‘Nóis por Nóis’ traz realidade de jovens negros da periferia de Curitiba

 em cinema e tv

Filme conta a história de quatro amigos, Café, Mari, Japa e Gui, que tem suas vidas traçadas após uma festa de hip-hop. Longa mostra a urgência por políticas públicas e sociais para negros e favelados, alvos do preconceito e da repressão policial

 

Quarto longa-metragem do baiano-paranaense Aly Muritiba (do premiado Ferrugem), desta vez em parceria com Jandir Santin, Nóis por Nóis, faz um recorte da realidade vivida por jovens da periferia de Curitiba. Cru e direto, o filme mostra a urgência por políticas públicas e sociais para negros e favelados, alvos do preconceito e da repressão policial.

O filme conta a história de quatro amigos, Café (Matheus Correa), Mari (Ma Ry), Japa (Matheus Moura) e Gui (Maicon Douglas), que tem suas vidas traçadas após uma festa de hip-hop, organizada por Café. 

O sumiço de Café é o fio condutor da narrativa, que inclui violência policial, preconceito, tráfico de drogas e o poder das redes sociais como canal de voz dos jovens periféricos. 

Café (no centro) em cena de ‘Nóis por Nóis’ | Divulgação

Além dos focos citados, o filme possui outras camadas que são pautas de quem vive nas periferias do país, como a falta de oportunidades, gravidez na adolescência e a ausência da figura masculina na criação dos filhos.

O filme derrapa na proposta de levar imagens “cruas”, usando câmeras sem tripé, esbarrando em questões técnicas, que prejudicam em partes cruciais. Uma delas é na ambientação da festa de hip-hop, que tem cenas escuras e o som muito prejudicando, sendo quase impossível ouvir os personagens. 

O outra parte um pouco comprometida é em relação a interpretação. O núcleo jovem da trama é de “não-atores”, muitos deles da própria comunidade onde se passa o filme, Vila Sabará, a maior ocupação urbana de Curitiba. A aposta dos diretores deixa sem emoção algumas passagens da trama.

Mas é necessário ressaltar que isso não atrapalha a proposta de Muritiba e Santin, dando inclusive realismo a muitos diálogos típicos da periferia. Ma Ry, rapper na vida real e na ficção, entrega uma personagem fiel representando a mulher no rap e sua resistência, além dos dramas familiares e afetivos.

Outro que se destaca é Matheus Moura, o Japa, que vive um jovem envolvido no crime, mas fiel à amizade aos três amigos. Sua interpretação rendeu continuidade na carreira no cinema, sendo um dos protagonistas de “Alice Jr”, de Gil Baroni,também paranaense. 

Matheus Moura, o Japa de ‘Nóis por Nóis’ | Divulgação

O gran finale, impactante e com Emicida ao fundo cantando “Noiz” [ouça aqui!], soa contraditório ao colocar cenas reais dos protestos de junho de 2013. As manifestações da época acabam não se assemelhando aos dramas urgentes e reais daqueles jovens. 

Mesmo com os poréns, Nóis por Nóis traz temas necessários de serem debatidos sobre o que jovens pretos nas favelas não só de Curitiba, mas de todo o país, vivem diariamente. E que às vezes  a ação vence o medo. E muda tudo. 

O filme, exibido no Festival do Rio em 2019, estreou em março deste ano, mas foi prejudicado nas salas de cinema devido à pandemia do novo coronavírus. Ele está disponível em plataformas digitais Now, Vivo Play eOi Play.

Avaliação: Bom

 

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