‘Resgate’ mira em ‘John Wick’ e acerta no vazio

 em cinema e tv

Longa em cartaz na Netflix tem boas coreografias de ação, mas história patina

Em 2014, um filme de ação estrelado porKeanu Reeves mudaria algumas convenções e se tornaria referência para vindouras produções do gênero.John Wick – De Volta ao Jogo trouxe cenas caprichadas de lutas e tiroteios, que ajudou a carreira de Reeves a ganhar novo fôlego e rendeu duas bem sucedidas (e boas) continuações. Resgate, filme estrelado por Chris Hemsworth (da franquia Thor da Marvel) sofre da ‘Síndrome de John Wick’: se por um lado há ótimas tomadas plásticas, a história deixa a desejar. Ao contrário da trilogia do assassino profissional, no entanto, o fiapo de roteiro basta e envolve o espectador, o que não acontece por aqui.

Hemsworth vive o mercenário Tyler Rake, assombrado por fantasmas do passado, cuja missão quase impossível é resgatar o filho de um barão das drogas da Índia, capturado por um traficante rival de Bangladesh. Nos primeiros minutos, Resgate cria uma boa tensão sobre o destino do adolescente Ovi Mahajan (Rudhraksh Jaiswal) entremeada a inspiradas coreografias, mas logo o roteiro de Joe Russo (um dos diretores de Vingadores: Ultimato) começa a patinar quando expõe precariamente a vida pregressa de Rake especialmente em suas interações com Gaspar, vivido por um David Harbour (Stranger Things) em modo automático, e com Mahajan.

O diretor Sam Hargrave, dublê que faz uma ponta como o mercenário ‘G’, faz o que pode em sua estreia. Sob seu comando, Hemsworth entrega uma performance digna, mas pouco inspirada e presa a alguns diálogos clichês e situações batidas em filmes de ação. As atuações, no geral, não comprometem e também não se destacam. No terço final, Resgate lembra a era de ouro dos filmes de ação oitentistas, quando o herói parece adquirir força sobrenatural e vai eliminando todos os obstáculos pelo caminho. Se a intenção foi homenagear, tanto Hargrave quanto Russo se embaralharam em referências pouco trabalhadas.

A violência pela violência é outro fator que depõe contra o filme. Em dado momento, Rake precisa dispensar uma pequena gangue de adolescentes que atiram contra ele e o resultado é constrangedor, sem acrescentar nada para o ritmo da história ao fim. Na verdade, tudo parece se aproximar mais de Chamas da Vingança que John Wick, mas sem o mínimo de profundidade do primeiro e nem o brilhantismo plástico do segundo. O que obtemos do personagem principal são apenas frases vazias que ganham certo sentido conforme sua afeição pela vítima cresce, ainda que sem motivos lógicos ou bem conduzidos que poderiam somar-se a apenas um videoclipe.

Pouco a pouco, algumas camadas absurdas surgem, como a subtrama do garoto que “quer se vingar” ou a de um general que trabalha para o bandido que, olha só!, é o melhor atirador de elite que você pode encontrar no mercado de Bangladesh. Nesse sentido, Resgate une a linguagem de clipe com a de videogame, onde novas caras parecem ser chefes de fase ou um novo “enigma” a ser superado. Apesar de suas poucas qualidades, há uma sequência anunciada (90 milhões de espectadores e contando não é pouca coisa) e Russo quer Hargrave e Hemsworth novamente. Resta saber se há bom material para entregar, já que este ficou devendo.

Avaliação: Regular

 

Comece a digitar e pressione Enter para pesquisar