‘Noite de Lobos’: thriller ‘existencial’ aborda paternidade e identidade

 em cinema e tv

Filme em cartaz na Netflix apresenta trama complexa, que demanda esforço e algum descolamento, e quase se perde em meio a múltiplas direções

Jeremy Saulnier não é conhecido do grande público, mas querido da crítica especializada de fora. Seus filmes, ‘Ruína Azul’ e ‘Sala Verde’, foram bem sucedidos pela combinação de boas histórias e ritmo. Em sua terceira produção de destaque, Saulnier segue a linha de thrillers ‘existenciais’ com ‘Noite de Lobos‘, sobre, principalmente, paternidade. O expert em lobos Russell Core (Jeffrey Wrigth) é chamado ao Alaska para resolver o desaparecimento de um garoto. A mãe da vítima, Medora Sloane (a ótima Ryley Cough), pede ao homem que traga o corpo do filho. Paralelamente o marido de Medora, Vernon (Alexander Skarsgard), retorna de uma missão no Afeganistão e tem de encarar a notícia.

Desde o primeiro frame, o filme mostra uma atmosfera sufocante, que se intensifica do meio para o fim. A busca de Russell e a revelação de que o casal não é bem o que aparenta ser, são o norte. As tramas ‘paralelas’, como a do xerife que sonha ter um filho (mas esbarra na idade), são bem conduzidas, mas ‘Noite com Lobos’ começa a derrapar neste ponto. Um interessante e aterrorizante tratado sobre paternidade e identidade, mas a falta de elementos de maior clareza quase arruína tudo. Há explosões de violência, típicas do cinema de Saulnier, mas as resoluções são quase herméticas.

A estranheza nunca deve ser encarada como algo ruim, mas ‘Noite de Lobos‘ quase se bifurca em três filmes diferentes. O casal central parece existir como mero símbolo da escuridão e instinto animal, apesar do bom trabalho dos atores. A cena do tiroteio, brilhantemente dirigida, é uma das sequências mais impactantes por sua visceralidade, mas ofusca o clímax. O fecho, a propósito, abre múltiplas interpretações, recaindo como algo agridoce — e ‘incompleto’. Algumas das cenas lembram a criatividade das produções anteriores de Saulnier e há uma ambição latente pela grandeza, que não alcança suas possibilidades.

No fim, as motivações dos personagens, todos eles, são mais difíceis de compreender ou aceitar. O diretor parece dizer que os humanos são movidos por instintos primais, sem muita relação com leis ou lógica (Russell é jogado para escanteio, sendo quase mera testemunha). A versão do cineasta sobre o tema é interessante por si só e o roteiro é promissor, mas acaba resultando em insatisfação. E básica.

Avaliação: regular

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