Misterioso, “Unicórnio” conquista pela poesia e estética

 em artes, cinema e tv

Longa de Eduardo Nunes é inspirado em dois contos da escritora Hilda Hilst. Filme teve pré-estreia durante a Flip 2018

Adaptado dos contos Unicórnio Matamoros, da escritora Hilda Hilst, o filme Unicórniomostra o cotidiano de Maria (Bárbara Luz) e de sua mãe (Patrícia Pillar) após o pai (Zé Carlos Machado) sair de casa. A narrativa retrata diversos aspectos da obra hilstiana, como a sexualidade e a espiritualidade. Mas a característica mais presente é a natureza, que faz parte de quase todas as cenas do longa.

O filme divide-se em dois focos principais: de um lado, Maria e a mãe vivem juntas no campo, mas as duas têm a relação estremecida com a chegada do misterioso vizinho (Lee Taylor); de outro, há os diálogos entre a menina e o pai em um ambiente todo branco, que faz alusão a uma instituição de tratamento psiquiátrico. Neste segundo foco, há uma clara referência ao relacionamento de Hilda com seu pai, que era esquizofrênico e ficou internado ainda jovem.

Poético, Unicórnio destaca-se pela fotografia. O diretor Eduardo Nunes, que foi reconhecido por Sudoeste, preza por planos longos e pela estética. É um dos filmes brasileiros mais bonitos de 2018. A obra, que teve a pré-estreia durante a Festa Literária Internacional de Paraty (Flip 2018), foi selecionada para a edição deste ano do Festival de Berlim e integrou a mostra Generation.

No entanto, a escolha de valorizar planos longos e fotografias bonitas pode cansar os espectadores. Unicórnio quase não tem diálogos. Quando há falas, pouco acrescentam na narrativa e são vazias. Um exemplo é quando Maria ajuda a mãe a levar um balde com água para casa. Buscar água no poço já era uma rotina comum entre as duas, mas essa cena poderia ter sido cortada, já que não faz diferença no andamento do filme.

O público deve ainda ficar atento aos detalhes, ao que está implícito nas ações dos personagens. É um filme para quem já tem um conhecimento prévio da obra de Hilda Hilst. Caso contrário, os espectadores não vão conseguir captar as referências e o longa pode tornar-se cansativo.

Avaliação: Bom

Tijucana antes de ser carioca. Jornalista de profissão, não vive sem a dança nas horas vagas. É apaixonada por livros, música, arte de rua e exposições.

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