Os melhores filmes de 2020

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Confira nossa lista dos melhores da sétima arte

Neste ano marcado pelo isolamento social por conta da pandemia da covid-19, os cinemas e os profissionais da área foram duramente atingidos. Muitos perderam empregos, alguns lugares foram fechados e, na outra ponta, estúdios também encararam o prejuízo. Em dezembro, cinemas reabriram em várias partes do país e serviços de streaming também mostraram a que vieram antes da flexibilização, com muitas estreias importantes nestas plataformas, algumas delas sérias concorrentes ao prêmio máximo de Hollywood em 2021.

Dentro desse contexto, esses serviços se fortaleceram. Algumas plataformas estrearam filmes que seriam exibidos no calendário de 2020. Séries de TV e webséries também ganharam espaço, conquistando novos fãs ou abrindo outras possibilidades de interação com os cinéfilos. Como não poderia deixar de ser, as produções mais marcantes tocaram em assuntos de extrema importância e nos colocaram reflexões para além deste quase “não-ano”.

Sem ordem de preferência, confira abaixo os melhores filmes de 2020:

A Assistente – Dir. Kitty Green

Neste 2020, muitos filmes que retratam relações abusivas marcaram os lançamentos cinematográficos. Necessárias e urgentes, essas produções retratam direta ou indiretamente relações de poder sobre mulheres, vítimas de machismo e sexismo, geralmente com uma metáfora permeando a história, como em O Homem Invisível e Swallow. Não é o caso de A Assistente. Aqui, Julia Garner (da ótima série Ozark) vive uma assistente de produção que sofre abusos de seu misterioso chefe. A atmosfera criada pela diretora Kitty Green é arrepiante e extremamente realista.

Destacamento Blood – Dir. Spike Lee

Após o excelente Infiltrado na Klan, que resenhamos por aqui, Spike Lee volta com Destacamento Blood. O ritmo do diretor é mais lento que seu último filme, mas a construção é igualmente forte, especialmente no terço final. Lee descreve a jornada de veteranos do Vietnã negros, que voltam ao país para buscar os restos mortais de deu comandante, um dos últimos papeis de Chadwick Boseman. A interação entre os atores é o ponto mais forte e a performance de Delroy Lindo em um monólogo denso direcionado aos espectadores deve valer um prêmio.

First Cow – Dir. Kelly Reichardt

A estreante Kelly Reichardt mostra vigor e estilo em First Cow (Primeira Vaca, em tradução livre), a história da amizade improvável de um cozinheiro chamado Cookie e um imigrante chinês em meio à exploração territorial dos Estados Unidos no século XIX. John Magaro e Orion Lee estão excelentes nos papeis principais, e o roteio não cai em clichês fáceis do gênero quando ambos descobrem um meio arriscado de tocar a vida e sobreviver. Nessa parábola sobre amizade e amor, o desenvolvimento é tão simples quanto preciso, o que prova a imensa qualidade do filme.

Martin Eden – Dir. Pietro Marcello

Baseado no romance do escritor Jack London, Pietro Marcello constrói a jornada de um homem cheio de contradições em Martin Eden. O personagem título, vivido com paixão por Luca Marinelli, é um marinheiro que vê na educação um caminho para o futuro. Em seu caminho, a paixão de duas mulheres e a política que permeava a Itália à época. Martin, na ambição de tornar-se um escritor e ser aceito (pela sociedade, por sua família e sua mulher), se vê preso em caminhos que podem arruiná-lo ou fazê-lo encontrar a redenção. Belo e implacável.

Não Estou Mais Aqui – Dir. Fernando Frías de la Parra

Nessa história de amadurecimento e perda de identidade, o diretor Fernando Frías de la Parra acompanha Ulisses (a escolha do nome é intencional, claro) vivendo com sua “gangue”, os Terkos, que se reúnem em festas temáticas com outros grupos para dançar uma versão mais lenta da cumbia. Quando o personagem se vê enredado em um assassinato de traficantes locais, precisa fugir para os Estados Unidos e recomeçar sua vida. De la Parra mostra as agruras de Ulisses sem filtros, construindo um filme poderoso e melancólico em Não Estou Mais Aqui.

Nunca, Raramente, Às Vezes, Sempre – Dir. Eliza Hittman

Uma adolescente de 17 anos suspeita que está grávida de um rapaz que a maltrata em seu colégio e vive em conflito com seu padastro e parte de sua família. Em outras mãos, Nunca, Raramente, Às Vezes, Sempre poderia se tornar um pastiche, mas Eliza Hittman desenvolve com carinho e dedicação o roteiro que escreveu. É a vida de uma garota se descobrindo em um mundo de homens e Eliza faz questão de lembrar aos espectadores seu ponto de vista, mas com um fundo de esperança. A clássica história de emancipação ganha novo significado.

Possessor – Dir. Brandon Cronenberg

Brandon Cronemberg, filho de David Cronemberg, mostra muito talento em sua estreia na direção e assinala que a influência de seu pai no chamado ‘horror corpóreo’ pode levar a caminhos interessantes no futuro. Em Possessor, uma assassina de aluguel toma os corpos de suas vítimas e assimila trejeitos, capturando o coração e a mente de seu alvo, para executar alvos sem deixar pistas. Seu novo “trabalho” será desafiador. Parece um thriller sanguinolento? Sim. Mas também um conto que mostra a crueza das relações de classe e a nossa relação com o eu.

Small Axe: Lovers Rock – Dir. Steve McQueen

A antologia de cinco filmes criada por Steve McQueen encontra seu ápice com Lovers Rock, um conto de amor e alegria entre dois amantes negros que se conhecem uma festa de reggae em Londres, no início dos anos 80. Este segundo capítulo de Small Axe é uma belíssima alegoria sobre o corpo e seus poderes, exemplificado em movimentos sensuais e festeiros. A habilidade de McQueen em criar momentos sublimes, e como eles acontecem muito mais que o porquê, se traduz em planos que beiram o sonho. O que vale (e entrega) muito mais é a experiência.

O Som do Silêncio – Dir. Darius Marder

Um baterista (o ótimo Riz Ahmed) de um duo de rock, capitaneado por sua namorada, de repente perde sua audição entre um show e outro e terá que seguir sua vida. Contar mais detalhes sobre O Som do Silêncio é estragar uma produção carregada de camadas sobre diversos aspectos das relações humanas em diferentes contextos. Neste filme delicado e bastante pungente, Darius Marder evidencia que talvez o que precisamos esteja justamente “escondido” (ou talvez esquecido) em momentos de contemplação e verdadeira conexão entre nós.

Você Não Estava Aqui – Dir. Ken Loach

Um dos últimos filmes que vimos antes da pandemia da covid-19 se alastrar no país, Você Não Estava Aqui é mais uma aula de Ken Loach, do indispensável Eu, Daniel Blake. Aqui, o diretor expõe a precariedade do trabalho humano no contexto da ‘uberização’ global, mostrando como um homem vai se perdendo à medida que abandona seus desejos e anseios em relação à sua família para cumprir as exigências de sua empresa — muito semelhante a uma certa companhia de um dos homens mais ricos do mundo. Um estrato cirúrgico e desolador de nossas relações.

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