Nossos Mortos Têm Voz reexamina Chacina da Baixada

 em artes, cinema e tv, política

O documentário Nossos Mortos Têm Vozreexamina, com depoimentos e contextualizações, a maior chacina da Baixada Fluminense.No dia 31 de março de 2005, PMs assassinaram 29 pessoas em Nova Iguaçu e Queimados. O doc traz à tona o depoimento de mães e familiares de vítimas da violência com as histórias atravessadas por essas perdas. A produção resgata a memória das vidas interrompidas com uma visão crítica sobre a atuação do Estado através das polícias na região, abordando a atuação dos grupos de extermínio a partir da década de 50 e, mais recentemente,  das milícias —  analisando a violência de agentes contra jovens negros.

“O trabalho busca traduzir para a linguagem cinematográfica o grito das mães e familiares vítimas da violência na Baixada Fluminense, que lutam pela memória e justiça dos seus filhos e familiares. Queremos provocar inquietação nos agentes do Estado e nas suas instituições, mas sobretudo desejamos que o filme potencialize todo o empenho e militância das mães e familiares massacrados pelo Estado. Nossos Mortos têm Voz é um grito que expressa a dor das mães ao mesmo tempo em que as coloca como protagonistas na luta pelo direito à vida nas favelas e periferias do Brasil”, contam os diretores Fernando Sousa e Gabriel Barbosa.

O projeto foi concebido e realizado em 2017 a partir da parceria entre a Quiprocó Filmes, o Centro de Direitos Humanos da Diocese de Nova Iguaçu, o Fórum Grita Baixada e a Misereor. Ao longo de sete meses, do processo de pré-produção até a finalização, a equipe reuniu pessoas que foram direta e indiretamente afetadas pelos acontecimentos. Para Fernando, uma das etapas mais difíceis durante as filmagens era a captação dos depoimentos. Segundo o diretor, foi quase impossível não se comover com a fala das mães. ”É um tipo de coisa que não muda só o teu dia, muda a tua vida. É muito duro estar ali e sentir o sofrimento daquelas mulheres, a dor daqueles parentes, que estão ali dividindo suas histórias e expondo suas feridas mais profundas enquanto o que se percebe é a total ausência de medidas de reparação pra essas famílias por parte do poder público”.

Denúncias como instrumento

De acordo com a coordenadora do Centro de Direitos Humanos de Nova Iguaçu, a realização do filme tem por finalidade dar visibilidade e denunciar publicamente a realidade de violência e violações de direitos que a população da Baixada enfrenta cotidianamente, além da omissão dos governantes. “Com o filme, temos esperança que esse grito ecoe em todo o Estado do Rio, em todo o Brasil e chegue até as instâncias internacionais, de forma a pressionar o Estado brasileiro pelas atrocidades aqui vividas”, afirma Yolanda Florentino.

Adriano de Araujo, coordenador executivo do Fórum Grita Baixada, defende que Nossos Mortos têm Voz, ao jogar luz sobre a histórias de vida de mães e familiares, contribui para o surgimento de narrativas potentes e instigantes sobre lutos e lutas dessas mães da Baixada Fluminense. “Esperamos que o filme possibilite uma reflexão sobre essas vidas, tanto das que foram, quanto das que ficaram e as que virão”, concluiu.

Mães dão depoimentos sobre chacina que chocou o país | Luis Felipe Romano / Divulgação ”Nossos Mortos Têm Voz”

A pré estreia do documentário acontece no Cine Odeon, nesta terça-feira, às 18h30. Em seguida, o local promoverá um debate com a presença dos diretores, representantes do Fórum Grita Baixada, do Centro de Direitos Humanos de Nova Iguaçu e mães e familiares protagonistas do filme.

O Cine Odeon fica na Praça Floriano, nº 7 – Cinelândia.

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