Série ‘Pandemia’ é premonitória e ajuda a entender a luta contra o novo coronavírus
Documentário em seis episódios, disponível na Netflix, foi lançado em janeiro, dois meses antes da pandemia da Covid-19
A série documental Pandemia é premonitória, dado o surto mundial que vivemos com onovo coronavírus que já atingiu mais de um milhão de pessoas, passando de 50 mil mortes. A frase dita logo no primeiro episódio da produção da Netflix, que estreou em janeiro, dois meses antes da explosão da Covid-19 no mundo, reforça esse aviso: não se tratava de se teríamos uma pandemia, mas sim de quando ela surgiria.
Pandemia mostra o trabalho incansável de quem está na linha de frente no combate contra surtos em várias partes do mundo, focando em cidades da China, Congo, Índia, Egito e Estados Unidos. Esses países enfrentaram variadas doenças, como o vírus influenza (causador de vários tipos de gripe), coronavírus e ebola, e suas consequências nos últimos anos.
A série de seis episódios com média de 50 minutos cada aborda desde o trabalho de cientistas que tentam barrar o nascimento de uma doença em sua fonte, fazendo coletas em animais silvestres que podem espalhar determinados vírus, até profissionais de saúde que atuam em hospitais com pacientes infectados.
O receio de uma nova pandemia é explícito ao relembrar a gripe espanhola, que matou 50 milhões de pessoas em mais de século, um quarto da população mundial na época. A doença, que ganhou injustamente esse nome, teria sido espalhada por soldados americanos no fim da primeira grande guerra, em 1918.
A série destaca que hoje, com a fácil locomoção, um patógeno especial, como é chamado o vírus de “fácil contágio, alta letalidade, causa pânico e é difícil de tratar (sem tratamento ou cura definida)”, causaria estragos sem precedentes. Um país infectado e em dois meses pode estar no mundo inteiro, como ocorreu, por exemplo, com a Covid-19.
É mostrado o trabalho dos jovens cientistas Jake Glanville e Sarah Ives, que tentam desenvolver uma vacina universal contra todos os vírus influenza, dos já existentes até os que ainda podem surgir.
Também é narrada a dificuldade de se chegar a uma cura definitiva, já que os vírus sofrem a todo momento mutações e o remédio de hoje pode não ser mais útil amanhã, com o nascimento de uma nova linhagem do vírus.
Esses cientistas que tentam achar uma solução para a erradicação da gripe sofrem com a falta de incentivos do governo e buscam através de fundações privadas, como a do bilionário Bill Gates, capital para bancar suas pesquisas, além de tirarem do próprio bolso para os experimentos.
Eles acreditam que a vacina fique pronta em 2025. O que a série não mostra, pois foi filmada antes da atual pandemia, é que os pesquisadores da Distributed Bio trabalham em uma medicação com anticorpo que pode ajudar no combate ao novo coronavírus.
No Congo, a dificuldade das missões em frear o surto do ebola vai além de adotar medidas preventivas e de cuidados aos infectados: milícias locais espalham que o vírus foi trazido por americanos para matar os africanos e ameaçam os profissionais com ataques.
Mais uma vez, a desinformação é uma barreira para conter a doença, algo parecido com o que enfrentamos atualmente no Brasil, quando a Covid-19 é tratada como uma “gripezinha”.
Outro aspecto que demonstra essa desinformação são cidadãos americanos que formam um grande e poderoso grupo do movimento antivacina, que fez uma lei que obrigava crianças a serem vacinas ser derrubado no senado dos EUA. O sarampo, erradicado há décadas, é um dos resultados dessa catástrofe.
Enquanto quem pode não quer vacinar seus filhos, imigrantes sofrem para conseguir tratamento para a gripe e acesso à vacina, o que é negado pelo governo. Eles têm como aliados ONGs que atuam para garantir o direito universal à saúde e dar dignidade a essas pessoas.
A série documental também mostra a importância da fé e da família para quem está na linha de frente no combate dessa silenciosa pandemia. Uma médica (a única) que trabalha em um hospital do interior de Oklahoma enfrenta dificuldades como a falta de materiais e medicamentos para tratar pacientes com gripe. Uma crítica ao “privado” sistema de saúde americano que, como é mostrado, está em colapso em cidades pequenas.
Mesmo diante do cenário catastrófico apresentado, é possível ter esperança ao ver o trabalho incansável de cientistas e profissionais de saúde que atuam com suas pesquisas e no combate aos surtos epidemiológicos.
Um ponto negativo é a quantidade de episódios, que torna o documentário cansativo. Mesmo diante de tantos personagens em destaque, a série poderia ter ser dividida no máximo em quatro. Ainda assim, é bem explicativa e não dá nó na cabeça de leigos.
Na carona de ‘Pandemia’, indicamos também a série ‘Explicando’, que também “previu” o novo coronavírus, em seu sétimo episódio. “A próxima Pandemia”, de novembro de 2019, reuniu especialistas que falaram sobre os rumos da humanidade diante dos surtos de doenças.
Confira o trailer de Pandemia no link.
Avaliação: Muito bom