealizadores planejaram. E a culpa é deles.
Misturando altas doses de oportunismo, grande investimento em marketing e muito, mas muito papo furado, Billy McFarland monta um time para colocar em prática algo que não daria certo desde o início. Quando o investidor e Ja Rule fazem um ‘reconhecimento’ da ilha já é possível vislumbrar a personalidade de McFarland. Fanfarrão, usuário de frases feitas e atitudes que remetem a uma palestra de coaching e, principalmente, mentiroso compulsivo, ele não mede esforços e dinheiro para construir e vender uma grande farsa. No meio do caminho, uma equipe inexperiente com sede de fazer história, enrolações em reuniões com acionistas e doses cavalares de falta de planejamento.
Algumas cenas de chegam a comover. Enquanto parte do time se vê às voltas com milhares de reveses em uma ilha distante, outros tentam salvar tudo por meios digitais e, claro, não conseguem. Os depoimentos de todos que foram lesados incomodam pela crueza por revelarem o caráter de McFarland. Tido por um mentor como ‘promissor’, o empresário é um sociopata de carteirinha (preste atenção no relato sobre o ‘passeio de carro’), que encontrou eco para seus desmandos no rapper por afinidade, nos investidores e clientes passados para trás e no poder que acha lhe pertencer . Nesse grande exercício de enganação, milhares foram prejudicados.
A cereja do bolo do documentário é quando o público chega à ilha onde aconteceria o festival e como McFarland agiu após a tragédia subsequente. A construção de expectativa (e desmoronamento) é habilmente moldada pelas cenas escolhidas por Smith, quase nada é fora do lugar — ainda que se peque pelo excesso de repetições e situações nas falas dos entrevistados, como se o filme se aproximasse de uma esquete repetitiva sobre um vilão caricato. Ao fim, Fyre Festival: Fiasco no Caribe impressiona pela crueza e suas consequências. É provável que nenhum outro festival gere tamanha repercussão e dor de cabeça.
Avaliação: Bom