Por que você deve ver ‘The Midnight Gospel’

 em cinema e tv

Animação em cartaz na Netflix versa com leveza sobre vida e morte

Nestes tempos de pandemia causada pelo novo coronavírus, com mais de 5 milhões de pessoas infectadas no mundo e centenas de milhares de mortos até o momento, é inevitável refletirmos sobre vida e morte. No mundo das artes, fazê-lo requer basntate tato, bom gosto e leveza. The Midnight Gospel, série animada em cartaz na Netflix, cumpre todos os requisitos. Em oito episódios curtos, os criadores Duncan TrussellPendleton Ward (de A Hora da Aventura) versam sobre os temas ao mostrar a jornada de Clancy pelo universo, um alienígena que visita outros mundos buscando entrevistas para seu ‘espaçocast’, e tenta entender os “mistérios da criação” no processo.

A experiência do comediante Trussell em seus podcasts com personalidades diversas e o escopo visual de Ward levou a série a ser erroneamente comparada com Rick e Morty, mas há pouca “loucura” em The Midnight Gospel. A abordagem aqui é mais pé no chão e se aproxima mais de um bate-papo ao mesmo tempo descontraído e reflexivo de um programa de entrevistas online. Nas entrevistas, Clancy e outros personagens abordam temas como magia, meditação, perdão, uso de drogas, existencialismo e, principalmente, sobre como ter uma visão positiva sobre a morte quando ela nos atinge direta ou indiretamente. O conteúdo não é inédito, mas a forma é bem criativa.

Corajosamente, os criadores jogam na roda uma verdade que nos é inescapável, ainda que esquecida constantemente: ninguém pode escapar do ciclo da vida. Nascemos, crescemos, às vezes reproduzimos e morremos. O episódio final, baseado em uma experiência do próprio Trussell com sua mãe, que perdeu uma batalha contra o câncer, é bastante didático nesse sentido, usando de muita profundidade. Clancy discute com sua entrevistada como lidar com a partida definitiva de um ente querido e a conversa se expande naturalmente para reflexões sobre o “milagre da vida”, o sofrimento de lidar com problemas e, finalmente, de encarar nossa finitude.

Não por coincidência, quando os personagens falam sobre morte, as sequências animadas são mais leves e serenas. Claro, The Midnight Gospel não é exatamente para crianças e talvez os temas sejam mais delicados para uns que para outros, mas Trussell e Ward se esforçam e não soam professorais. Clancy é apresentado como alguém um tanto descolado da realidade mas, conforme avançamos, descobrimos mais camadas e complexidades de sua personalidade. Como nós, ele é alguém com problemas que quer “apenas” descobrir seu propósito no universo, talvez a tarefa mais inglória para se buscar em vida.

Mesmo com o bom equilíbrio entre seriedade e alívio cômico, é necessário tempo para absorver as discussões, talvez mesmo revê-las. Ainda assim, não é uma experiência ruim de nenhuma maneira e pode ensinar uma coisa ou outra sobre como vamos (e para onde vamos, afinal). Como a própria cultura nos ensina: o que importa é a jornada, não o fim dela.

Avaliação: Muito bom

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